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Mantenha a calma, não há rinocerontes neste livro! (2017)

(200 págs. com 34 contos: Livro dos Unicórnios: A Criação; Estefânio depois da vagina; A verdade sobre os suicídios na UERJ; Do amor, da Morte; Uma história de três menininhas na Lapa; Cabeça de Baratas; Procurado No-El; Ô Floris, Florisbela; As três irmãs; Longa jornada estrada afora; Welcume à Yěshēng yīndào; O baile da menina triste; Admirável mundo velho; O julgamento; Lobo Mau; Novela mexicana; Ônibus vermelho de Marte; Ex-cadas de degraus; Deutschland Dancefloor Klub; Livro dos Unicórnios: do homem e da mulher; Naquele degrau, pisei nas costelas; Ninho da guerra; Cabaret Extraordinaire; Gigi Stradivarius contra o Salmonela; Nova Zelândia; Ela matou…; João e Maria; O traficante de Zô; Um homem chamado Jacó; Nunca aposte sua cabeça com a turca; O religioso; Tornei-me Shiva, destruidor de mundos; We’ll meet again some sunny day; Um dia ordinário na vida de Serginho Calabresa)

Contos de Fada Eróticos no Rio de Janeiro: O traficante de Zô - Parte II

Mais um episódio da série de Contos de Fada Eróticos no Rio de Janeiro. Começando com uma adaptação do Mágico de Oz. Essa série será publicada toda sexta à noite aqui no site! Comentários, declarações de amor eterno e orgasmos são sempre bem-vindos! Clique aqui para ler a parte I!

Obs.: Aviso para quem for fresco, o texto tem partes que podem ser consideradas pornográficas e violentas. 

Parte II

Nunca subira numa favela, nunca tivera nenhum interesse, nem sabia como chegar direito naquela famosa favela da periferia do centro, a do morro do Zô. Mas sente o cheiro do mijo e sabe que é pelas ruas infestadas dele que tem de seguir. Sua cabeça doe por uma ressaca que vem chegando. Não ficaria assim de ressaca só pela cerveja que bebeu, mas toda a tensão, todo o sangue, a violência, o deixaram desorientado. Tem fome, mas não tem dinheiro. Mas quem sabe, àquela hora sempre pode encontrar uma esquina com alguma van vendendo um salgado, quem sabe pode contar sua história – é... só do assalto -, e conseguir um salgado grátis. Vai seguindo por mais ruas alaranjadas tomadas de mijo, finalmente vê movimento, vê uma das vans que esperava pelo caminho e vai até ela. Olha desamparado, para as pessoas, olham-lhe estranho, vêem o sangue. O sangue do pivete, havia se esquecido disso. Desiste, segue em frente. E virando uma esquina onde parece seguir o cheiro, vê sua salvação, uma garota, sentada numa calçada sozinha com um salgado na mão. Pode dizer que se acidentou, usar um charme meio trágico e se alimentar. Quando chega perto dela, ela vira para ele, está com os olhos vermelhos de choro. “Sai, sai, não aguento mais!” “Eu... eu... sofri um acidente... é... o que houve? Por que você está chorando?” “Olha, me deixa em paz, eu não vou ficar com você, já não aguento mais, não sei quantos já me infernizaram hoje.” “Eu só quero saber como você, tá!” “Eu não sou burra, não me chama de burra!” “Eu não tô te chamando de burra! Caramba, acabei de sofrer um acidente, to desorientado, te vi com um salgado, preciso de algum sal no sangue!” “Não aguento mais essas cantadas baratas! Eu não sou burra, droga. Droga, droga, eu devo ser mesmo! Isso explica tudo, eu preciso de um cérebro! Vai lá fala, fala o quanto você me acha burra!” “É...”

Contos de Fada Eróticos no Rio de Janeiro: O traficante de Zô - Parte I

Bem-vindo a série de Contos de Fada Eróticos no Rio de Janeiro. Começando com uma adaptação do Mágico de Oz.

Obs.: Aviso para quem for fresco, o texto tem partes que podem ser consideradas pornográficas e violentas.

Num bar esquina da Riachuelo com a Lavradio, Dornélio vira o oitavo copo. Fica na cerveja, quer se embriagar, mas não quer arruinar a sua performance no fim da noite. Não tem o mínimo interesse de estar ali, não foi sua ideia, foi dela. Por ele, já estaria em sua cama nesse exato momento comendo ela. Mas não, ela quer aparentar que eles têm realmente uma relação, ela quer sair e beber com os amigos, falar, falar e falar. Não a suporta, não suporta sua voz, seu perfume, qualquer coisa que saia de sua boca, essa só é boa para uma coisa, chupar o seu pau e nada mais. Vive numa luta interior, de um lado, quer a ignorar, parar de atender seus telefonemas, parar de marcar encontros, por outro adora seu corpo, precisa devorá-lo, degustá-lo, digeri-lo. A Megera, como a chama para si próprio, é um acidente da natureza, chata, terrivelmente chata, porém linda, insuportavelmente linda. Linda boca, lindo decote. Sim, podia achar com facilidade outras para comer com certa freqüência, mas o mesmo não poderia ser dito sobre os seus peitos. Como poderia achar com tanta facilidade peitos enormes como aqueles, brancos como a neve, e ainda mais pertencentes a um corpo tão magro, fino, esbelto. Seios como aqueles são únicos. Que horror que para tê-los, tem de estar com ela. Aguentar todas as besteiras que saem de sua boca, para poder chupá-los, para poder meter forte naquele corpo magro, tão bem dotado. Sua bunda, outro destaque, branca, macia, pelo menos quando mete nela, ela só geme, geme e deixa de ser aquela chatice viva. E também tem suas mãos, na verdade, talvez nem sejam seus seios que espantem mais a Dornélio, são suas mãos. Como alguém daquele jeito pode ter mãos tão finas e delicadas. É um desperdício que ela só sirva para comer e nada mais.

A verdade sobre os suicídios na UERJ


Olá, estou trazendo aqui um texto de um amigo meu, um estudante de jornalismo da UERJ, Alessandro Carvalho. Faço direito lá, onde o conheci, e encontrei essas páginas aqui transcritas em sua mochila. Ele está morto agora. Foi encontrado há duas semanas com o crânio esmagado por uma pedra no estacionamento atrás do prédio de química. Não sei o quanto disso é real, mas acho que deveria ser conhecido. 

"Muitas pessoas conhecem o prédio principal da UERJ na rua São Francisco Xavier como o centro de suicídios do Rio de Janeiro. Se você quer se matar, a UERJ é seu destino. O prédio serve como um imã de sacrifícios humanos para a cidade. Você chega lá, pega um dos elevadores, torce para que ele chegue até em cima sem partir no caminho, sai, se desloca até um dos vãos abertos e se joga. Talvez acerte alguém no final, talvez acerte um carro, mas geralmente só o chão de concreto sofre com o impacto do seu crânio se espatifando contra ele. Geralmente são reportados de dez a quinze suicídios na UERJ por ano, e isso por boca-a-boca, pois nenhuma notícia jamais sai em algum jornal. É claro que esse é só o número dos que tem testemunhas, o verdadeiro número é muito maior, de trinta a quarenta pessoas se jogam de lá por ano, mas para saber disso você tem de ir por outras vias. Acredito que quando entrei na UERJ para cursar jornalismo no décimo andar, nem dos suicídios eu sabia. Agora, depois de ter tomado na oficina de reportagem do quinto período aquela estúpida decisão de estudar esses casos, temo ter aberto uma porta, que caso não custe só a minha sanidade, também possa levar a minha vida.

Algumas coisas às vezes só se mantêm escondidas porque ninguém está interessado em revirá-las. Porém, o que aquele idiota que toma coragem de revirá-las não sabe, é que depois que se faz, não há volta, e que se entrou num caminho a que cada nova descoberta leva só a mais novas perguntas, perguntas a lentamente tragar para o abismo. O número secreto de verdadeiros suicídios no prédio não era nem a ponta do iceberg. Quem é da UERJ também sabe das outras histórias, da má fama que as escadas que correm por cada corredor por trás de pesadas portas de metal tem. Alguns só ouviram de assaltos, outros de estupros, os mais curiosos talvez dos assassinatos. Quem conhece os funcionários do lugar, os faxineiros e os seguranças, talvez também tenha ouvido da má fama do turno da noite. É raro o segurança novato que após uma noite na UERJ não peça demissão no dia seguinte sem dar explicação alguma. E os que se mantêm nunca são os mesmos, são fechados, se isolam do resto, como se tivessem perdido sua humanidade. Isso é claro sem contar no próprio estado natural dos serventes do local, se você presta atenção o suficiente neles, logo notará que é uma coleção dos indivíduos mais peculiares, de aparências estranhas, de deformidades escondidas por trás de seus uniformes cinzas. Até esse ponto, tudo que chegava a mim era tolerável, até mesmo a suposta existência de cinco andares negativos no subterrâneo do prédio, porém isso tudo mudou quando comecei a coletar os relatos sobre a criatura. Mas não posso continuar sem antes falar do Professor Silvana.

Carlos Silvana foi um respeitado professor de história da UERJ, um doutor especialista na história do Rio de Janeiro, que também cometeu o erro de tomar para si o estudo do prédio e do local em que foi construído. Seus papéis nunca foram publicados, e até minhas mãos os tocarem, se mantiveram escondidos em partes abandonadas de uma biblioteca da UERJ. No verão de 1994, depois do que muitos descrevem como um comportamento paranóico, outros de quase insano, ele sumiu deste planeta sem deixar nenhum traço. Foram graças a seus estudos que descobri grande parte da história daquela parte da cidade em que foi construída a UERJ. Silvana conseguiu reunir relatos tão distantes quanto a vinda dos franceses e portugueses para essa terra. Especificamente nos papéis do padre jesuíta Augusti Sabatino, que pregou no engenho jesuíta ao qual o terreno da UERJ um dia foi parte. Sabatino relatou em muitos dos seus escritos as histórias dos índios sobre o lugar, além de sua própria experiência. E aqui vou tentar resumir o que esses dois homens conseguiram agregar sobre o lugar. 

Os índios que um dia habitaram essa terra, antes de com a chegada dos europeus, terem mudado de nome, se integrado e esquecido de sua cultura, comiam seus mortos. Não havia nada mais prazeroso do que comer alguém bravo com uma vida honrosa e digna, tanto de sua própria tribo, como um inimigo vencido de outra. Porém havia aqueles mortos indigestos, que quando vivos eram dados como párias pelos outros índios: criminosos, insanos, ou até xamãs que praticavam certas artes vista como proibidas e erradas pelos outros xamãs. Esses mortos, ninguém queria comer, ou sequer olhar, e assim eles eram enterrados. Porém, como esses lugares de enterro eram vistos como tomados pelo mal, pelos maus espíritos daqueles que os habitavam, geralmente eram cemitérios separados de tudo e de todos, em que geralmente as tribos se davam ao trabalho de fazer viagens de muitos dias e noites para se livrar daqueles corpos vistos como indignos. E um dos maiores cemitérios desse tipo tomava um terreno que hoje em dia está tomado pelo prédio da UERJ e por parte do Maracanã. Um local proibido cuja história foi ignorada pelos jesuítas que lá foram montar seu engenho. Decisão que iria lhes custar caro, quando chegaram aqui em 1579. Rapidamente, o terreno que foi dedicado a uma extensa plantação de jaqueiras foi tomado por rumores da população de índios recém convertida, como pertencente ao demônio. Rumores confirmados pelos próprios missionários quando os suicídios de alguns dos seus membros começaram. Primeiro os suicídios, depois a loucura. Foi ao redor da década de 1620 quando um missionário louco tacou fogo na plantação. A reação dos jesuítas foi construir uma igreja no lugar em que hoje em dia se encontra o pavilhão João Lira Filho da UERJ. E é nele que encontramos Sabatino pregando em 1683. Um ingênuo jesuíta que segundo o próprio relato foi despido de tudo menos sua fé na luta em que teve com o demônio dentro daquele prédio naquele ano. Luta que lhe deixou com metade do corpo queimado, além da igreja abandonada em ruínas. A mata eventualmente tomou o lugar, já que ninguém mais se atrevia chegar lá. E assim foi até a expulsão dos jesuítas.

O que era regra, virou lenda, e o que era lenda, virou rumor do povo. E ninguém da boa sociedade vai dar ouvidos ao rumor do povo. Assim, em 1856 foi inaugurado naquele mesmo terreno, pelo nosso primeiro grande pseudo-intelectual almofadinha, D. Pedro II, o Sanatório de São Francisco. O primeiro grande estabelecimento dessa categoria na America Latina, para receber seus pobres doentes mentais, como a própria prima do imperador, D. Rosa, a insana. O que resta de arquivos daquele respeitado estabelecimento, conhecido por afogar seus ocupantes no gelo, além de outras práticas de tortura, foi perdido no incêndio que tomou de vez o hospital público que havia se transformado com a proclamação da República. As ruínas desse hospital iriam eventualmente se tornar a Favela do Esquelo.

Notória por sua bandidagem, como o famoso Cara-de-Cavalo, na favela do Esqueleto é que encontraria as primeiras referências diretas a criatura. Muitos dizem que a razão de Vargas para escolher aquele lugar para a faculdade fora seu conhecimento sobre a criatura. Claro, que outros apontam para outras razões mais sinistras, como a necessidade para o próprio banho de sangue que foi remover a população local, que ainda irei de tratar. É desse período que Silvana encontra em um dos relatos de um de seus poucos sobreviventes, um que foi realmente “relocado” para a favela de Nova Holanda, atual Maré, descrições sobre a criatura. O Senhor X, como Silvana o chamava, diz que”

É isso, o resto da página está rasgado. Não sei que fim teve o caderno cujas essas páginas pertenciam. Não sei se devo realmente acreditar em tudo que li. Só sei que precisava dividir com o mundo essas palavras de meu amigo.  

Continua...

Acompanhe a investigação de um detetive de polícia a partir do artigo escrito pelo universitário assassinado, que buscava revelar toda a verdade sobre os assassinatos, suicídios e as aparições de uma terrível criatura na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, UERJ. Uma investigação que não só revelará os segredos macabros da universidade, como também da própria história do Rio de Janeiro, desde sua era colonial, passando a império, ao regime de Getúlio Vargas, até os dias atuais.

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Um dia na vida de Serginho Calabresa, governador da Fossa de Janeiro



8:35 Acordar. Sonho com índios. Queimo um na rua.
8:37 Escovar os dentes.
8:45 Cheirar cocaína.
9:00 Ligar para subintendente. Resolver problema do incêndio.
9:25 Café da manhã com suco de laranja, ovo, torradas e uma rodela de abacate.
9:45 Cheirar cocaína.
9:55 Suco de laranja.
10:00 Tomar banho e me vestir.
10:35 Pegar helicóptero para o Palácio.
10:55 Reunião com investidores alemãs.
11:17 Cheirar cocaína.
11:43 Reunião com o prefeito Dudu Pacífico e seus secretários.
12:05 Reunião privada com o Dudu, esporrar em seu cuzinho adorável.
12:24 Suco de laranja.
12:30 Cheirar cocaína.
12:37 Suco de laranja com vodka.


Nunca aposte sua cabeça com a turca

Seu pai estava morto, o que começara como uma simples disputa entre sete sapatarias rivais entre as ruas do Ouvidor, da Quitanda e do Mercado, acabara em seu assassinato. E agora, ele Cândido deveria tomar os negócios da famí­lia. Mas o que fazer quando agora para manter sua honra e a honra de sua famí­lia, deveria matar os dois filhos homens da famí­lia Almeida, aqueles que juraram trazer a ruí­na para sua famí­lia. Os dois miseráveis irmãos da bela Gabriela. Como mataria seus irmãos, sem ferir aquela que amava, e que também o amava? Deveria mentir. Candido tomou a única saí­da possí­vel, já que não podia a seu próprio punho confrontar os dois na rua e quebrar seus pescoços, recorreu a magia negra, a magia da velha turca Oja. Antes de conhecer sua amada Gabriela, a sobrinha da velha tinha sido sua amante, e desde que um dia, Oja pegou-o saindo do quarto de Maria, ela profetizou que conhecia sua alma de muitas andanças passadas e que não importe o que acontecesse, ele sempre poderia recorrer a ela.

UERJ


Olá, estou trazendo aqui um texto de um amigo meu, um estudante de jornalismo da UERJ, Alessandro Carvalho. Faço direito lá, onde o conheci, e encontrei essas páginas aqui transcritas em sua mochila. Ele está morto agora. Foi encontrado há duas semanas com o crânio esmagado por uma pedra no estacionamento atrás do prédio de química. Não sei o quanto disso é real, mas acho que deveria ser conhecido.
“Muitas pessoas conhecem o prédio principal da UERJ na rua São Francisco Xavier como o centro de suicídios do Rio de Janeiro. Se você quer se matar, a UERJ é seu destino. O prédio serve como um imã de sacrifícios humanos para a cidade. Você chega lá, pega um dos elevadores, torce para que ele chegue até em cima sem partir no caminho, sai, se desloca até um dos vãos abertos e se joga. Talvez acerte alguém no final, talvez acerte um carro, mas geralmente só o chão de concreto sofre com o impacto do seu crânio se espatifando contra ele. Geralmente são reportados de dez a quinze suicídios na UERJ por ano, e isso por boca-a-boca, pois nenhuma notícia jamais sai em algum jornal. É claro que esse é só o número dos que tem testemunhas, o verdadeiro número é muito maior, de trinta a quarenta pessoas se jogam de lá por ano, mas para saber disso você tem de ir por outras vias. Acredito que quando entrei na UERJ para cursar jornalismo no décimo andar, nem dos suicídios eu sabia. Agora, depois de ter tomado na oficina de reportagem do quinto período aquela estúpida decisão de estudar esses casos, temo ter aberto uma porta, que caso não custe só a minha sanidade, também possa levar a minha vida.

Divina Disneylândia

Parte do livro Cuca fodia.


Queria chegar ao topo, precisava chegar ao topo, podia ver o sol nascendo lá em cima, quando um selvagem Pluto se apresentou à minha frente, impedindo meu caminho. Por detrás de uma árvore foi então que apareceu Dante Alighieri, que me disse:

- Venha, venha, jovem artista, que por esse caminho não há passagem, venha comigo que assim te ensinarei a outra forma de chegar ao topo.

E dessa forma o segui, e logo estávamos a adentrar os portões da Disneylândia.             

- Por aqui teremos de atravessar os muitos parques temáticos para o seu objetivo alcançar, porém antes tenho uma pergunta por demais necessária de ser feita.

- Faça-a - disse a Dante.

- Então, ok, lhe entendo, ler toda a Divina Comédia é um trabalho árduo, mas pelo menos toda a minha página no wikipedia você poderia ter se dado o trabalho de acabar, não?

- É... até cogitei, mas no fim não achei necessário, pois pretendo acabar esse texto em menos de uma hora.

- Então, nem uma citação em italiano sequer vou fazer durante todo o nosso percurso?

- Espera...

- Una bellissima ragazza è il sole, una creatura straordinaria, uno che fa galoppare l'immaginazione – disse Dante sem razão alguma.

- Satisfeito?

- Uma citação minha, não do Marcello Mastroianni.

- É... vamos continuar a minha jornada!

- Mas nem a Disneylandia você sabe como é!

Guiado por Dante, adentramos o primeiro dos parques temáticos da Disney: uma cidade temática tomada por milhares de patetas apaixonados. Apaixonados, abandonados, apatetados.

-Amar é nunca ter e perder, amar é ter e mesmo assim perder, amar é lembrar e ser esquecido, amar é esquecer, mas sempre lembrar. Vamos interrogar um desses patetas, meu jovem amigo artista.

- Todos parecem diferentes, mas são tão iguais na sua patetice.

- Qualquer um serve. Ei, você aí, sim, você aí escrevendo essa carta, venha aqui!             

E o pateta veio.

- Sobre o que é a carta?

- Não entendo, pois amei com todas as nanopartículas do seu ser, e mesmo assim isso não foi o suficiente. É preferível a lama, a minha presença? Não sei, realmente não sei, pensei que sabia, mas não sei. E se só isso sabia, o que agora restou de mim? Não sei.

- É... bem patético, Dante.

- Sim, vamos seguir para o próximo.

Uma cidade depois de um arco-íris foi o que surgiu a nossa frente. Uma cidade colorida, tomada por ratos sorridentes. Logo ao adentrarmos-na, fomos cumprimentados por um sorridente Mickey Mouse.

- Olá amigos, tudo está perfeito hoje! Espero que estejam se divertindo!
           
- Por que você está tão feliz? - perguntou Dante.

- Hahahaha, por quê mais estaria, porque estou! Olhem como sorrio, é claro que estou feliz! Hahaha.

- Mas qual é a razão de tudo isso? - perguntei.

- Hahaha, porque estou feliz! Eu tenho de estar feliz, não? O que vocês querem, que eu esteja outra coisa? Do que me adiantaria estar outra coisa? Querem que eu esteja miserável? É isso? Por que alguém desejaria que alguém estivesse num estado miserável? Só porque nada na minha vida tem alguma importância e todo o significado foi destruído, esmigalhado na sarjeta? Vocês querem que eu fique chorando pelos cantos? Vire um alcoólatra? É isso? Pois podem ir muito bem atormentar outro rato, pois este aqui está feliz! Eu tenho de estar! Eu estou! Sim, sim, olhem como sorrio!

- Não quero sorrir como ele, vamos continuar. - disse a Dante.
            
Atravessamos uma ponte sobre um lago de chamas, pedaços de porcos boiavam na água pintada de vermelho, alguns pedaços como bocas ainda se moviam e gritavam:
            
- Nunca mais, nunca mais.
            
Uma minhoca se retorcia com tumores pelo caminho. Chegamos a Patópolis. Um Pato Donald revoltado andava enfurecido pela rua, quaquejando palavras irreconhecíveis. Dante enfiou a mão no bolso de sua manta e tirou uma moeda, depois com o dedo a atirou para o ar. A moeda subiu, depois caiu a nossa frente na calçada, despertando a atenção de um Tio Patinhas que até então não tínhamos notado.
            
- Uma moeda, uma preciosa moeda, será que caiu de minha bolsa de moedas? Hum... é de vocês? Que falta de atenção com seu dinheiro!
            
- É mesmo, que desastrado sou, obrigado por devolvê-la. Uma pergunta, você sabe qual o problema com aquele pato ali? - perguntou Dante.
            
- Hah... meu sobrinho, está revoltado pela pata que ele ama. Ela a cada dois segundos dá um ataque diferente, não sabendo o que quer da vida, e ele se afeta todo. Fica gritando que ela não o ama de verdade, que não sabe reconhecer seu valor, e depois soca as paredes. Esse meu sobrinho sempre teve problema com as patas. A primeira, outra maluca, sumiu um dia, lhe deixando uns três ovos de presente. Hah... e você acha que ele foi cuidar desses ovos? Não, deixou os três para mim. E pior, ainda hoje, ele mesmo só os chama de sobrinhos. Os três bastardos nem sabem que ele é o pai! Mas eu já aprendi a minha lição na vida. Já fui um jovem pato afobado como ele, me perdendo por rabos de saia que não valiam nada, não sabiam o que queriam da vida, e só causavam problema. Foi por isso que me entreguei as minhas belas moedas. Sabe como viver uma vida boa? Simples, só dependa de si mesmo para tudo. E só o dinheiro lhe dá essa possibilidade. Hah, me lembro da primeira vez que consegui encher um cofre de moedas de ouro, fui nadar nele e quebrei minha coluna. Acham que fiquei chorando? Não, substitui meus ossos pelo melhor adamantium. Sim, agora esse metal faz parte da nossa continuidade. O que o dinheiro não pode comprar?
            
- Mas mesmo assim, você nunca pensou em se apaixonar de novo, mesmo nessa sua nova condição autossuficiente? - perguntei.
            
- Ah... sim... é claro, sempre acreditei que com uma pata forte ao meu lado, me suportando em todos os meus objetivos, poderia me tornar muito mais rico. Mas acham que encontrei? As patas de hoje em dia estão sendo condicionadas a satisfazer muito mais a sociedade que qualquer outra coisa, se perdem num ego que não passa do ego criado pela sociedade para a sociedade e perdem a visão do todo. Nenhuma consegue conceber em suas imaginações o tipo de união para se sobrepor a todo o resto como eu imaginei. Mas querem saber quem é a pata da minha vida? Ela está aqui!
            
O Tio Patinhas tirou, então, uma moeda de seu bolso e mostrou numa das faces o contorno de uma pata. Seguimos para o próximo parque.
            
O caminho do parque começou a se desfazer e passou rapidamente para um amontoado de pedras soltas. Estávamos descendo, e tudo ao nosso redor se tornou um horizonte cinza de pedras. Dante seguia a minha frente, intrigado.
            
- É estranho, meu jovem amigo artista, deveríamos estar subindo, mas estamos descendo, e razão disto não sei por quê. Diga-me qual era sua pergunta inicial para estar subindo ao topo?
            
Ia responder a Dante, quando de repente lá embaixo no vale de pedras, surgiu por entre elas, um gigantesco Walt Disney, carregava em sua mão um cartunista, e prontamente lhe deu uma mordida arrancando metade de seu corpo. Depois, de olhos arregalados, sangue caindo de sua boca, virou para mim e para Dante, apontando com seu dedo indicador e disse:
            
- O homem é o pai dos deuses, dos demônios, de todos os caminhos. Torne-se um deus, ou siga ao abismo como um inseto – olhou o corpo do cartunista ao falar isso.
            
- Ó, grande Disney, que tudo sabe, que tudo vê, nosso amigo, este jovem artista, quer chegar ao topo, mas aparenta que só descer consegue fazer, como pode aconselhá-lo em seu caminho? – perguntou Dante.
            
- Não há caminho fixo para o topo, para lá chegar, é preciso você construir o seu próprio caminho, com o seu próprio significado, se esperas um caminho pronto, se esperar seguir o que já escreveram, só descera a pedreira. Olhe – e Disney apontou para um monte de pedras com uma abertura que parecia ser a entrada de uma caverna.
            
Da caverna, começou a vir uma cantoria.
            
“Eu vou, eu vou, para casa agora eu vou, parara-tim-bum, parara-tim-bum, ...”
            
E de lá saíram cantando os sete anões. Carregavam inchadas na mão direita e um saco na mão esquerda, jogado por cima do ombro, dentro de cada saco havia um bebê, ou dois, dependendo do anão. Lá vinham em nossa direção: Mestre, Zangado, Feliz, Soneca, Dengoso, Atchim e Dunga. Zangado trazia dois bebes em saco, duas meninas que não paravam de chorar.
            
- Ah, aquela maldita, - começou Zangado - teve filhos com todos nós, e depois fugiu com um príncipe afeminado, nos deixando a cuidar das crianças. É isso o que acontece quando você se deixa ser enganado pelas ilusões que aparecem a sua frente. Você se acha o herói, vê a mulher lá toda desamparada, maltratada por uma bruxa má, posta na rua, assediada por caçadores, leva ela para casa, cuida, da comida, dá banho. No início tudo maravilhas, só cantos, festas e orgias, aí começam a nascer as crianças. Um dia ela diz que tem de ir na esquina comprar uma maçã envenenada e nunca mais volta. Você fica lá, tendo de seguir o seu dia a dia, acordando cedo para minerar diamantes, mas agora tem também de cuidar de um monte de crianças.
            
Seguiram os sete anões a desaparecer no horizonte.
            
- Não quer acabar como eles, quer? – falou Disney.
            
- Não, mas ainda não sei como construir o caminho para esse topo – respondi.
            
- Hum... – disse antes de engolir por vez os restos do cartunista em sua mão. - Poderia lhe ajudar, mas... mas... não, não. Isso não sairia grátis, nunca se deve dar nada grátis, senão não seria apreciado. Porém, não vejo nada que alguém como você possa oferecer. Pois, eu, o grande Walt Disney, a tudo tem, a tudo possuí. Então, estás perdido!
            
- Espere! – exclamou Dante, e veio cochichar em meu ouvido.
            
- É... – comecei – Posso lhe garantir, em breve, Guerra nas Estrelas. Tenho uns contatos.
            
Quase imediatamente ao momento que falei “Guerra nas Estrelas”, um grande sorriso se abriu na boca ensanguentada de Disney, e ele, abrindo seus braços para o ar, fez o céu antes negro, se tornar vermelho, um vento correu entre nós, flashes de raios começaram a bater sobre nossas cabeças, e por entre as pedras do vale começou a sair água, centenas de poças d’água, organizadas de forma paralela, surgiram ao seu redor, e delas emergiram hipopótamos a dançar bale.
            
- Assim você ganha minha atenção! – disse Disney.
            
- Então, ó grande e temido, Walt Disney, como podes ajudar a este jovem artista? – perguntou Dante.
            
Disney descendo suas mãos, as esfregou uma na outra, as esfregou com muita rapidez, até formar algo dentro delas, desceu-as até a nossa altura, revelando cinco cartunistas sul coreanos.
            
- Aqui está, eles são seus agora, e é tudo que você precisa para construir esse seu caminho – assim que acabou de falar, Disney se transformou em um tufão de vento sombrio, que atraiu todos os hipopótamos dançando bale para ele. Os hipopótamos giravam ao redor do tufão, enquanto esse diminuía até se tornar tão fino a sumir da realidade.
            
- É... o que vou fazer com cinco cartunistas sul coreanos? – perguntei a Dante.
            
- Isso é o que terás que descobrir por si só em seu caminho!
           
Continuamos a descer, sem ainda nenhuma direção certa, eu, Dante e agora também os cinco cartunistas sul coreanos.


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Livro dos Unicórnios: A Criação


No início não havia nada. E aí houve a batata. E aí houve aqueles que eram eternos: os unicórnios. E eram cinco unicórnios. E se chamavam Arakolyts, Jajatops, Hopuiyu, Gatueus e Raul-Chico. E os unicórnios adoravam a batata. E aí em sua adoração eles criaram a terra para que nela a batata se estabelecesse. E a terra foi criada e sobre ela a batata se estabeleceu. E aí em sua adoração viram que a batata precisava de luz para ser vista. E o céu foi criado e iluminou a batata. E muitas batatas se espalharam pela terra. E os unicórnios acharam pequena sua adoração sobre tantas batatas e decidiram que novos seres deveriam adorar as batatas. Continua...

O romance Meu ano sem ela!

Chopadas, festas na Lapa, apartamentos estranhos, fetiches sexuais em salas de aula isoladas, coalas a baforar a fumaça de um charuto, noites alcoolizadas, perdidas, de êxtase, de esperança, de desespero. A descida de um universitário pelo submundo de festas, sexo e álcool do Rio de Janeiro, após o termino com sua namorada. Uma vida de promiscuidade, a qual se entrega, sem saber se realmente ali quer estar. 

michaelJacksonia

Michael Jackson
Classificação morfossintática:
– [Michael Jackson] substantivo masc singular .
– [Michael Jackson] adjetivo masc singular .
Sinínimos: Jacko, Jacksoniano.
Antínimos: Joe Jackson, anti-jackson, Prince.
Palavras relacionadas: moonwalking, salvação, fim dos tempos, nova era, thriller, verdade, céus, terra do nunca, peter pan.
O termo Michael Jackson pode ser tanto usado para determinar a religião ao nosso único deus e salvador, o glorioso senhor Michael Jackson, quanto qualquer um de seus digní­ssimos adoradores, também conhecidos como jacksonianos.
  1. Cantei meus pecados para o nosso senhor Michael Jackson.
  2. Aquele Michael Jackson é um excelente jovem, desejo que ele faça um  bad com a minha filha.
  3. Eu beat it três vezes hoje com meus amigos Michael Jackson.
Seguem-se aqui trechos do livro Ao nosso amado por Rudá Castro, o teólogo brasileiro especializado no nosso senhor Michael Jackson.

Senhor Bologogofos e as Colegiais Japonesas

Quem não conhece o senhor Bologogofos? Figura internacional, escritor, ator, diplomata, guru sexual. Com sua grande cabeça triangular, quase do tamanho de um homem inteiro, com seus grandes olhos arregalados e larga boca, cheia de protuberantes dentes. Base papenta a subir se encurtando até o topo de sua cabeça, num chumaço de cabelos negros, estirados para todas as direções. E quem não poderia se esquecer dos seus grandes pés peludos, localizados logo abaixo do papo de seu pescoço, ou seus curtos braços, logo abaixo de suas grandes orelhas, a carregar suas gordas mãos. Sem mencionar, sua famosa calda, já retratada como sí­mbolo sexual em muitas capas de revistas por todo o mundo.
Quem não já ouviu alguma de suas grandes aventuras? Seu famoso caso com Marilyn Monroe e os boatos de um filho não reconhecido; como lutou contra os nazistas entre as ruí­nas de civilizações antigas na américa latina, impedindo a entrada deles no comércio de rapaduras; seus três víos a lua e a raça de pequenos homens cinzas de grandes genitálias que trouxe de lá; sua secreta peregrinação a Meca e o roubo do crânio de Maomé; seus quinze anos de reclusão nas matas vietnamitas com sua então filha adotiva Mei Ling e depois amante; ou o extenso processo contra Bill Gates que o levou a ruí­na financeira. Talvez os mais jovens não o conheçam, mas com certeza já ouviram em alguma remixagem pop alguma de suas famosas composições.

Ônibus Vermelho de Marte


Epitácio sentou no banco do ponto a espera do ônibus vermelho de Marte. Encontrava-se adiantado, o ônibus só passaria em trinta minutos. Sabia disso ao sair de casa, e o fizera exatamente por isso, porque precisava sair. Sua mulher estava dando ataques mais uma vez, nem sabia mais o porquê, foram tantas vezes. Só que no jantar discutiram algo, e ele venceu o argumento, e isso foi o necessário para ela passar à noite muda, virada para o lado oposto a ele e depois, de manhã, acordá-lo com um empurrão para o chão. Teve de fazer o café da manhã com alguém de cara emburrada sentada na cadeira da cozinha. Estranhamente, ele aturava tudo isso porque a amava. Sim, era insuportável, mas quando estava feliz, ela o fazia se sentir como nenhuma outra mulher podia. E podem ter certeza, na sua profissão de sapateiro, mulheres é o que não faltavam em sua vida. Mas então, lá estava Epitácio a esperar o ônibus vermelho de Marte, quando veio a Morte e sentou ao seu lado. Não era uma morte clássica de capuz, lembrava mais uma de quadrinhos dos anos 90. Não, não a de Neil Gaiman, mas sim uma que mais parecia uma atriz peituda de Baywatch, usando pouca roupa, mas com a pele branca, bem longe de uma vida de praia.

O espírito do natal

Era uma vez um garoto que acreditava no verdadeiro espírito do natal.  Sabia que não se tratava de uma data como os adultos a consideravam: um dia para pessoas sozinhas e tristes se juntarem e se empaturrarem afim de apagar com a comida seu eterno vazio.  A verdade do natal estava nos presentes que ganhava, esse sim era o espírito do natal. Papai Noel, sabendo o quanto se esforçara no ano para ser o melhor de si, lhe traria tudo que pedisse. Não, não importava o que aquela criatura feita de tudo que é mau, vergonhoso e desagradável no mundo tinha lhe dito, este ano não seria diferente. Mesmo assim, toda vez que falava em sua presença dos presentes que iria ganhar, lá estava aquela monstruosidade a convulsionar os vermes que habitavam o interior de sua face, e vomitar em deboche a mentira, que não, não iria haver natal naquele ano. Mentira odiosa, pois mesmo não tendo passado no seu curso de piano, tinha dado o melhor de si, e nada que sua mãe pudesse falar contra isso, poderia negar a pura verdade que conhecia em seu ser.

Livro dos Unicórnios: A Criação

No início não havia nada. E aí houve a batata. E aí houve aqueles que eram eternos: os unicórnios. E eram cinco unicórnios. E se chamavam Arakolyts, Jajatops, Hopuiyu, Gatueus e Raul-Chico. E os unicórnios adoravam a batata. E aí em sua adoração eles criaram a terra para que nela a batata se estabelecesse. E a terra foi criada e sobre ela a batata se estabeleceu. E aí em sua adoração viram que a batata precisava de luz para ser vista. E o céu foi criado e iluminou a batata. E muitas batatas se espalharam pela terra. E os unicórnios acharam pequena sua adoração sobre tantas batatas e decidiram que novos seres deveriam adorar as batatas. E Jajatops sodomizou Arakolyts. E de Arakolyts saíram muitos novos seres na imagem semelhança dos unicórnios. E esses novos seres andaram pela terra e adoraram as batatas. E por muito tempo houve paz e prosperidade no mundo, mas aí um dos unicórnios imagem semelhança dos cinco unicórnios pisou numa batata. E o ultraje se fez. E divisão sobre o destino desse unicórnio surgiu entre os cinco unicórnios.

Cabaret Extraordinaire

 
Vem chegando, vem chegando! Bem vindo ao Cabaret Extraordinaire! Feito com toda a humildade de um político turco, banhado no vermelho do sangue de pseudo-intelectuais franceses - tudo para obter seu nome chique. Um espetáculo extraordinário apresentando a você mulheres das mais exóticas de todos os tempos e gêneros! Veja a mulher de quatro braços! Pode ela mesmo masturbar quatro homens com total precisão? Veja a sereia! Com a parte peixe ou a parte humana você quer fazer sexo? Veja a mulher barbada! Lembrando o seu pai lenhador ao mesmo tempo que lhe dá prazer! Veja a Deborah Secco! Robô ou humano, pele ou plástico, qual será a verdade? Hoje trazendo a você um espetáculo especial com Norma-Lúcia, a mulher do século 23!

Zé Sarnento, Presidente de El Dourado

Zé Sarnento anda pelos corredores infinitos de seu palácio de cristal. A luz da lua atravessando as milhares de janelas ao seu redor, vem cobrir seu corpo nu, decorado unicamente por seu espalhafatoso bigode. Ele, inquieto, segura em sua mão uma taça de vinho, a qual bebe na espera do único amigo que lhe restou naquele miserável mundo. Àqueles que não saibam, Sarnento fora, ou melhor é, o trigésimo primeiro, e também, para falar a verdade, último, presidente da grande nação de El Dourado. Grande El Dourado, brilhando como um estrela para o mundo, a primeira potência quando se fala na exportação de almondegas” essas tão insubstituíveis gemas de ouro da culinária. Eleito por uma excelentíssima bactéria, que matou de indigestão o presidente eleito, ao qual havia se imposto como vice, graças a fotos do primeiro vestido de mulher, sendo espancado por um jovem tailandês. Sarnento havia desde então se mantido muito bem no poder, primeiro com uma reeleição – eleitores surrados, caixas de votação queimadas, congressistas comprados e um “tudo vai bem” na tevê - depois com outra - algumas revoltas mais facilmente contidas, mais uns trocados para os congressistas e mais “tudo vai bem” na telinha -, depois com um mandato vitalício - sentimento de impotência geral da população ainda consciente, panças cheias no Congresso e santificação na telona e no Vaticano -, e é claro, por fim, com as subsequentes reconstruções estruturais do seu corpo - ah, que milagre é a engenharia genética!

Bolinhos de Avelã com Mousse de Chocolate e Baunilha


(Parte integrante do livro Cuca Fodida)

           Gertrude estava apaixonada. Há quatro meses que toda manhã às 9 horas em ponto entrava na loja de bolinhos aquele homem alto e robusto que fazia suas pernas estremecerem e o sangue subir ao seu rosto. Usava um terno e um chapéu cinza, com um lenço vermelho no bolso do sobretudo. Abria sempre a porta da loja com delicadeza, fazendo o sino bater suavemente sobre a sua cabeça como se fosse uma música a anunciar sua chegada, dava exatos 3 passos como um rei até a caixa, a olhava com um olhar fixo, magnético, que a desequilibrava, em seguida dava-lhe com aquela sua voz forte um bom dia e produzia, através daqueles seus lábios firmes, o nome dela - o que a fazia estremecer ainda mais -, por fim, fazia o seu pedido. Inicialmente pedia um bolinho de nozes, mas com o tempo ela começou a sugerir-lhe outros gostos, até chegar ao que o encantou por completo: um bolinho de avelã com mousse de chocolate e baunilha. Depois de comprar, ele lhe dava um sorriso e partia de volta a sua vida encantada, a deixando ali a esperar a sua volta no dia seguinte.  

O urso, a escadaria e eu vou lá saber o que mais

Primeira Estação

O urso está a subir uma escadaria de madeira escura. Sobe, sobe, sobe, um infinito. Infinito raso e falho que se faz finito com o tempo. A completa escuridão o cerca com seu inebriante mistério e sua presença assustadora. Tão inebriante e assustadora que o urso pula e cai. Cai, cai, cai, uma imensidão. Não um infinito, porque ele cai para algum lugar. Algum lugar que não é nenhum lugar, mas não vamos falar disso agora. Cai para o laranja. Um sublime laranja que tudo toma, que tudo é. Um laranja que vibra com o espaço, fazendo-se em ondas, a aprofundar a existência tridimensionalmente. O urso está em um céu alaranjado de conforto, deslizando para baixo, eternamente, finitamente, calmamente, a chegar aos girassóis. Nadando em um mar de gigantescos girassóis que tudo são, pois tudo escondem. Deitado sobre todos, deitado sobre um, a olhar o céu que tapa a escuridão e esconde seus olhos. Não, não. Não os olhos dele, mas sim os olhos dela. Sim, dela. O urso só pensa nela. E pensando nela, arranca as pétalas do girassol, a perguntar quando novamente a verá. E quando um nunca se apresenta, só há mais uma vez espaço vazio a cair. “Eu te amo” “Eu te amo” “Eu te amo” “Onde estás?” Não, o urso não fala, mas de nada isso importa para que as frases se façam e que algumas dessas, só uma na verdade, pelo menos até agora, perguntas sejam. “Onde estás?” “Onde estás?” Mas não é ao urso a isso referente, é a escada, é a escuridão, é ao laranja, é ao conforto do deslizar no céu alaranjado, é aos girassóis que escondem. “Eu te amo” Não é a perda. É muito pior. É ao não conhecimento. É ao futuro não tido, ao presente não visto, ao passado repetido. Repetitivo, a repetir a repetição do vazio. Vazio, vazio, vazio, vazio. E o nada? Nada, nada, nada, nada. Cansei desses dois. Mas os miseráveis não estão a bater a minha porta? Não, pois já estão dentro, a acariciar a cabeça do urso, que deveria estar rosnado para afastá-los. Miseráveis, miserável. Oi! Tchau! Oi! Tchau! Oi! Tchau! Oi! Tchau! “Quem é ela?” Que se subam os degraus da escada para saber. Subimos então. O primeiro, o segundo, o terceiro, o quarto, o quinto, o sexto, cansei de falar mas continuo subindo. Não me acompanhe, acompanhe o urso que cai do girassol. Maldito laranja que está no céu e não na terra. “Já te disse que te amo!” “Oi.” “Onde estás?” Degraus, degraus, degraus. Cada um, cada vez maior; cada passo, cada vez mais alto; cada esforço, cada vez mais exaustivo; cada tropeço, cada vez mais sentido. “Não a vejo!” A água. Sim, a água. Quero nadar e não a degraus subir. Quero o laranja e nele ficar e não deslizar. “Quero você!” Ele a quer. Quero querer. Quero viver. E o urso onde ficou? O urso deslizou de volta para o início dos degraus. Este urso desorientado, maior do que todos, a rosnar sem sentido para todos os lados, a se esfregar na árvore, a caçar os peixes despercebidos que sobem o rio. Quero rosnar, quero me esfregar, quero caçar, mas desorientado não quero mais estar. Cansei da confusão. “Não a conheci, não é óbvio?” “Por que não a conheci?” “Por que a seus olhos não contemplei?” “E a sua boca?” “E a sua boca?” Não, na sua pele não nadou, nos seus olhos não trafegou, na sua boca não se afogou. “Arte?” Não existe arte. Não se iludam, isto não é arte. Nunca foi, nunca é, nunca será. “Se há arte, ela é arte!” Todo resto é piada. O urso que fique a rosnar. Ele ama ela. Ele não é o urso. Ele é a escada. “Não, eu não sou!” Sim, você é! “Pare!” Não paro! “Pare!” Não paro, porque sou eu, não entendes? “É você?” Talvez. “Oi” Tchau.