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Ônibus Vermelho de Marte


Epitácio sentou no banco do ponto a espera do ônibus vermelho de Marte. Encontrava-se adiantado, o ônibus só passaria em trinta minutos. Sabia disso ao sair de casa, e o fizera exatamente por isso, porque precisava sair. Sua mulher estava dando ataques mais uma vez, nem sabia mais o porquê, foram tantas vezes. Só que no jantar discutiram algo, e ele venceu o argumento, e isso foi o necessário para ela passar à noite muda, virada para o lado oposto a ele e depois, de manhã, acordá-lo com um empurrão para o chão. Teve de fazer o café da manhã com alguém de cara emburrada sentada na cadeira da cozinha. Estranhamente, ele aturava tudo isso porque a amava. Sim, era insuportável, mas quando estava feliz, ela o fazia se sentir como nenhuma outra mulher podia. E podem ter certeza, na sua profissão de sapateiro, mulheres é o que não faltavam em sua vida. Mas então, lá estava Epitácio a esperar o ônibus vermelho de Marte, quando veio a Morte e sentou ao seu lado. Não era uma morte clássica de capuz, lembrava mais uma de quadrinhos dos anos 90. Não, não a de Neil Gaiman, mas sim uma que mais parecia uma atriz peituda de Baywatch, usando pouca roupa, mas com a pele branca, bem longe de uma vida de praia.