Obs.: Aviso para quem for fresco, o texto tem partes que podem ser consideradas pornográficas e violentas.
Parte II
Nunca subira numa favela, nunca tivera nenhum interesse, nem sabia como chegar direito naquela famosa favela da periferia do centro, a do morro do Zô. Mas sente o cheiro do mijo e sabe que é pelas ruas infestadas dele que tem de seguir. Sua cabeça doe por uma ressaca que vem chegando. Não ficaria assim de ressaca só pela cerveja que bebeu, mas toda a tensão, todo o sangue, a violência, o deixaram desorientado. Tem fome, mas não tem dinheiro. Mas quem sabe, àquela hora sempre pode encontrar uma esquina com alguma van vendendo um salgado, quem sabe pode contar sua história – é... só do assalto -, e conseguir um salgado grátis. Vai seguindo por mais ruas alaranjadas tomadas de mijo, finalmente vê movimento, vê uma das vans que esperava pelo caminho e vai até ela. Olha desamparado, para as pessoas, olham-lhe estranho, vêem o sangue. O sangue do pivete, havia se esquecido disso. Desiste, segue em frente. E virando uma esquina onde parece seguir o cheiro, vê sua salvação, uma garota, sentada numa calçada sozinha com um salgado na mão. Pode dizer que se acidentou, usar um charme meio trágico e se alimentar. Quando chega perto dela, ela vira para ele, está com os olhos vermelhos de choro. “Sai, sai, não aguento mais!” “Eu... eu... sofri um acidente... é... o que houve? Por que você está chorando?” “Olha, me deixa em paz, eu não vou ficar com você, já não aguento mais, não sei quantos já me infernizaram hoje.” “Eu só quero saber como você, tá!” “Eu não sou burra, não me chama de burra!” “Eu não tô te chamando de burra! Caramba, acabei de sofrer um acidente, to desorientado, te vi com um salgado, preciso de algum sal no sangue!” “Não aguento mais essas cantadas baratas! Eu não sou burra, droga. Droga, droga, eu devo ser mesmo! Isso explica tudo, eu preciso de um cérebro! Vai lá fala, fala o quanto você me acha burra!” “É...”
“Meu deus, você tá todo sangrando mesmo!” “Sim, é o que tô tentando falar há uma hora!” “Toma, pode comer, eu nem sei porque comprei isso, não quero ficar gorda.” Dornélio pega o salgado, se senta ao lado dela, e começa a comer, ela fica olhando para ele, logo recomeça a chorar. “O que houve?” “Ai... desculpa, eu sou muito idiota, primeira pessoa que vem falar comigo essa noite que não vem me passar cantada e eu trato mal. Eu não sou uma piriguete, eu só gosto de me vestir assim!” Dornélio olha para ela e pensa que está vestida como uma piriguete. Salto, saia curta, camisa com grande decote, maquiagem, cheia de brinco, se não fosse a aparência saudável, a pele limpa e talvez a jaqueta roxa cobrindo seus ombros, não estaria longe de uma prostituta, ou uma cantora barata de forró. Porém, é bonita, é loira, pintado, mas bonito combina com o resto. Tem um sotaque de erres puxados. “Você está chorando porque as pessoas chegam em você?” “Não! Sim, talvez. Meu namorado, meu ex, não sei mais, ele sempre ficava reclamando que os homens não paravam de olhar para mim, que eu dava bola, que eu me insinuava para eles. O que eu podia fazer se eles vinham falar comigo? Ele me chamava de burra, que eu não sabia o que fazia, que acreditava em qualquer coisa. Droga, só porque sou feliz? Eu sai hoje para provar para ele que as coisas não eram assim, que eu não era fácil. Mas não param de chegar em mim e todos só querem a mesma coisa, ninguém está ai só para conversar, ter uma boa noite!” “E ficar lutando com os caras que chegaram em você hoje te deixou assim?” “Sim, só tem cantada barata. Alguns até são legais, mas depois que ficam comigo por algum tempo me deixam, passam para outra. Ai, eu devo ser muito burra!” “Mas você não saiu para provar que isso não acontecia?” “Mas o que você quer que eu faça se isso acontece?” “Ai, droga, não tem volta, ele me deixou.” E chora mais um pouco, Dornélio a abraça, ela continua a chorar em seu colo, passa a mão por sua cabeça. “Pelo menos um homem legal, eu encontrei!” fala, mas continua a chorar, e ele a passar a mão em sua cabeça. Dornélio fica excitado com tudo aquilo, ela deitada em seu colo sente sua ereção pela calça, a toca. Ele abre a sua calça, e continua a consolar com ela o chupando. Tudo que não foi para dentro da Megera como deveria ter sido naquela noite, vai para a boca daquela garota. Quando acaba, ela pergunta o seu nome, ele responde, ela também, se chama Maria, Maria da Palha. “O que houve com você?” “Eu fui assaltado, lutei com o ladrão.” Ai Dornélio se lembra da Megera, e começa a chorar, não se controla. “Eles mataram ela. Droga, eu nem gostava dela, mas eles mataram ela, eu gostava de ficar com ela. Droga!” E disso sai toda a história, a mistura de uma ressaca, da gordura do salgado, do relaxamento da ejaculação, da pena pela Megera, o faz se abrir completamente para Maria. “Pobrezinho, pobrezinho, eu quero te ajudar! Você é um cara legal, eu sei disso, e eu quero te ajudar! Vou provar que não sou uma burra, que tenho cérebro, e vou te ajudar a resolver tudo com esse traficante de Zô.
Dornélio, agora, acompanhado de Maria da Palha, continua a seguir pelo caminho do mijo. Maria achando melhor ele tirar a camisa suja de sangue, lhe dá sua jaqueta roxa para vestir. Seguem por mais algumas ruas, passam pela frente de uma boate, uma boate cara. Na porta, dois grandes seguranças de terno, e uma fila cheia de mulheres de vestido e homens de roupa social. O cheiro do mijo também passa por lá. “Viado, viado!” sai uma mulher gritando da boate. “Te pago a festa, te pago para entrar, e fica dando em cima dessas patricinhas! Ninguém faz isso com Roberta Autômata!” A mulher, deve estar nos seus 40, apesar de escandalosa, se faz imponente. É bonita, cabelo curto moreno, magra, vestido negro apertado, revelando seus pequenos mais notáveis seios. Os seguranças lhe fecham a passagem para voltar, lá dentro se vê um homem com um olho roxo. “Vocês não podem me expulsar daqui! Quem vocês acham que são? Eu sou amiga do Geraldo! Vai lá, liga para o Geraldo! O quê? Vocês vão ver, vâo acabar na rua por terem tratado assim uma mulher respeitosa como eu!” Eles nada fazem, ela desiste. O que estão olhando?” vira para Dornélio e Maria da Palha. Eles desviam o olhar e continuam a seguir pela rua. Ela vai atrás, acendendo um cigarro, a procura de um táxi. No fim da rua, ficam analisando para que lado segue o mijo. Ela pára do lado deles. “Para onde vocês vão?” pergunta ela. “Nenhum lugar” responde Dornélio. “O morro do Zô” fala Maria, sem pensar. “Ah... já sei, já sei! Vâo subir o morro para descolar um pó! Também quero! Não podem me deixar fora dessa!” Vai até Dornélio, pega sua mão e a coloca em seu peito. “Viu, nada, absolutamente nada, não tenho coração, estou morta, preciso dar uma cheiradinha para ele voltar a funcionar!” “Nós não vamos comprar pó, só vamos ver um amigo lá!” “Sei, um amigo. Quero muito esse amigo também! Um rapaz bonito como você, tem de saber analisar as pessoas, olha para mim, acha que vou te dedurar, fazer alguma coisa, sou como você, só quero cheirar um pouco! E te garanto, do lado de Roberta Autômata, ninguém te toca nesses lugares, as verdinhas dizem mais! Então, vamos lá, vamos nos ajudar mutuamente, vamos lá para conhecer seu amigo de Zô!” Dornélio fica num misto de não simpatizar com ela e de querer se aproveitar da situação. Antes que possa responder, Roberta faz sinal para um táxi. Ele pára e ela faz todos entrarem. É mais propício ir com um táxi pago, que andando, aceita. “Vamos para o morro do Zô!” diz Roberta. “Oh... não vou subir para esses lugares, não! Posso deixar vocês algumas quadras da subida e só isso.” Roberta tira uma nota de cem da bolsa e a levanta em direção do motorista. “Você quer nos deixar onde mesmo?” “Ah, desculpem, o Zô é a maior tranqüilidade, já deixo vocês na subida da ladeira de lá.” E assim seguem para o Zô.
A continuação será postada dia 14/11!
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