Querido, não é meu! Curta-metragem surreal em que uma mulher decide que o filho que espera em sua barriga, não é seu, mas só de seu marido. Segundo curta de 2012 da Epicentro Nervoso Produções, estrelando Daniele Nascimento, João Paulo Gonçalves e Juliana Happatsch. Direção e roteiro Daniel Matos.
Site oficial do escritor e diretor de cinema Daniel Matos. Aqui você encontra livros, filmes, comentários. Livros: Meu ano sem ela; Cuca fodida; Um grito no vazio para o nada; Mantenha a calma, não há rinocerontes neste livro. Os filmes: Estefânio na onda delta; Incidente Coca-Cola; Querido, não é meu!; A adaptação da peça Púcaro Búlgaro. Os contos famosos como o sobre os Suicídios na Uerj e o Livro dos unicórnios.
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Máscaras de Fogo - Homem de Barro Sob o Rugido da Jaguatirica
Peça criada e encenada na Imersão Teatral Ariane Mnouchkine de 2011 da Nossa Senhora do Teatro.
Com participação de Daniel Matos, André Sodré, Pedro Bernabe, Christiane, Karina Mills, Sérgio Cabral, Gabrielle Asevedo, Julia Moreira, Dei Ribas e Danielo Avilez.
Com participação de Daniel Matos, André Sodré, Pedro Bernabe, Christiane, Karina Mills, Sérgio Cabral, Gabrielle Asevedo, Julia Moreira, Dei Ribas e Danielo Avilez.
Cabaret Extraordinaire
Vem chegando, vem chegando! Bem vindo ao Cabaret Extraordinaire! Feito com toda a humildade de um político turco, banhado no vermelho do sangue de pseudo-intelectuais franceses - tudo para obter seu nome chique. Um espetáculo extraordinário apresentando a você mulheres das mais exóticas de todos os tempos e gêneros! Veja a mulher de quatro braços! Pode ela mesmo masturbar quatro homens com total precisão? Veja a sereia! Com a parte peixe ou a parte humana você quer fazer sexo? Veja a mulher barbada! Lembrando o seu pai lenhador ao mesmo tempo que lhe dá prazer! Veja a Deborah Secco! Robô ou humano, pele ou plástico, qual será a verdade? Hoje trazendo a você um espetáculo especial com Norma-Lúcia, a mulher do século 23!
Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças de Michel Gondry
ou Brilho Eterno de uma Memória sem Pontas
Joel acorda. Acorda para perceber o mundo, pondo em movimento um constante ato de contemplação, que é em si esta própria contemplação do plano de sua representação do mundo ao qual habita, somada a sua ação perante a este. Acorda e começa o seu dia, percebendo as coisas ao seu redor, que são apenas, para si, para sua apreensão destas, imagens que representam as coisas em si. Imagens que são menos que estas próprias coisas, mas que são mais que as representações apreendidas por Joel. Pois ele, na sua percepção consciente, só percebe o que quer, o que está acostumado a perceber. Sua percepção se limita a uma pobreza necessária, não pode captar todos os detalhes das imagens a ele oferecida. Nota o amassado do carro, nota as folhas faltando do caderno, nota específicos, não a imagem completa, sua memória habitual não procura registrar mais que isso, sua percepção, no seu movimento de contemplação, subtrai todo o desnecessário. Assim, seguindo os movimentos de sua memória habitual, repetindo as suas tarefas diárias, se arruma e vai para o trabalho. Porém, na estação, na representação desta apreendida por ele, aflui-lhe, inesperadamente, subindo a partir do seu inconsciente, uma fatia de memória pura, fatia ascendida pela contemplação desta estação, que interagindo com sua percepção em movimento, o faz pegar outro trem, um para a praia.
Seguindo a Rua
À minha frente, então, se encontrava mais um grande salão. Um extenso salão repleto de milhares de cadeiras de concreto, fincadas no chão, organizadas em fileiras, viradas todas para uma mesma direção, oposta ao portão, para um distante e alto palanque de madeira. O teto afastava-se por uma distância incalculável e deste só se viam as chamas de um fogo ardente. Grossas pilastras quadradas cortavam o salão esporadicamente. E, assim, na frente de uma, após forçar minha passagem pela multidão, encontrei uma cadeira livre e me sentei, pois me parecia o mais propício a ser feito. Ali sentado, rodeado de olhares distantes, mais uma vez, não sabia o que fazer. Ficaria parado a observar os arredores, ou sairia em seu encalço? Com a primeira opção, poderia garantir que se por minha área de observação ela passasse, eu poderia avistá-la e rapidamente alcançá-la. Mas se por ali ela não passasse, de nada isso adiantaria. Especialmente, se fosse o caso de ela já ter encontrado um lugar para sentar. Com a segunda opção, poderia sair a procurá-la, tendo a possibilidade de cruzar com ela pelo caminho, caso ela estivesse a andar, ou caso também ela já estivesse sentada. Mas, também havia a possibilidade, caso ela estivesse andando, de que quando por um lugar eu estivesse passando, ela estivesse fazendo o mesmo por outro, por um ao qual eu ainda iria passar, ou ao qual eu já teria passado. Havendo, assim, grandes chances de nunca nos encontrarmos no mesmo lugar. Logo, por haver maior probabilidade de encontro, me decidi pela segunda. Levantei. Porém, antes de começar minha perseguição, achei melhor de alguma forma marcar aquela cadeira em que estava, caso a esta eu precisasse voltar. Assim, deixei minha mochila sobre esta. Mochila a qual acabara de notar que trazia em minhas costas e que estava vazia por nada eu ter a carregar senão aquela própria mochila vazia.
Kafka vai à Floresta (Kafka goes to the Forest)
Berlim, 1924, Kafka e sua amada Dora vão passar um dia tranquilo na floresta. Porém, para o escritor as coisas não são tão simples assim.
(Berlin, 1924, Kafka and his lover Dora go to a forest. But, for the writer, things like that are nerver that simple.)
(Berlin, 1924, Kafka and his lover Dora go to a forest. But, for the writer, things like that are nerver that simple.)
O Mais Horrível Monstro da Existência
O homem desiste, não mais corre, não mais olha para topos não mais vistos, não mais espera oportunidades a lhe aparecer, não mais sabe o que fazer, e nem mais finge tentar sabê-lo. Deita no chão vazio, sozinho em seu nada, e mais uma vez dorme. Escuridão, folhas púrpuras, som de passos.
Uma floresta, onde há espaço suficiente entre as altas e grossas árvores para andar, correr, cantar e dançar, se apresenta, e nela caminha um monstro. Caminha abaixo de um céu de folhas púrpuras, pisando uma eterna grama laranja, num dia iluminado por um pouco visível sol amarelo. E este monstro não é só mais um simples monstro, como aqueles que se espreitam por todos os cantos, tentando se fingir de criaturas sãs pelo uso de ridículas fantasias que só servem para enganar os desatentos olhos dos cegos e, por sua vez, só aterrorizam mais os dotados da visão. Mas sim, um monstro muito pior, terrivelmente pior. Na verdade, provavelmente este é o mais horrível monstro da existência. Um tão horrível que sua descrição só pode ser feita a partir da variabilidade de sua distorcida mente.
Um Ensaio sobre a Água
1
O homem está preso numa plataforma de metal enferrujado no meio de um eterno mar tempestuoso. Um infinito céu de trevas a tudo cobre, água escura a tudo cerca e gigantescas ondas para todos os lados batem. Decadente ferro corroído, que pouco ainda pode suportar, sob seus pés, range. Seus olhos, vazios ao olharem para a imensidão eterna, quase cegos por nada verem. Sua mente, a indagar o quanto mais o metal irá agüentar, o quanto mais suas pernas irão lhe suportar, o quanto mais irá ter de esperar a óbvia queda. O nada impera sob o tudo, mas a água do mar se encontra permanentemente a lutar, sempre a lutar, nunca a parar, nunca estática, mas também nunca a lhe oferecer um sólido chão para caminhar, só fazendo por afogar, só fazendo por tragar para a imensidão escura e confusa que o tudo é. A chuva, a bater em seu rosto, desce do céu com fortes gotas de dor, já que não pode mais descer através daquilo que não consegue mais ver. Um singelo púrpura se revela por entre as densas nuvens escuras, a oferecer esperança daquilo que nunca parece se encontrar. Um frio se compõe com sua existência.
A Queda
Um homem cai por uma imensidão vazia, olhando o nada que o cerca. Uma garota caindo na direção oposta, agarra-o e senta-se em seus ombros, cobrindo com suas mãos os olhos dele.
- Quem senta em meus ombros e cobre os meus olhos? – pergunta o homem.
- Ninguém – responde a garota.
- Ninguém me acompanha nesta constante queda. Imagino quando haverá alguém para fazê-lo – diz o homem, pensativo.
- Sim, ninguém acompanha-o nesta terrível queda. Sua horrível e interminável queda para todas as direções verticais e horizontais do vazio eterno. Vazio frio e absoluto! – exclama a garota, retirando as mãos dos olhos dele, estes que se fecham com essa ação, e abrindo-as no ar de modo trágico. – Ó, o horror, o horror! – exclama com um profundo pesar.
- Sim, é ruim – diz o homem com certa indiferença, mantendo seus olhos fechados.
- Então, por que está caindo desta vez? – pergunta a garota, voltando com suas mãos para os olhos dele.
Os Fantasmas
O homem jogado no chão, levanta-se. Mais uma vez encontra-se sozinho e sem direção, porém sem queda – até essa parece ter deixado de lhe importar. Tragado pelo estático, dá um grito, um grito no vazio para o nada. Uma pequena garota com ávidos olhos aparece e lhe olha seriamente. Ele a olha de volta e fica a esperar que ela fale alguma coisa. Ela nada fala.
- Azuis, lindos olhos azuis, por que me olham? Por que me perfuram?
Ela nada responde.
- Vejo tanto nesses olhos, tanto que quero ver, tanto que raramente vejo! Quero tanto me perder neles, mas há tanta seriedade. Por que há de haver tanta seriedade nesses olhos que a mim neste momento se dirigem? Por quê?
Ela nada responde.
- Eles já foram outros, não? Esses dois profundos oceanos cristalinos já me olharam de uma forma diferente, já correram atrás de mim com a chama que se recusa a se apagar até na mais pura transparente água, no mais puro azul. Dois magníficos brilhantes olhos que já degustaram minha essência! Mas, por que se cansaram? Por que desistiram? Fui eu quem desisti? Por favor, só uma palavra é tudo que peço, só uma e poderei descansar. Só um porquê!
Ela nada responde.
O urso, a escadaria e eu vou lá saber o que mais
Primeira Estação
O urso está a subir uma escadaria de madeira escura. Sobe, sobe, sobe, um infinito. Infinito raso e falho que se faz finito com o tempo. A completa escuridão o cerca com seu inebriante mistério e sua presença assustadora. Tão inebriante e assustadora que o urso pula e cai. Cai, cai, cai, uma imensidão. Não um infinito, porque ele cai para algum lugar. Algum lugar que não é nenhum lugar, mas não vamos falar disso agora. Cai para o laranja. Um sublime laranja que tudo toma, que tudo é. Um laranja que vibra com o espaço, fazendo-se em ondas, a aprofundar a existência tridimensionalmente. O urso está em um céu alaranjado de conforto, deslizando para baixo, eternamente, finitamente, calmamente, a chegar aos girassóis. Nadando em um mar de gigantescos girassóis que tudo são, pois tudo escondem. Deitado sobre todos, deitado sobre um, a olhar o céu que tapa a escuridão e esconde seus olhos. Não, não. Não os olhos dele, mas sim os olhos dela. Sim, dela. O urso só pensa nela. E pensando nela, arranca as pétalas do girassol, a perguntar quando novamente a verá. E quando um nunca se apresenta, só há mais uma vez espaço vazio a cair. “Eu te amo” “Eu te amo” “Eu te amo” “Onde estás?” Não, o urso não fala, mas de nada isso importa para que as frases se façam e que algumas dessas, só uma na verdade, pelo menos até agora, perguntas sejam. “Onde estás?” “Onde estás?” Mas não é ao urso a isso referente, é a escada, é a escuridão, é ao laranja, é ao conforto do deslizar no céu alaranjado, é aos girassóis que escondem. “Eu te amo” Não é a perda. É muito pior. É ao não conhecimento. É ao futuro não tido, ao presente não visto, ao passado repetido. Repetitivo, a repetir a repetição do vazio. Vazio, vazio, vazio, vazio. E o nada? Nada, nada, nada, nada. Cansei desses dois. Mas os miseráveis não estão a bater a minha porta? Não, pois já estão dentro, a acariciar a cabeça do urso, que deveria estar rosnado para afastá-los. Miseráveis, miserável. Oi! Tchau! Oi! Tchau! Oi! Tchau! Oi! Tchau! “Quem é ela?” Que se subam os degraus da escada para saber. Subimos então. O primeiro, o segundo, o terceiro, o quarto, o quinto, o sexto, cansei de falar mas continuo subindo. Não me acompanhe, acompanhe o urso que cai do girassol. Maldito laranja que está no céu e não na terra. “Já te disse que te amo!” “Oi.” “Onde estás?” Degraus, degraus, degraus. Cada um, cada vez maior; cada passo, cada vez mais alto; cada esforço, cada vez mais exaustivo; cada tropeço, cada vez mais sentido. “Não a vejo!” A água. Sim, a água. Quero nadar e não a degraus subir. Quero o laranja e nele ficar e não deslizar. “Quero você!” Ele a quer. Quero querer. Quero viver. E o urso onde ficou? O urso deslizou de volta para o início dos degraus. Este urso desorientado, maior do que todos, a rosnar sem sentido para todos os lados, a se esfregar na árvore, a caçar os peixes despercebidos que sobem o rio. Quero rosnar, quero me esfregar, quero caçar, mas desorientado não quero mais estar. Cansei da confusão. “Não a conheci, não é óbvio?” “Por que não a conheci?” “Por que a seus olhos não contemplei?” “E a sua boca?” “E a sua boca?” Não, na sua pele não nadou, nos seus olhos não trafegou, na sua boca não se afogou. “Arte?” Não existe arte. Não se iludam, isto não é arte. Nunca foi, nunca é, nunca será. “Se há arte, ela é arte!” Todo resto é piada. O urso que fique a rosnar. Ele ama ela. Ele não é o urso. Ele é a escada. “Não, eu não sou!” Sim, você é! “Pare!” Não paro! “Pare!” Não paro, porque sou eu, não entendes? “É você?” Talvez. “Oi” Tchau.
O Velho e a Pequena Garota
Um velho está sentado numa pedra no meio do nada, olhando para o nada. Uma pequena garota aparece, vinda de lugar algum para lugar nenhum e vai até o velho. Ela o olha e assim pergunta-o.
- O que você está fazendo? – diz ela despertando pela primeira vez a atenção do velho, que até então não a notara.
- Penso, penso no sentido de tudo aquilo que não faz sentido e quanto tudo isso não faria nenhum sentido se tivesse algum sentido – responde o velho olhando para a garota, analisando-a.
- Isso não faz nenhum sentido – diz a garota.
- Sua afirmação faz muito sentido – diz o velho voltando a olhar para o nada.
- O que olhas? – pergunta a garota.
- O nada. Há muito a se ver no nada. Olhe – diz o velho apontando para o nada.
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