UERJ


Olá, estou trazendo aqui um texto de um amigo meu, um estudante de jornalismo da UERJ, Alessandro Carvalho. Faço direito lá, onde o conheci, e encontrei essas páginas aqui transcritas em sua mochila. Ele está morto agora. Foi encontrado há duas semanas com o crânio esmagado por uma pedra no estacionamento atrás do prédio de química. Não sei o quanto disso é real, mas acho que deveria ser conhecido.
“Muitas pessoas conhecem o prédio principal da UERJ na rua São Francisco Xavier como o centro de suicídios do Rio de Janeiro. Se você quer se matar, a UERJ é seu destino. O prédio serve como um imã de sacrifícios humanos para a cidade. Você chega lá, pega um dos elevadores, torce para que ele chegue até em cima sem partir no caminho, sai, se desloca até um dos vãos abertos e se joga. Talvez acerte alguém no final, talvez acerte um carro, mas geralmente só o chão de concreto sofre com o impacto do seu crânio se espatifando contra ele. Geralmente são reportados de dez a quinze suicídios na UERJ por ano, e isso por boca-a-boca, pois nenhuma notícia jamais sai em algum jornal. É claro que esse é só o número dos que tem testemunhas, o verdadeiro número é muito maior, de trinta a quarenta pessoas se jogam de lá por ano, mas para saber disso você tem de ir por outras vias. Acredito que quando entrei na UERJ para cursar jornalismo no décimo andar, nem dos suicídios eu sabia. Agora, depois de ter tomado na oficina de reportagem do quinto período aquela estúpida decisão de estudar esses casos, temo ter aberto uma porta, que caso não custe só a minha sanidade, também possa levar a minha vida.

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