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Nunca aposte sua cabeça com a turca

Seu pai estava morto, o que começara como uma simples disputa entre sete sapatarias rivais entre as ruas do Ouvidor, da Quitanda e do Mercado, acabara em seu assassinato. E agora, ele Cândido deveria tomar os negócios da famí­lia. Mas o que fazer quando agora para manter sua honra e a honra de sua famí­lia, deveria matar os dois filhos homens da famí­lia Almeida, aqueles que juraram trazer a ruí­na para sua famí­lia. Os dois miseráveis irmãos da bela Gabriela. Como mataria seus irmãos, sem ferir aquela que amava, e que também o amava? Deveria mentir. Candido tomou a única saí­da possí­vel, já que não podia a seu próprio punho confrontar os dois na rua e quebrar seus pescoços, recorreu a magia negra, a magia da velha turca Oja. Antes de conhecer sua amada Gabriela, a sobrinha da velha tinha sido sua amante, e desde que um dia, Oja pegou-o saindo do quarto de Maria, ela profetizou que conhecia sua alma de muitas andanças passadas e que não importe o que acontecesse, ele sempre poderia recorrer a ela.

Ônibus Vermelho de Marte


Epitácio sentou no banco do ponto a espera do ônibus vermelho de Marte. Encontrava-se adiantado, o ônibus só passaria em trinta minutos. Sabia disso ao sair de casa, e o fizera exatamente por isso, porque precisava sair. Sua mulher estava dando ataques mais uma vez, nem sabia mais o porquê, foram tantas vezes. Só que no jantar discutiram algo, e ele venceu o argumento, e isso foi o necessário para ela passar à noite muda, virada para o lado oposto a ele e depois, de manhã, acordá-lo com um empurrão para o chão. Teve de fazer o café da manhã com alguém de cara emburrada sentada na cadeira da cozinha. Estranhamente, ele aturava tudo isso porque a amava. Sim, era insuportável, mas quando estava feliz, ela o fazia se sentir como nenhuma outra mulher podia. E podem ter certeza, na sua profissão de sapateiro, mulheres é o que não faltavam em sua vida. Mas então, lá estava Epitácio a esperar o ônibus vermelho de Marte, quando veio a Morte e sentou ao seu lado. Não era uma morte clássica de capuz, lembrava mais uma de quadrinhos dos anos 90. Não, não a de Neil Gaiman, mas sim uma que mais parecia uma atriz peituda de Baywatch, usando pouca roupa, mas com a pele branca, bem longe de uma vida de praia.

Dating a Vampire Girl (Script: Daniel Matos - Art: Marcelo Damm)

What to do when your girlfriend is a vampire and she has to suck other guys blood.
Story: Daniel Matos - Art: Marcelo Damm


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Bolinhos de Avelã com Mousse de Chocolate e Baunilha


(Parte integrante do livro Cuca Fodida)

           Gertrude estava apaixonada. Há quatro meses que toda manhã às 9 horas em ponto entrava na loja de bolinhos aquele homem alto e robusto que fazia suas pernas estremecerem e o sangue subir ao seu rosto. Usava um terno e um chapéu cinza, com um lenço vermelho no bolso do sobretudo. Abria sempre a porta da loja com delicadeza, fazendo o sino bater suavemente sobre a sua cabeça como se fosse uma música a anunciar sua chegada, dava exatos 3 passos como um rei até a caixa, a olhava com um olhar fixo, magnético, que a desequilibrava, em seguida dava-lhe com aquela sua voz forte um bom dia e produzia, através daqueles seus lábios firmes, o nome dela - o que a fazia estremecer ainda mais -, por fim, fazia o seu pedido. Inicialmente pedia um bolinho de nozes, mas com o tempo ela começou a sugerir-lhe outros gostos, até chegar ao que o encantou por completo: um bolinho de avelã com mousse de chocolate e baunilha. Depois de comprar, ele lhe dava um sorriso e partia de volta a sua vida encantada, a deixando ali a esperar a sua volta no dia seguinte.  

Seguindo a Rua


À minha frente, então, se encontrava mais um grande salão. Um extenso salão repleto de milhares de cadeiras de concreto, fincadas no chão, organizadas em fileiras, viradas todas para uma mesma direção, oposta ao portão, para um distante e alto palanque de madeira. O teto afastava-se por uma distância incalculável e deste só se viam as chamas de um fogo ardente. Grossas pilastras quadradas cortavam o salão esporadicamente. E, assim, na frente de uma, após forçar minha passagem pela multidão, encontrei uma cadeira livre e me sentei, pois me parecia o mais propício a ser feito. Ali sentado, rodeado de olhares distantes, mais uma vez, não sabia o que fazer. Ficaria parado a observar os arredores, ou sairia em seu encalço? Com a primeira opção, poderia garantir que se por minha área de observação ela passasse, eu poderia avistá-la e rapidamente alcançá-la. Mas se por ali ela não passasse, de nada isso adiantaria. Especialmente, se fosse o caso de ela já ter encontrado um lugar para sentar. Com a segunda opção, poderia sair a procurá-la, tendo a possibilidade de cruzar com ela pelo caminho, caso ela estivesse a andar, ou caso também ela já estivesse sentada. Mas, também havia a possibilidade, caso ela estivesse andando, de que quando por um lugar eu estivesse passando, ela estivesse fazendo o mesmo por outro, por um ao qual eu ainda iria passar, ou ao qual eu já teria passado. Havendo, assim, grandes chances de nunca nos encontrarmos no mesmo lugar. Logo, por haver maior probabilidade de encontro, me decidi pela segunda. Levantei. Porém, antes de começar minha perseguição, achei melhor de alguma forma marcar aquela cadeira em que estava, caso a esta eu precisasse voltar. Assim, deixei minha mochila sobre esta. Mochila a qual acabara de notar que trazia em minhas costas e que estava vazia por nada eu ter a carregar senão aquela própria mochila vazia.

Um Ensaio sobre a Água

1

  
O homem está preso numa plataforma de metal enferrujado no meio de um eterno mar tempestuoso. Um infinito céu de trevas a tudo cobre, água escura a tudo cerca e gigantescas ondas para todos os lados batem. Decadente ferro corroído, que pouco ainda pode suportar, sob seus pés, range. Seus olhos, vazios ao olharem para a imensidão eterna, quase cegos por nada verem. Sua mente, a indagar o quanto mais o metal irá agüentar, o quanto mais suas pernas irão lhe suportar, o quanto mais irá ter de esperar a óbvia queda. O nada impera sob o tudo, mas a água do mar se encontra permanentemente a lutar, sempre a lutar, nunca a parar, nunca estática, mas também nunca a lhe oferecer um sólido chão para caminhar, só fazendo por afogar, só fazendo por tragar para a imensidão escura e confusa que o tudo é. A chuva, a bater em seu rosto, desce do céu com fortes gotas de dor, já que não pode mais descer através daquilo que não consegue mais ver. Um singelo púrpura se revela por entre as densas nuvens escuras, a oferecer esperança daquilo que nunca parece se encontrar. Um frio se compõe com sua existência.