Acompanhe a investigação de um detetive de polícia a partir de um artigo escrito por um universitário assassinado, que buscava revelar toda a verdade sobre os assassinatos, suicídios e as aparições de uma terrível criatura na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, UERJ. Uma investigação que não só revelará os segredos macabros da universidade, como também da própria história do Rio de Janeiro, desde sua era colonial, passando a império, ao regime de Getúlio Vargas. até os dias atuais.
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1 - As folhas de caderno do universitário assassinado
Relato de um detetive de polícia:
Meu nome não importa, pois sei que caso essas informações aqui apresentadas, as quais coletei nos últimos meses, cheguem ao público, já terei há muito desaparecido - espero que pela minha própria mão. Fui um detetive da polícia, a mim foi entregue este caso e logo após retirado quando comecei a me aproximar da verdade. Pela natureza dos eventos que comecei a descobrir, não pude me controlar, seja pela curiosidade, seja pela primeira vez estar fazendo um trabalho que fora o que sempre idealizei para o meu cargo, e assim ignorei as ordens de meus superiores, continuei por mim mesmo a investigação. Não posso dizer que acredite em tudo que chegou até o meu conhecimento, mas também não posso dizer que até nos relatos mais absurdos não aja algo de verdadeiro que não possa negar. Por isso decidi, que não importando as consequências, deveria trazer essas informações ao público. Fiz várias cópias de tudo que tenho e mandei para vários jornais nacionais e internacionais, como também a pessoas de influência, na esperança que alguma acredite pelo menos em parte no que está aqui relatado e tenha a coragem de o publicar. Sei que no momento que os envolvidos neste caso souberem da existência desses relatos, facilmente atribuirão sua coleta e organização a mim, por isso já me preparei para desaparecer após o envio das cópias pelo correio. Espero com sua publicação trazer à tona certos fatos históricos importantes sobre a verdadeira história do Rio de Janeiro, sua verdadeira e secreta história, como também de várias de suas figuras históricas, como também vindicar as várias vítimas envolvidas na descoberta desses relatos.
O caso inicial chegou até mim de forma inconsequente. Uma garota, universitária da UERJ, Universidade Estadual do Rio de Janeiro, foi encontrada ao redor do seu prédio principal, o João Lyra Filho, no bairro do Maracanã, na manhã do dia 19 de agosto de 2011, num estado de total histeria. Seu nome, Bianca da Cunha, aluna de biologia, exemplo de pessoa segundo família e amigos, sem nunca ter mostrado qualquer sinal de desestabilização até aquela manhã. Inicialmente, não acreditei nos relatos dos seus familiares, as pessoas sempre têm um lado sombrio que escondem de todos ao seu redor. Atribui seu estado a um abuso de drogas, algum coquetel de alucinógenos com estimulantes que foi além do que a própria garota pode aguentar. Porém, o caso não ficou por aí. Foi seguido da confirmação do desaparecimento de um outro aluno, Ricardo Dias, estudante de direito, também da UERJ, e da evidência de um relacionamento talvez de amizade, talvez sexual entre os dois. Ricardo não trazia a mesma boa reputação da garota. Logo, mais uma vez atribui que tudo não passava do resultado de alguma orgia de sexo e drogas que dera errado. A garota se envolveu com o mau elemento, e aí estavam as consequências, provavelmente o outro deveria estar agora também alucinando como um mendigo em alguma parte da cidade. Foi quando chegou até mim o caso, já arquivado, sem solução concreta, do assassinato do aluno Alessandro Carvalho. Seu corpo fora encontrado quatro meses antes, com a cabeça aberta por uma pedra no estacionamento do prédio de química da universidade, o Haroldo Lisboa da Cunha. O caso fora dado como um assalto que fora longe demais, provavelmente por um dos pivetes viciados em crack que circundam a faculdade. Pois, então, Ricardo Dias era amigo de Alessandro, aluno de jornalismo, e não só isso, chegara as suas mãos os primeiros rascunhos de um trabalho investigativo que o segundo estava fazendo, um trabalho sobre a história e os suicídios na UERJ. Ricardo publicara esse relato online, em blogs e rede sociais, e depois se dera a missão de descobrir a verdade sobre o que acontecera com seu amigo.
As folhas de caderno do universitário assassinado:
Aqui segue a transcrição das páginas de caderno escritas por Alessandro, que Ricardo publicara online:
“Muitas pessoas conhecem o prédio principal da UERJ na rua São Francisco Xavier como o centro de suicídios do Rio de Janeiro. Se você quer se matar, a UERJ é seu destino. O prédio serve como um imã de sacrifícios humanos para a cidade. Você chega lá, pega um dos elevadores, torce para que ele chegue até em cima sem partir no caminho, sai, se desloca até um dos vãos abertos e se joga. Talvez acerte alguém no final, talvez acerte um carro, mas geralmente só o chão de concreto sofre com o impacto do seu crânio se espatifando contra ele. Geralmente são reportados de dez a quinze suicídios na UERJ por ano, e isso por boca-a-boca, pois nenhuma notícia jamais sai em algum jornal. É claro que esse é só o número dos que tem testemunhas, o verdadeiro número é muito maior, de trinta a quarenta pessoas se jogam de lá por ano, mas para saber disso você tem de ir por outras vias. Acredito que quando entrei na UERJ para cursar jornalismo no décimo andar, nem dos suicídios eu sabia. Agora, depois de ter tomado na oficina de reportagem do quinto período aquela estúpida decisão de estudar esses casos, temo ter aberto uma porta, que caso não custe só a minha sanidade, também possa levar a minha vida.
Algumas coisas às vezes só se mantêm escondidas porque ninguém está interessado em revirá-las. Porém, o que aquele idiota que toma coragem de revirá-las não sabe, é que depois que se faz, não há volta, e que se entrou num caminho a que cada nova descoberta leva só a mais novas perguntas, perguntas a lentamente tragar para o abismo. O número secreto de verdadeiros suicídios no prédio não era nem a ponta do iceberg. Quem é da UERJ também sabe das outras histórias, da má fama que as escadas que correm por cada corredor por trás de pesadas portas de metal tem. Alguns só ouviram de assaltos, outros de estupros, os mais curiosos talvez dos assassinatos. Quem conhece os funcionários do lugar, os faxineiros e os seguranças, talvez também tenha ouvido da má fama do turno da noite. É raro o segurança novato que após uma noite na UERJ não peça demissão no dia seguinte sem dar explicação alguma. E os que se mantêm nunca são os mesmos, são fechados, se isolam do resto, como se tivessem perdido sua humanidade. Isso é claro sem contar no próprio estado natural dos serventes do local, se você presta atenção o suficiente neles, logo notará que é uma coleção dos indivíduos mais peculiares, de aparências estranhas, de deformidades escondidas por trás de seus uniformes cinzas. Até esse ponto, tudo que chegava a mim era tolerável, até mesmo a suposta existência de cinco andares negativos no subterrâneo do prédio, porém isso tudo mudou quando comecei a coletar os relatos sobre a criatura. Mas não posso continuar sem antes falar do Professor Silvana.
Carlos Silvana foi um respeitado professor de história da UERJ, um doutor especialista na história do Rio de Janeiro, que também cometeu o erro de tomar para si o estudo do prédio e do local em que foi construído. Seus primeiros livros foram banidos, sendo que a grande maioria dos seus estudos nunca foram sequer publicados, e até minhas mãos os tocarem, se mantiveram escondidos em partes abandonadas de uma biblioteca da UERJ. No verão de 1994, depois do que muitos descrevem como um comportamento paranoico, outros de quase insano, ele sumiu deste planeta sem deixar nenhum traço. Foram graças a seus estudos que descobri grande parte da história daquela parte da cidade em que foi construída a UERJ. Silvana conseguiu reunir relatos tão distantes quanto a vinda dos franceses e portugueses para essa terra. Especificamente nos papéis do padre jesuíta Augusti Sabatino, que pregou no engenho jesuíta ao qual o terreno da UERJ um dia foi parte. Sabatino relatou em muitos dos seus escritos as histórias dos índios sobre o lugar, além de sua própria experiência. E aqui vou tentar resumir o que esses dois homens conseguiram agregar sobre o lugar.
Os índios que um dia habitaram essa terra, antes de com a chegada dos europeus, terem mudado de nome, se integrado e esquecido de sua cultura, comiam seus mortos. Não havia nada mais prazeroso do que comer alguém bravo com uma vida honrosa e digna, tanto de sua própria tribo, como um inimigo vencido de outra. Porém havia aqueles mortos indigestos, que quando vivos eram dados como párias pelos outros índios: criminosos, insanos, ou até xamãs que praticavam certas artes vistas como proibidas e erradas pelos outros xamãs. Esses mortos, ninguém queria comer, ou sequer olhar, e assim eles eram enterrados. Porém, como esses lugares de enterro eram vistos como tomados pelo mal, pelos maus espíritos daqueles que os habitavam, geralmente eram cemitérios separados de tudo e de todos, em que geralmente as tribos se davam ao trabalho de fazer viagens de muitos dias e noites para se livrar daqueles corpos vistos como indignos. E um dos maiores cemitérios desse tipo tomava um terreno que hoje em dia está tomado pelo prédio da UERJ e por parte do estádio do Maracanã. Um local proibido cuja história foi ignorada pelos jesuítas que lá foram montar seu engenho. Decisão que iria lhes custar caro, quando chegaram aqui em 1579. Rapidamente, o terreno que foi dedicado a uma extensa plantação de jaqueiras foi tomado por rumores da população de índios recém convertida, como pertencente ao demônio. Rumores confirmados pelos próprios missionários quando os suicídios de alguns dos seus membros começaram. Primeiro os suicídios, depois a loucura. Foi ao redor da década de 1620 quando um missionário louco tacou fogo na plantação. A reação dos jesuítas foi construir uma igreja no lugar em que hoje em dia se encontra o pavilhão João Lira Filho da UERJ. E é nele que encontramos Sabatino pregando em 1683. Um ingênuo jesuíta que segundo o próprio relato foi despido de tudo menos sua fé na luta em que teve com o demônio dentro daquele prédio naquele ano. Luta que lhe deixou com metade do corpo queimado, além da igreja abandonada em ruínas. A mata eventualmente tomou o lugar, já que ninguém mais se atrevia chegar lá. E assim foi até a expulsão dos jesuítas.
O que era regra, virou lenda, e o que era lenda, virou rumor do povo. E ninguém da boa sociedade vai dar ouvidos ao rumor do povo. Assim, em 1856 foi inaugurado naquele mesmo terreno, pelo nosso primeiro grande pseudo-intelectual almofadinha, D. Pedro II, o Sanatório de São Francisco. O primeiro grande estabelecimento dessa categoria na América Latina, para receber seus pobres doentes mentais, como a própria prima do imperador, D. Rosa, a insana. O que resta de arquivos daquele respeitado estabelecimento, conhecido por afogar seus ocupantes no gelo, além de outras práticas de tortura, foi perdido no incêndio que tomou de vez o hospital público que havia se transformado com a proclamação da República. As ruínas desse hospital iriam eventualmente se tornar a Favela do Esqueleto.
Notória por sua bandidagem, como o famoso Cara-de-Cavalo, na favela do Esqueleto é que encontraria as primeiras referências diretas a criatura. Muitos dizem que a razão de Vargas para escolher aquele lugar para a faculdade fora seu conhecimento sobre a criatura. Claro, que outros apontam para outras razões mais sinistras, como a necessidade para o próprio banho de sangue que foi remover a população local, que ainda irei de tratar. É desse período que Silvana encontra em um dos relatos de um de seus poucos sobreviventes, um que foi realmente “relocado” para a favela de Nova Holanda, atual Maré, descrições sobre a criatura. O Senhor X, como Silvana o chamava, diz que”
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