Texto retirado do meu livro Turbilhão de lembranças em neon: Amor, desejo e memória no cinema de Wong Kar-Wai. R$19,90 na Amazon.
Amor à flor da pele é um filme sobre a
criação de momentos, de lembranças, de movimentos na realidade, de como esses
podem culminar num amor, e como este amor pode ser interrompido por pressões
externas que se tornam internas.
Somos
apresentados a dois casais que se mudam para quartos em apartamentos vizinhos.
O marido do apartamento da esquerda, Chow Mo-wan (Tony Leung), conhece a esposa
do apartamento da direita, Su Li-zhen (Maggie Cheung). Sim, a mesma Su Li-zhen
de Dias Selvagens, casada e já
distante da lembrança do pássaro que não podia pousar, o fei. Durante todo filme a câmera nos oferecerá a imagem-percepção de
suas vidas, e a imagem-afetação de seus sentimentos. A esposa do primeiro e o
marido da segunda habitaram um mundo fora de câmera, quase em off. Ou, quando aparecerem
na frente desta, estarão de costas ou embaçados, longes da nossa visão - e nós,
longe de seus sentimentos. Kar-Wai concentra toda a realidade que vemos na tela
nos dois protagonistas. Ou seja, não necessariamente neles, mas nos sentimentos
que desenvolvem um pelo outro.