Baldes e mais baldes de sangue. Mais e mais Holywood distancia-se do mundo da fantasia de corpos que nunca bombeam sangue. Kick-Ass, a estrear por aqui em junho, de Matthew Vaughn, baseado na graphic novel de Mark Miller - o mesmo escritor de Wanted - traz mais uma amostra de uma realidade sanguínea estilizada. Seu protagonista é um nerd, que decide se tornar um herói. Um herói em um mundo real, em que uma gangue de rua pode facilmente quebrar todos os ossos do seu corpo e o fazer gritar desesperadamente por cada um deles.
Sim, o filme é um divertido elogio a violência. Porém, é um elogio que também reconhece a dor, sua conseqüência. Seus personagens são violentos e passam por situações violentas, mas também sofrem todas as conseqüências disso. Na verdade, uma das principais críticas de um público mais sentimental pode se apresentar mesmo nessa aceitação dos protagonistas de todo o flagelo físico demandado por suas escolhas. Já que grandes poderes não vem com grandes responsabilidades, e sim, grandes responsabilidades dão grandes poderes aqueles que as aceitam. A violência de um jogo de vídeo-game pode ser tão realista quanto a de um romance russo. E um massacre sem arrependimentos é tão válido quanto um jovem paranóico tendo um ataque de pânico pelas 800 páginas de um livro após abrir o crânio de uma velha com um machado. Como o próprio Fiódor Dostoiévski reconheceu, um crime é só realmente um crime dependendo de quem o cometeu. Alguns escolhem seguir o caminho de senhores, outros de servos, o que nós leva a um outro bom exemplo dessa gradual mudança no audiovisual americano: a série de tv Spartacus Sangue e Areia.