Eu, eu mesmo e eu de novo - Parte II: Complexo de Fevereiro

Aqui segue mais um capítulo da segunda parte do livro Eu, eu mesmo e eu de novo.


Parte II: Eterno Retorno, de novo.


57. Complexo de Fevereiro


Continuo indo para as festas Veneno da Casa da Matriz, desesperadamente, tentando capturar minhas experiências passadas. Uma noite, indo no bar no primeiro andar, esbarro com Samanta, ela está doida de bêbada, eu também, falamos rápido, pego seu contato, ela segue. Continuamos a conversa no facebook, ela faz cinema, muito assunto para falar, divido algumas das minhas criações. Tento marcar um encontro, ela sempre desconversa, diz que está ocupada. É outubro, depois da terceira vez que chamo ela para sair e não dá em nada, desisto. Dezembro, outra festa na Casa da Matriz, vejo ela nos confirmados, quero cruzar com ela.
Encontro o Nobreza na lapa, bebemos uma Gabriela no bar da cachaça, enquanto estamos lá parados, escuto alguém gritando meu nome, é Estela, está bêbada, vem até mim e começa a falar de um texto antigo que escrevi com ela como personagem, do tempo que queria ficar com ela. Ela está acompanhada por sua irmã, umas amigas que também conheço, e um grupo de gringos. O grupo chama a sua atenção, porque querem continuar andando, mas ela está toda sobre mim. Olha-me com desejo, molha seus lábios. Penso “Posso abrir essa porta, posso ficar com ela, podemos passar à noite juntos.”. Mas não faço nada, quero Samanta. Quais as chances de acabar com Samanta naquela noite? Quem sabe? Confirmada na festa não quer dizer que ela vá, fora que depois de uns 2 meses de conversas soltas no facebook, com ela recusando meus convites, também não é muito encorajador, mas não importa, quero ela, quero a oportunidade se existir. Os gringos puxam mais Estela, ela ainda olha para mim com desejo, não faço nada, ela vai. Parto para botafogo, para a Casa da Matriz. Chego lá com o Nobreza, está lotado, é uma Paranoid Android. Rodo os dois andares do lugar entre a multidão e nada de Samanta. Desisto, converso com umas outras garotas, mas não dá em nada, até que indo no bar, lá aparece ela. Já doida, me fala oi e me apresenta as amigas. Ela é a única bêbada entre elas. Começo a tentar desenvolver uma conversa, mas logo parte ela, sem muitos resultados. 

Um pouco depois, estou no segundo andar dançando na pista. Aparece ela com suas amigas, danço olhando para ela, ela vem até mim e fala no meu ouvido “Minha amiga quer ficar com você!”, respondo “Mas eu quero ficar com você!”, ela, “Mas ela te quer!”, “Não importa, eu quero você!”, nos beijamos. E aí se segue, o tipo de rara intensidade que sempre procuro. Nos beijamos, nos mordemos, nos agarramos, levanto ela no ar, cantamos juntos, falamos da música, falamos de cinema, nos agarramos um pouco mais contra uma parede, contra outra, acabamos no sofá. Seu olhar de desejo ferve constante em ebulição. Intenso, beijo, mordo tudo que não seja muito explicito ali, apesar de não adiantar muito, logo há seguranças ao nosso redor, olhando para a gente estranho. Mas não importa, só o que importa é nosso desejo. A intensidade é quase a mesma de quando conheci a minha ex, naquele mesmo lugar. Sugiro fugir para um motel, mas diz que tem de acordar cedo no dia seguinte. Saímos de lá, quando suas amigas falam que vão embora. Vamos para mesma direção, a acompanho. E aí o que estava sendo incrível, se quebra. Vou segurar a sua mão, enquanto andamos, e ela a repele. Toda atenção, todo o desejo que estava me dando dentro da festa some, agora fica longe e só conversa com as amigas. Param para comer um salgado numa lanchonete de esquina, como também, mas ainda com ela distante. Desisto, digo que vou pegar meu ônibus, e saio. Semana seguinte, conversamos mais uma vez online, falo para nos vermos, mas ela fala que vai viajar de férias para a Argentina. Um mês lá. Lá vai a situação ficando mais complicada. Minha ideia é manter o contato com ela, semi-frequente, para darmos continuidade quando voltar. Mas não sei se devo dar muito valor a isso, a conversa não é intensa, não é sexual, tudo que falo de teor sexual, ela mata rapidamente, a conversa voltou ao que era antes.


Acaba o ano, os últimos dois anos eu virei na casa do amigo da minha ex, o Fred, o mesmo que se tornou o incentivador da gente acabar, agora estou de novo, sozinho, só me restando os clichês do ano novo, ir para a praia de Copacabana ou Ipanema com amigos. Vai Renan e Otávio com mais uns amigos deles, vai Nobreza com o Obelix, Mauro já sumiu de vez com a nova namorada. Confesso que tenho um horror da virada do ano em Copacabana, ou melhor tenho um horror em geral com multidões amontoadas num mesmo espaço. Sempre acabo com alguma garota ao amanhecer, mas sempre há os momentos desagradáveis. Primeira vez que fiz isso, já pude fazer um tratado antropológico sobre o lugar. Começando em Ipanema, lá há uma maior concentração de patricinhas e playboys, no modo ultra-alcoolizados, as patricinhas esperando o coma alcoólico, os playboys na caça das comatosas. Pegar alguém no meio de uma área da praia tocando eletrônico, é pegar alguém que já passou por 10 outros caras, e isso nos últimos minutos, é a eterna competição de micareta. Não muito intelectualmente satisfatório, mas pelo menos o povo é atraente na maioria, é até triste ver o estado acabado de algumas garotas assustadoramente bonitas. Descer para Copacabana, é descer para o Inferno da Divina Comédia, a quantidade de pessoas se multiplica, a quantidade de sujeira na rua e na praia também. Copacabana recebe a população obesa, mas malnutrida do Rio de Janeiro, a população das zonas sem lei, onde todo mundo faz o que quer, e ninguém se importa com o outro, eu sei disso, porque eu vivo nessa zona, em suma muita gente feia, barulhenta e pouco educada. Você desce a Av. Atlântica, é um circo de excentricidades. A maior concentração é sempre à frente do Copacabana Palace, onde do alto observam os ricos não muito diferentes daquele público, as monstruosidades que se alimentam da miséria daquele povo, seja através da corrupção na máquina estatal mantendo toda a infraestrutura de sucata da cidade, ou aniquilando intelectualmente e moralmente através do circo da tv aberta.

Então, acabamos no Leme, uma continuação menos circo de Copacabana, Renan e Otávio vão atrás de mulheres e logo somem, sobram eu, Nobreza e Obelix. Sobra eu, na verdade, narrando para o Nobreza, meus recentes traumas com as garotas. Falo de Ingrid, minha ex-fuck-buddy, falo de Samanta, falo da minha ex, mais uma vez é isso que me define, minha eterna caça romântica por mulheres. A contagem regressiva para o final do ano começa, e tudo que me passa pela cabeça é que preciso urinar. Estamos no meio da praia, perto da água, pessoas para todos os lados, impossível de chegar num banheiro químico, impossível de achar uma parede isolada para batizar. 5, 4, 3, 2, 1, todos olhando para cima, para os fogos, abro a braguilha, miro para onde não tem ninguém, e urino. Pessoas comemorando ao redor, abrindo champanhes, fogos estourando no ar, o cheiro de pólvora no ar, respingos de bebida caindo sobre mim, flashes de foto para todos os lados, e eu lá, urinando para o ano novo. Não acabo aquela noite com nenhuma garota.

Começa janeiro, e Isabela começa a curtir tudo no meu facebook. Isabela, lembrando, é a enfermeira que conheci no meio do ano. Cujo namorado tinha traído ela, eles terminaram, ela saiu comigo, nós ficamos, eu fiz umas piadas sobre ela querer me agarrar de forma selvagem antes do segundo encontro, ela desconversou, e logo tinha voltado com o ex-namorado. Começo a conversar com ela, ela acabou de novo com ex. Ah, agora tudo faz sentido, eu sou um pneu reserva. Eu estou sozinho, de férias, sem garota certa, a coisa com Samanta talvez não vá a lugar nenhum, já que ela está na Argentina, e quando sai originalmente com Isabela, cogitei por 4 segundos ela como uma namorada em potencial, então marco um encontro. Vamos fazer uma trilha no Horto, uma área da Floresta da Tijuca com cachoeira depois do Jardim Botânico, ficamos mais uma vez, e não é a mesma coisa. Ela virou uma Estela, alguém que eu quis, me rejeitou, e quando ela quis, eu já tinha perdido todo o interesse. Ela é bonita, tem gostos parecidos, faz coisas interessantes, é uma motoqueira. Mas o charme se desfez, as coisas que não gosto deixaram de ser “bonitinhas”, e se tornaram só pouco atraentes. Ela fala que nem um... um carioca – que horror! Vivi a maior parte da minha vida nessa horrenda cidade, mas quando abro minha boca sempre sou considerado um estranho, me perguntam da onde sou, de que estado. Pergunto de volta, da onde eu soo ser, não sabem responder, só sabem que falo estranho. Isso se chama um bom vocabulário e gírias de pirata. As gírias de pirata opinião de uma outra garota que já sai e de um amigo. Falar “motim” e “debandar” no dia a dia, me qualifica como um pirata. Mas então, ela fala que nem um carioca, cheio de gírias, que eu acho feias de mais para registrar na minha cabeça. É quase a mesma sensação de ver uma garota dançando funk, só que verbalmente. Eu só sou carioca quando estou em São Paulo, aí não são as gírias que me fazem, mas o show da Xuxa. Sempre pessoas denunciando meus ss e xs. São as gírias, o fato dela ter me rejeitado quando teve oportunidade, e também provavelmente os peitos pequenos. Mas como já disse, estou solitário e marco mais encontros.

Vejo as fotos de Samanta na Argentina, pergunto de suas aventuras de vez em quando, não me dá grandes respostas. Saindo para festas com Renan e Otávio, conheço Manoela no Teatro Odisseia. Ela é basicamente uma colegial, 18 anos, acabou de sair da escola, fazendo vestibular, nos agarramos intensamente parte da festa, é mais puramente sexual que minha interação com Samanta. Marcamos de sair, bebemos, nos pegamos, tento mover para um motel, mas ela recusa. Outros encontros, mesma sequência. Porém, esses encontros sempre acabam de forma diferente, são encontros andarilhos. Eu gosto de andar, eu gosto de passear, com a minha ex, nós fazíamos turismo pelo Rio de Janeiro e por São Paulo, andando 10, 20, 30 quilômetros. Eu e Manoela, começamos nossos encontros numa parte do Rio, e acabamos em outra. Nosso primeiro, um bar na rua do Ouvidor, não quer ir para motel, mas aceita ir para o jardim do Mam, acabamos escondidos atrás de uma árvore do aterro, eu mamando seus seios, ela me masturbando. Outro encontro, começamos no Parque Lage, mas ele já vai fechar, andamos até o Arpoador, e mais uma vez entre as pedras, mar à frente, lua no céu, chupo seus seios enquanto me masturba. Descubro que saiu de um relacionamento de escola e está abalada. Não tenho nenhum interesse romântico nela, mas eu quero o seu corpo, quero possuir ela forte.

Isso tudo, enquanto ainda esbarro de vez em quando com Maria Samanta em algumas festas. Pouco interagi com Samantas na minha vida, agora tenho duas. Sim, já houve outra Samanta, a primeira da minha lista de garotas, há muito tempo. Depois do dia que nos conhecemos naquela festa em dezembro em que falamos metade da festa, mas não ficamos, pouco desenvolvemos nos nossos esbarrões. Tentei marcar de sair, mas sempre ela tinha uma desculpa. Virou uma outra paixão ilusória da noite, mas uma paixão que ainda estava perseguindo. Para fechar janeiro, conheci Thaís. Loira, olhos verdes, de Goiania, mas turista internacional, fazendo faculdade na Inglaterra. Estava de férias no Rio, foi para a Cave em Copacabana. A Cave é uma festa que a maioria das vezes só toca hip-hop. Era uma segunda, feriado na terça, logo um bom dia para ter festa. Mas fui realmente pela insistência de minha amiga Vanessa, que mora em Copacabana, uns dois quarteirões da festa. Chamei também um novo amigo de festa que tinha feito e também morava por Copa, o Romeu. A festa estava semi-vazia, muitas patricinhas quase certo com identidade falsa, cujos hormônios não tinham ainda definido o corpo. Ficamos dançando e conversando até o meio da noite, quando chegou Thais com seus amigos. Já bêbada, começamos a conversar, o tópico principal, “que festa ruim, cadê o rock?”. Tudo que falava, falava com um lindo gigantesco sorriso. Fui beijá-la, colocou o dedo na frente, me disse, que só se eu convencesse o Dj a tocar rock. Já estava entregue aqueles olhos e sorriso, fui falar com o Dj. Não adiantou de nada, a festa não era de rock. Ok, então coloquei Strokes no meu celular e coloquei os fones nela. “I´ll try anything once”, versão acústica do trailer do filme Somewhere da Sofia Copolla. “Why not try it all, if you only remember it once.” E nos beijamos. Seus olhos verdes brilhantes olhando para mim, seu sorriso enorme toda vez que não estávamos falando. Eu completamente apaixonado. O que importa se em três dias ela ia voltar para Goiânia, eu já fiz isso antes, o avião só ia ser mais caro do que era para São Paulo, mas não importa. Nossa noite foi perfeita. Não queria acabar à noite como algo puramente sexual, então nem sugeri um motel depois. Anotei seu número, ela disse para chamar ela no whatsapp depois, eu nem tinha whatsapp. Íamos nos ver mais uma vez antes que voltasse para Goiânia. Foi-se ainda sorrindo.

Dia seguinte, arrumei um celular com whatsapp, mandei uma mensagem, foi visualizada, sem resposta. Liguei, sem resposta. Achei ela no facebook, mandei uma mensagem no chat, sem resposta. Mandei outra mensagem no whatsapp, sem resposta. E ficou por isso mesmo.

Maria Samanta, Beatriz e Samanta em dezembro, Thais em janeiro, uma coleção de semi-paixões não realizadas. Um ano seco, com uma única outra garota que me despertou algo, Miranda, enquanto sofria com minha ex, e agora quatro, uma atrás da outra. Por quê? Porque logo seria fevereiro. E fevereiro é quando deveria estar namorando de novo e ter saído dessa nova vida de caça-romântica.

Fevereiro, não isso não é algo astrológico, numerológico, feitiçaria, ou qualquer coisa assim, é só pura demência mesmo. Meu primeiro namoro começou em fevereiro, e acabou no fevereiro seguinte, meu segundo namoro também começou em fevereiro, no ano seguinte ao término, e acabou dois anos depois em fevereiro. Logo, segundo a minha demência, eu tenho até o final de fevereiro para sair dessa porcaria de procura, e mais uma vez me assentar com alguém que eu me importe. É isso, ou não ter mais datas fixas para nada.

Enquanto todas as minhas semi-paixões distantes continuavam dessa forma, distantes,  continuava a sair com Isabela e com Manoela. Isabela depois de uns três encontros foi para a minha casa, seus olhos de desejo enquanto arrancava as suas roupas e tomava o seu corpo eram interessantes, mas nada que me despertasse uma paixão de verdade. Fora que o que ela me falava era muito pouco atraente. Quando acabamos de fazer sexo da primeira vez, ela fechou com um “Agora estou estragada, não sou mais de só um.”. Disse num tom cômico, mas foi estranho do mesmo jeito. Fora suas histórias, ela me falou como voltou com seu namorado, depois que saímos no ano passado. Ela descobriu a traição olhando mensagens no celular dele. Ele foi para um motel com uma estagiária feia do trabalho. Depois ficaram separados por um mês, quando nós saímos, e voltaram quando um dia na central do brasil, ele ficou implorando para voltar com ela, chorando. Ela falava com orgulho de como fez ele se desculpar e implorar publicamente para voltar. Não tinha a mínima noção do quanto esse orgulho dela por humilhação era feio. Meses depois, acabaram de novo, ela só disse dessa vez que ele estava dando em cima de outras garotas, e que ela desistiu. Segundo ela, ele ainda estava atrás dela querendo voltar. Havia também um ex-professor da faculdade dela, que após umas caronas que ele deu a ela, estava se dizendo apaixonado, e aparecia de vez enquanto na porta dela. Aparentava, que ela queria criar a noção, que havia muitas pessoas atrás dela, meio para tentar criar em mim algum tipo de espírito de competição, ou ciúme. Só fez criar o efeito oposto.

Samanta finalmente volta da Argentina, mais uma semana de conversas no facebook, e finalmente marcamos um encontro. Cai num sábado, um mesmo dia que já tinha marcado um encontro com Isabela. Não cancelo, depois de um mês querendo, não confio que algo não dará errado no meio do caminho, então vou para o encontro com Isabela, que é ao redor da hora do almoço na Quinta da boa vista, chego já inventando uma mentira para explicar porque não poderá ir para minha casa depois, digo que tenho de ajudar na mudança de um amigo. Ficamos três horas juntos, troco mensagens com Samanta confirmando o cinema mais tarde, e lá vou eu depois. Vamos para o Estação Botafogo, vemos o filme e nos agarramos. Mas não é a mesma coisa da festa, ela bêbada e ela normal são coisas completamente diferentes, ela é inibida, não me agarra com a mesma intensidade que a agarro. Após, vamos a um bar na Voluntários da Pátria e conversamos de cinema. Ela viu os meus filmes, tem várias críticas quanto a fotografia e a atuação de alguns atores. Isso automaticamente me remete a minha ex, a sua última carta. Ela sempre disse que gostava dos meus filmes, não tinha nenhuma crítica, para no fim dedicar alguns parágrafos da sua carta para dizer o quanto eram ruins. Agora, ali Samanta, fazendo uma análise construtiva e honesta deles, me deixa excitado. Eu preciso desse tipo de honestidade. Nosso próximo encontro é na outra semana, no Parque Lage. Fazemos um piquenique lá, e mais uma vez não há a mesma intensidade sexual, não da parte dela. Vejo um desejo em seus olhos algumas horas quando conversamos da vida, mas não dura muito tempo. Tenho obviamente algo por garotas de olho puxado, minha ex era metade japonesa, Samanta é metade índia. Ela namorou antes por um ano. Eles brigavam demais, e ela que acabou com a relação. Desde então, não quer se relacionar, ficar presa a ninguém. Não interajo com essa informação, pois já escutei isso antes de pessoas que duas semanas depois estavam namorando. Foi para a Argentina ficar na casa de uns amigos que conheceu durante as férias do ano passado no México. Em ambos os encontros sugiro no final que podemos ir para minha casa, ou para um motel, em ambos ela desconversa. Naquele dia ela ia sair à noite com as amigas. Invento que também tinha planejado sair com os meus amigos. Eu ia para lapa, ela ia encontrar umas amigas lá e depois ia para uma festa na praça Mauá. No ônibus voltando, ainda com ela, cogito se a razão dela ser tão inibida nos encontros, 180º graus o comportamento da festa, ser por alguma desconfiança sentimental, algum bloqueio que ela criou para não se abrir sentimentalmente. Falo no ônibus que sinto que temos uma conexão - talvez me abrindo primeiro, facilite para ela. Nada responde.

Arrumo amigos para sair à noite, o Juju do teatro, e uns amigos dele. Chego cedo na lapa para “esbarrar” com ela. Encontro com ela, ficamos, chega a sua amiga, é igual a última vez que estava com amigas, torna-se distante. Quer ir num depósito, comprar bebida barata para beber antes da festa. Vamos no depósito que surgiu no lugar que era o Cine Lapa, quase a minha moradia de festa noturna anos atrás. Ela literalmente compra a cachaça mais barata do lugar. Enche um copo grande, só com gelo, sem mais nenhuma mistura e começa a virar. E aí eu entendo que ela tem um problema com álcool. Eu e a amiga dela acompanhamos com pequenos goles naquilo que mais parece gasolina barata. A amiga mistura com coca-cola, eu acompanho do jeito que está. Ela fica bêbada rápido, e já vai para o segundo copão. Penso que ela está de alguma forma quebrada por dentro, ninguém beberia assim sem ter algum problema. Ela é fechada sóbria, e tem de virar gasolina barata para se libertar, ou o que quer que possa ser chamado o que ela quer com aquelas quantidades gigantescas de álcool barato. Ficamos mais um pouco, digo que quero devorar ela toda, ela me responde com um “Vocês homens só querem a mesma coisa!”. Já um pouco bêbado, a demência me diz que eu tenho de achar uma forma de mostrar que eu não quero só fazer sexo com ela, que eu estou desenvolvendo sentimentos por ela. Então eu digo “Eu gosto de você, eu não estou vindo aqui esbarrar com você, falando com você pelo facebook um mês, só porque eu quero o seu corpo. Sim, eu quero o seu corpo também, eu quero tomar ele todo, eu quero devorar cada centímetro dele, mas eu estou aqui porque eu gosto de você!”. “Você está mentindo.”, me diz com um sorriso. “Não, eu gosto de você, e eu sei que você está gostando de mim também, eu vejo nos seus olhos.” “Não, você não tá vendo nada.” Aí chega seu táxi, e ela vai com a amiga para a festa.

Não sei o que acabou de acontecer. Só sei que ela acabou de ir para uma festa ultra bêbada, provavelmente para pegar outros caras. E eu fiquei ali na lapa, me criticando, analisando se falei de mais, se mostrei muito interesse. Bebo o resto da gasolina que ela me deixou. Sinto que está tudo acabado, que talvez possa ter atravessado alguma linha que não devia. Ligo para o Juju, estão perto, no bar da cachaça. Vou para lá, encontro Juju e seus amigos de Niterói, também atores. Estão bebendo para ir depois a uma festa no Bola Preta. Decido virar um alcoólatra naquela noite igual a ela. Conto para eles toda a minha história com Samanta até aquele momento, porque eu sou esse tipo de pessoa. Poderia ter um mendigo como psicólogo, se necessário. Não é a primeira vez que falo dela para outros, ela é a argentina entre meus amigos. Por curiosidade, as outras são a enfermeira, a colegial, a roqueira, ... Confesso: “Eu poderia namorar essa garota, ela me desperta isso!”. Bebo com eles, vamos para a festa, na fila encontramos mais amigos, com mais bebida, algo azul, não tenho a mínima ideia, bebo mais. Na festa, desorientado, só penso nela, aí meu celular treme, mensagem dela: “Onde você tá? Essa festa tá chata, quero te encontrar!” Respondo que também quero encontrar ela. Saio da festa e ligo, ela diz que vai voltar para lapa, assim que encontrar um táxi que aceite cartão, ou um caixa. Marcamos na esquina, do outro lado do bar da cachaça, onde há uns bancos de concreto. Vou para lá e sento, esperando por ela. 30 minutos e nada, ligo de volta, ela diz que ainda não conseguiu pegar o dinheiro para o taxi. Diz que é melhor deixar para outro dia, digo que não, para nos encontrarmos, vou esperar ela. Um cara gay vem sentar do meu lado e me passar cantada. Eu lhe conto toda a história sobre Samantha até o momento. Ele vai embora desinteressado. Uma hora depois ela me liga, me diz para ir para a esquina, que ela está no táxi e é para eu ir com ela. Não sei que esquina ela está falando, já que estou em uma e virado para as outras três. Nada dela. Ela desiste de dar indicações e desliga. Uns minutos depois aparece. “Seu idiota, eu tava na outra esquina, eu demorei tanto para conseguir um táxi.” “Hum, eu vou lá saber que esquina você tava falando, e o que é isso de chegar me xingando?” “Desculpa, eu disse que sou assim descontrolada quando bebo.” Nos agarramos. “Você não quer me levar para algum lugar?” “Um motel?” “Sim.” “Seguindo essa rua tem alguns.” Pego sua mão e sigo na direção da rua. “Você não quer pegar um táxi?” “Mas é logo ali na frente.” “Tudo bem.” No meio do caminho ela puxa a sua mão de volta. “Eu nunca passei por isso, de entrar num motel sem táxi.” “Eu nunca entrei num de táxi.” “Os outros caras tiveram a noção de chamar um táxi.” Em 5 minutos, extrema antecipação apaixonada se tornara só num desconforto. Decido ignorar e só continuar indo para o motel. Entramos, ela ainda fica com a expressão intransigente até o momento que começo a beijar o seu corpo, aí seu olhar de desejo retorna. Porém a sensação de desconforto do meu estomago não muda. Tiro sua roupa, beijo, mordo, todo o seu corpo. Seu corpo é lindo, eu quero isso há mais de dois meses, desde que esbarrei com ela na primeira festa, esse desejo só cresceu, mais e mais, mas agora só há desconforto com o comportamento dela. Desconforto no estômago, somado as três garrafas de álcool estranhas que bebi nas últimas horas, deixam meu pênis inutilizável. Olá, de novo, imperador verme! Ela não se satisfaz com a minha boca, nem com meus dedos, quer meu pênis penetrando-a forte, e ele por sua vez está morto. Ela fica irritada com isso. “Nunca passei por isso, isso é que é querer dar para um velho!” Eu tenho só oito anos há mais que ela. Naquele momento nem penso mais no seu comportamento, só quero funcionar. “Foi a bebida, eu só preciso dormir uma ou duas horas que acordo funcionando.” “Não, daqui há uma hora eu tenho de estar em casa. Minha avó acorda 6 horas.” Deixo-a em casa de táxi, falamos pouco na volta.

            Minha mente está confusa, metade pensa no seu comportamento irritado, sem educação, vulgar, o outro para o quanto eu a acho linda, e o quanto temos em comum. Atribuo aquilo ao álcool, e a qualquer coisa que esteja quebrado dentro dela, para ela se revelar assim quando bebe demais. Quatro horas depois, já estou contando todo o resto da história para o Juju, antes do ensaio da minha peça. Falo com ela pelo facebook à noite. Ela se desculpa pelo comportamento, mas é isso, fica aí, próximas tentativas de marcar um encontro ela desconversa. Analiso que naquela noite, ela ficou tão irritada quando nos encontramos, pois já vinha pensando em ir direto para um motel e não queria ter saído do táxi que achou. Analiso também que neste um ano, desde o outro fevereiro que a minha ex acabou tudo por uma mensagem no chat do facebook, nada mudou, eu ainda só sou uma criatura desesperada, tentando se grudar a qualquer coisa que pareça me fazer sentir algo. E isso muitas vezes não por razões reais, mas pelas que crio para me dizer que ainda posso sentir estar vivo. Em duas semanas, começa o carnaval.

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