Sentenciado, executado, pegue-me se for capaz

“Alguém devia ter caluniado a Josef K., pois sem que ele tivesse feito qualquer mal foi detido certa manhã.”
Franz Kafka

O culpado acorda uma manhã. Grande, falsa, interrogante. Nascido em um mundo ao qual não criou. Responsabilidade pela vida a qual não tem. Condenado por uma mão a qual não vê. Quer liberdade? Mentira, mentira, mentira. Acorda para parar, acorda para cair, acorda para seguir. Acorda a pouco fazer, a pouco responder, a muito culpar e a tudo aceitar. Culpado sinceramente! Estás aqui, pois aqui decidiu se encontrar? Ou estás aqui, pois outro decidiu que aqui devias decidir se encontrar? Quer liberdade? Pronto a luta estejas então, pronto ao avanço estejas pois não, pronto a decisão estejas é claro! “Sim! Aponte-me o culpado e contra ele lutarei!” Pois o aponto, e como se sentes? “Enganado! Aponte-me a outro, por favor!” Só há um. Só há um e enganado não pode ser, só enganado pode se fazer. Nascido em um mundo ao qual criou. Responsável pela vida que tem. Condenado pela mão a qual não quer enxergar. “Mas ninguém me deu as respostas!” Pois ninguém formulou as perguntas! Mais fácil o papel de servo que o de senhor. Mais fácil obedecer que tomar decisões. Mais fácil se dizer livre quando outro definiu esta liberdade. O culpado morre nas portas da lei. Grande, falsa, exclamante. Tenta sair, não entrar. Tenta fugir, não encontrar. Tenta se entregar, não tomar. Verdade, verdade, verdade. O guarda olha com vergonha aquele que quer fugir. O culpado nem decisão quer tomar sobre sua própria deserção. A lei se aborta, esperava ser constituída, não renegada por outra. “Mas tomo decisões!” Claro, claro, imagina! Pois não dormes como te deitam, dormes como agüentas. Pois não comes como te enchem, comes o que te oferecem. Pois não respiras como te intoxicam, respiras como necessitas àquilo que te mandam fazer. Pois não procrias como te dizem, mas como fazem questão de não te dizer, afim de resultar em outros culpados iguais a ti. Pois não compreendes como te mandam, compreendes o necessário a dissertes igual aos que não te contam a verdade. Imagina, culpado não és! “Exatamente!” Imagina, és livre! Livre como a multidão a multiplicar-se. Livre como a multiplicação a diferenciar-se. Livre como a diferenciação a aniquilar-se. Livre como um pássaro que fugiu para dentro, a sua própria ilha habitar. Pássaro gordo, cujas asas perderam a capacidade de voar. Nunca animal tão gordo e relaxado aparentou ser tão magro e miserável. Um miserável a morrer fugindo da decisão de constituir a sua própria lei, a implorar ao guarda da sua própria dignidade que lhe deixe sair, desesperado a entregar toda a responsabilidade a qualquer outro que não seja si mesmo.

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