Uma jornada alcoolizada e promiscua pelo Rio de Janeiro, de noites na Lapa, sob as luzes alaranjadas dos postes e ruas repletas de mendigos e turistas, de chopadas universitárias, com robôs de mãos nos joelhos descendo até o chão, de sessões de cinema alternativo no Odeon, regadas a cachaça, neon e ativistas, de sedução e desapontamento, de usar e ser usado, contrastando a realidade do dia a dia, com a ilusão romântica de filmes hollywoodianos, de séries de tv, de exaltações literárias da bohemia. Um confronto contra as armadilhas da memória, da lembrança e dos fantasmas que a acompanham, da criação de momentos no tempo com outra pessoa, de sentimentos fortes que nunca parecem se dissipar, mas que talvez nunca tenham realmente ocorrido. Um caminho psicológico, pela seleção sexual Darwiniana, através do próprio e de cutias dançantes, pelos filmes de Wong Kar Wai e Sofia Copolla, pelo teatro dionisíaco das sensações, e pelos rinocerontes em meio a escuridão no monte Roraima que dá fim ao mundo.
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Prefácio
“É terrível!” essa foi minha
primeira exclamação ao terminar de ler esta obra. Sinceramente, comecei a ler esperando
um típico clichê romance sentimental, do tipo bom para o interior de uma
lareira, mas logo – e do NADA, devo exaltar - ela se tornou uma experiência
bem, como posso colocar, estranha, me disse um “hum” interiormente, seguido
logo após de um “ah”, depois tossi, depois tossi mais um pouco, “o que é isso?
por que isso está aqui? não faz sentido”, quando comecei a me ver lentamente
perdendo a sanidade - tinha certeza estar sendo acompanhado no canto do olho
por um jacaré de terno a fumar um charuto, porém me recusei a olhar em sua
direção -, cogitei o suicídio obviamente, ir ao McDonalds, tomar um milk-shake,
aí, de repente, me vi de novo lendo o mesmo do início, lembrei-me de minha
juventude antes da guerra, lembrei dos meus amores, de seus peitos, me senti
levemente sendo enganado pelo autor, também me senti enganado pelo meu
cachorro.
Acredito que a primeira impressão que se pode ter sobre o autor, ao
começar a ler este livro, é que ele é um pervertido - o que não duvido que seja
-, seguido do sentimento que é uma criança de cinco anos de idade – uma criança
pervertida -, para logo depois concluir que é absolutamente demente – uma
criança demente e pervertida -. A premissa deste troço: um jovem namora uma
garota, tem problemas, enche o saco, acaba a relação, logo depois se descobre
doente mental, volta atrás, ela não quer mais, ele não sabe o que fazer, começa
a questionar a sua vida e decisões, começa a sair desenfreadamente para festas
atrás do esquecimento, seja numa substituta, em bebida, em “novas
experiências”, yada, yada, yada, o que os filmes da Disney, de Hollywood, e
séries de tv lhe mandam fazer, aí do nada, espaço sideral, a Terra girando ao
redor do sol, e aparecem as cutias com topete, ou você se encontra lendo um
artigo sobre o comportamento social em festas universitárias do Rio de Janeiro,
ou um tratado sobre góticas e cabeludos, ou a matemática da demência de
torcedores de futebol, e aí rinocerontes - meu deus! -. Já aviso logo, esse
título “Meu ano sem ela”, é muito enganador. Fora que já aviso também, que fiz
a pesquisa, e não existem cutias de topete, nem nunca existiram. Também aviso
que não é um livro nem um pouco saudável - devia ser incinerado, na verdade -,
não que isso seja um problema para mim, já experienciei muita loucura na vida,
mal consigo dormir à noite com todas as lembranças, porém uma de minhas netas,
Penélope, de 22 anos, não lembro de que mãe ou avó, são tantas, me roubou o
manuscrito, leu em uma noite e me amanheceu chorando. Ah... esses jovens
pós-nucleares se sensibilizam por qualquer coisa, são também crianças dementes
e pervertidas igual ao autor. Dia seguinte, foi sua prima Tatiana, que após ler
o primeiro capítulo, xingou a primeira e depois o autor, só para logo depois
também acabar o livro no mesmo dia, e me pedir o contato dele. Ficou muito
sentida, quando contei-lhe que já estava morto, esmagado por um piano.
Sinceramente, a reação delas me foi muito desagradável. Suponho, que esses
jovens traumatizados de hoje em dia, possam encontrar algo nas situações do protagonista
a que possam se relacionar, algo nos seus erros e acertos, mais erros que
acertos, na verdade. Porém, deviam é estar lendo um Hesse, ou Kafka, ou
Dostoievski, ou Schopenhauer, isso sim, não esse desbaratinado.
Salazar “Sal” Mummramad
(Ganhador do Nobel, em 1984, na categoria: outros.)
1.
Uma noite qualquer
Chupa-me descontroladamente, parece
querer me engolir para dentro de si, enquanto eu me entrego a um misto de
prazer e dor. Nunca fiz isso assim ao ar livre, especialmente contra uma parede
na parte de trás isolada da faculdade. Não imaginei que à noite iria acabar deste
jeito, fui aquela chopada por outras razões. Mas aqui estou, com esta garota,
que conheci a apenas uma hora, ajoelhada a minha frente, chupando o meu pau como
se esse fosse seu único motivo de existência. As coisas raramente acontecem na
vida de forma planejada.
A chopada é de economia, a faculdade,
a Uff, Universidade Federal Fluminense, na famigerada terra depois da poça, em
oposição ao Rio de Janeiro, também conhecida como Niterói. Obviamente, não sou
um aluno de economia - que tipo de pessoa seria isso? E obviamente ser da
faculdade da chopada não importa a ninguém aqui, isso é uma chopada, só uma
desculpa para todos de diferentes faculdades se encontrarem, se embebedarem e
se pegarem sem muitas consequências – quase função primária de se estar numa
faculdade. Chego cedo e o lugar ainda está meio vazio. Ocorre basicamente na
área ao redor de um prédio velho do campus, um prédio construído antes dos
grandes blocos de concreto frios que agora compõem a maioria da universidade,
com um espaço à sua frente de jardins, onde as multidões logo poderão se
aglomerar, se apertar, esmagando a grama e urinando nas árvores. Como é usual
no começo de qualquer chopada, pequenos bolsões de pessoas se dividem entre o
lugar. Não vejo ninguém que conheço, logo ligo para meus amigos. Todos ainda
estão longe. Faço o que sempre faço em qualquer festa, me desloco até um desses
círculos de pessoas, e começo a falar, perguntas básicas sobre o óbvio para me
enturmar e passar o tempo até que alguém que eu conheça chegue. É um jogo de
números, alguns já estão tão fechados nos seus clubinhos que olham estranho
qualquer um que apareça, outros estão tão à procura de algum novo fator interessante
em seu dia-a-dia que se abrem acolhedores para qualquer estranho.
Converso, converso, bebo, bebo, e logo o lugar está
insuportavelmente cheio, um formigueiro, banhado de música ruim e álcool.
Vários amigos chegam, e como nunca gostei de ficar parado no mesmo lugar, me
desloco de um grupo para outro constantemente, me embrenhando pela massa, sempre
olhando para todos os lados, sempre esperando ver alguém que não está lá. E aí
no meio disso encontro um amigo meu, um amigo que também é amigo dela, o Carlos,
é... o Carlos. Começo a falar com ele e logo pergunto.
- E aí sabe se a ... vem hoje também para cá?
- Ah não, ela me ligou, decidiu não sair, amanhã é o aniversário do
pai.
Esta é a razão para eu estar ali: esbarrar com ela, esbarrar,
tropeçar, me debruçar. Não estamos mais nos falando direito, mal nos vemos, mas
mesmo assim algo em mim sempre diz que a próxima vez que for esbarrar com ela
as coisas serão diferentes. Então, já que não tenho mais nada a fazer ali do que
originalmente pretendia, faço o que todo mundo está fazendo, vou à caça, atrás
do esquecimento, atrás da anestesia, atrás de qualquer outra garota que me faça
de alguma forma me esquecer da que quero, afinal essa é a norma, nada vale,
nada importa. A primeira é uma baixinha peituda, chamaremos de Jéssica por
conveniência, cabelo encaracolado, cara de perdida, mas que assumiu o papel que
sabe onde está, já que se passa o dia se preocupando com uma faculdade, deve se
divertir alguma hora, deve se divertir como todos aparentam também estar se
divertindo – todos sorriem, não? - e onde está, é meio maluca, numa roda de
maconha. Não participo, nada contra - só sou contra os juízes que acham que
devem proibir algo e às velhas que discutem a degradação da juventude na sala
de espera de oftalmologistas -, já desisti de fumar qualquer coisa assim - só
sinto algo quando estou extremamente bêbado, e mesmo assim não sei se isso é de
verdade, ou um papel que assumo, logo não faz diferença. É rápido, a agarro, a
levanto no ar, chupo sua língua, chupo os seus lábios, aperto sua bunda, ela
faz o mesmo nos meus, me desinteresso, sigo a fila. A segunda é uma paulista, Paula,
nem na faculdade ainda está, é uma colegial do terceiro ano, visitando uma
amiga. Nada de muito interessante para falar, beijo, pego o seu telefone.
- Mas eu sei que você nunca vai me ligar.
- Claro, que vou!
Estranho ser questionado no papel que estou interpretando, apesar de
ser verdade, nunca vou ligá-la. Sigo a fila. Na verdade, não posso me focar em
nada naquele lugar, pois ainda penso nela. Encontro o..., é... Carlos de novo.
Ele é do tipo paradão, que não faz nada e que se diz que só está ali para
desfrutar da companhia dos amigos, ou seja, não sabe lidar com as mulheres.
Mais conversa fiada e depois de mais umas citações do nome dela, nada que desse
muito na telha, ele faz o comentário que puxa a conversa que eu quero ter.
- Sabe, foi uma surpresa vocês terem
acabado.
- É, a gente tinha muito problema. Muito intolerante um com o outro
em algumas coisas, com as nossas diferenças.
- Sei como é... dava para ver pelo temperamento dela que poderia ser
assim.
- Sim, mas sabe uma coisa que aprendi recentemente, isso não deve importar
em uma relação, talvez amar outra pessoa seja também amar suas diferenças e
saber lidar com elas - única coisa útil que tirei de uma aula de Sociologia e
Psicologia, me fez muito sentido na hora, é incrível quando você só entende os
clichês quando eles se apresentam em lugares estranhos, em certas condições
mentais.
- Vocês não acabaram bem, não?
- Não, por mim agora ainda estaria com ela. Você me vê aqui
conversando com todo mundo, com tanta facilidade, pegando várias garotas, sabe
por que eu estou assim? Porque ela me disse para fazer isso, disse que seria
melhor se eu conhecesse mais pessoas, fizesse amizade com elas, me ajudaria a
esquecer do passado. É isso que estou fazendo. E sim, eu pego outras garotas,
mesmo ainda querendo ficar com ela. Mas o que vou fazer, quando quem eu quero
me rejeita, ficar em casa olhando para o ar?
- É, você tá certo, mas eu sou diferente. Tive um problema também
com uma garota há um tempo atrás, a gente namorou algumas semanas, mas não deu
certo, logo a gente perdeu o interesse. Mas isso não é uma necessidade da minha
vida, eu prefiro ficar sozinho. (Ela, a ela que estava esperando, havia me
falado sobre isso. Tinha lhe dado conselhos de como se comportar com uma
mulher, como ela disse, da forma que eu não fazia, ou seja, lhe pague um jantar
num restaurante, lhe encha de elogios. Uau, que poder de sedução! É haviam
perdido o interesse, ela primeiro, e ele por falta de outra opção.)
- Também era assim como você, fechado com todo mundo que não fosse
do meu núcleo cotidiano, não me aventurando muito fora da caixa. Algumas vezes
até achei que esse era o meu estado natural, isolado numa ilha, confortável
numa caixa escura, mas agora estou treinado para ser desse jeito, extrovertido,
falante, sempre tendo contato com muitas pessoas, me acostumei, isso se tornou
o normal, e a caixa, claustrofóbica demais. Antigamente, só ia para as festas,
pegava as garotas e nada mais, quando isso sequer acontecia, sempre dependeu
muito do meu humor na hora. Agora, eu paro, conheço as pessoas, converso, e não
é que as coisas são muito mais fáceis assim, muito mais oportunidades aparecem
desse jeito. Mas mesmo dessa forma, para falar a verdade, não sei se isso valha
realmente alguma coisa, ainda trocaria tudo isso para estar de novo com ela.
- Realmente, não sabia que você ainda gostava dela. Sempre achei
vocês tão bem juntos. Dou a maior força para vocês voltarem.
- Sim, de certa forma a gente era. Mas não sei para onde as coisas
vão seguir, ela me contou que já está saindo com um cara.
- Sim, eu sei.
- Você sabe como ela está com ele?
- Tipo, ela é minha amiga também, não seria certo eu falar coisas
dela agora. Mas sabe, quando vocês estavam saindo, ela também me confidenciava
coisas, e agora simplesmente não é a mesma coisa, ela não sente do mesmo jeito
com ele de quando vocês estavam saindo.
- É... mas então, vamos esquecer disso agora e vamos rodar por ai,
você tem de achar alguma mulher também!
- Vai lá, vou ficar aqui com uns amigos.
- Vamos, eu insisto, você me aponta que eu faço você acabar com ela.
- Não, não, não precisa, eu não tenho a mesma facilidade que você.
Olho para os lados, vejo uma roda com garotas atraentes, puxo
conversa e puxo também o meu amigo junto. O apresento rapidamente para uma das
garotas e me foco na outra, a alta de lábios grossos. Linda, alta, cabelo encaracolado
– sim, isso me é um vício - aluna de psicologia. Chama-se Joana, nunca fiquei
com uma garota chamada Joana, e por alguma razão isso dá um outro ar de
inovação. Esqueço completamente o meu amigo e me foco nela. É fácil para mim
conversar com gente de psicologia, uma das formas que usei para sair da minha
antiga caixa foi ler livros sobre comportamento humano. Milhares de tópicos
podem ser seguidos. Mas o que isso importa, logo estou a me agarrar junto do
seu corpo e a beijar os seus lábios. Não sou uma pessoa tímida, e que bom, nem
ela, a alguns segundos de lhe beijar, já estou apertando forte sua bunda, já
estou a lhe levantar no ar enquanto a beijo - outro dos meus vícios. Andamos e
nos beijamos, bebemos e nos beijamos, conversamos mais um pouco e nos beijamos.
A cada intervalo, seus olhos brilham mais, a cada beijo, ela fica mais
excitada, seu corpo cada vez mais quente e vibrando de tesão. E do nada, estamos
a caminho da parte de trás do prédio da faculdade. Inicialmente só pretendo
jogá-la contra uma parede para poder lhe beijar mais, morder seu pescoço, lhe
apertar toda com o meu corpo contra a parede. Mas disso, logo se segue a minha
mão a correr por seus seios, seus pequenos, mas apetitosos seios, e logo minha
boca está sobre eles, a sugar daqueles mamilos grandes e arrebitados, inversamente
proporcionais aos seios, enquanto minha outra mão desce para dentro de sua calça.
Algumas vezes pessoas passam e a gente para, fingimos que só nos beijamos. Seu
olhar para mim é algo que me dá prazer, ela está encantada de tão excitada,
toda sobre o meu poder. Passada as pessoas, logo meus lábios estão de novo a
chupar os seus seios e a minha mão com dois dedos a penetrar a sua vagina
molhada, se contraindo. Quero penetrá-la, enfiar meu pau naquele corpo quente,
abaixo minhas calças, mas ela é sim, um pouco tímida, se desconcentra com a
possibilidade de alguém passar ali e nos avistar. Logo, se abaixa, fica de
joelhos a minha frente e com meu pau grosso e ereto em sua mão, começa a
chupá-lo. Digo que esse fato é digno de nota, pois nunca nem antes, nem depois,
alguém me chupou como ela. Sua boca é como uma bomba de sucção tentando engolir
o meu pau. Mal sei definir se o que sinto é prazer ou dor. Mal sei dizer se
desfruto de tudo, ou se temo que aquilo quebre o meu pau de alguma forma. Meu
músculo peniano se contrai várias vezes sem ejacular. Para quando eu não posso aguentar
mais, alguém se aproxima. Voltamos para o meio das pessoas, eu arrumando as
minhas calças, ela o seu top.
- Você é um diabinho safado com cara de anjo! – diz ela.
Sugiro um motel, mesmo não conhecendo nenhum em Niterói, nem tendo
possibilidades de pagá-lo, simplesmente me parece o certo. Ela diz que não, que
precisa se controlar. Mora naquela terra mesmo, mas em outro bairro. Diz que está
com as coisas na casa de uma amiga, precisa buscá-las para depois ir para sua.
Ofereço-me para acompanhá-la, parte de mim espera que algo vá acontecer na casa
da amiga, mas não dá, já tem muita gente lá. Vamos até o terminal rodoviário,
onde pego meu ônibus para atravessar a poça e ela um táxi. Pela janela do taxi
ainda posso ver aquele olhar de desejo para mim, deve se perguntar se ligarei
para ela de volta, se nos encontraremos mais uma vez. É engraçado, à noite foi
excepcional, mas nada ali vejo senão sexo, e não é só isso que eu quero, quero
me importar por alguém, quero cuidar de alguém, mas a única pessoa por quem tenho
tais sentimentos não está ali, não está comigo. Acabamos há uns três meses, depois
de quase um exato ano de namoro, e pior, fui eu quem acabou com tudo, eu tomei
a decisão. Acabara com a única pessoa que já amara e que ainda amo.
2.
O último dia do resto da minha
vida
Estou deprimido, há uma semana estou
enclausurado no meu quarto. Acordo tarde, vejo filmes, não saio da cama, durmo
cedo, ou melhor, me contorço na cama cedo. Nos falamos só pelo messenger, nos
falamos pouco já que nenhum assunto temos mais. Minto para ela, digo que tenho
passado o dia estudando, fazendo algo de produtivo, não sei se acredita nisso ou
não. Só sei que algo tem que mudar na minha vida, o caminho que estou seguindo
não dá mais. No nosso último encontro, mal nos tocamos, não por falta de tentativa
minha, ou por qualquer tipo de repulsa dela a isso, mas simplesmente por puro
desinteresse, ela prefere o filme - esse não a traz tantas desilusões quanto
nós estarmos juntos. Nossa última briga foi horrenda, agora nos fingimos de bem
e ela presta mais atenção ao filme na tela do cinema que a mim. Que tipo de
pessoa vai com outra no cinema para ver o filme? Saio de lá pior que estava
antes. Não aguento mais, sinto que toda nossa relação está sobre os meus
ombros. Tudo só acontece se eu o faço, e ela só se dá o trabalho de concordar
ou discordar. Nas noites que se seguem nas nossas conversas pelo messenger,
minha distância se faz aparente. Mas que diferença isso faz, não é como se ela
fosse tomar qualquer atitude por causa disso, ela só reclama, reclama e reclama
e mais nada, a única pessoa que pode tomar atitude aqui sou eu e mais ninguém.
Mas eu não quero, já estou cansado demais de fazer tudo sozinho, e a ela só
resta à pergunta.
- ..., você quer acabar comigo?
E eu me irrito.
- É claro que não, eu te amo, você é
o amor da minha vida. Para de besteira e vamos falar normal.
E as conversas se seguem sem vida.
Faz uma semana que não nos vemos,
ela acabou de fazer uma operação para tirar um siso. Pensei em visitá-la antes,
mas para quê? Para ficar parado olhando para o ar na sua casa, enquanto ela se
foca em outras coisas, igual fez no cinema. Quero ficar com ela, mas não como
um adorno, não cumprindo só um papel. Porém, apesar do desanimo, decido que não
posso ser assim. Só há uma certeza na minha vida e essa é que eu a amo. Logo,
me reergo, acordo cedo, arrumo o meu quarto que está uma bagunça abandonada. E
começo a planejar como posso consertar tudo, como devo me focar em outras
coisas, como na minha escrita e meus filmes, além do estudo para logo arranjar
um trabalho. Sei que com dinheiro as coisas ficarão mais fáceis. Sim, nós temos
problemas, mas é só mais um pouco de esforço, que logo tudo irá se consertar,
logo ela irá realmente entender o quanto eu a amo e as brigas pararão, logo ela
terá total orgulho de estar comigo. Até imprimo algumas imagens de paisagens e
grudo na parede para dar um ar de mais vida ao meu quarto, quero que ela se
surpreenda na próxima vez lá. É bobeira, mas eu sou bobo. É uma quarta, nos
veremos amanhã, na quinta. A conversa de messenger é monótona como sempre. A
verdade é que qualquer assunto mais marcante, eu mesmo já corto, pois sei que
vai acabar em confusão, com ela discordando de algo, logo é mais fácil evitar.
Vou dormir. Trinta minutos depois, ou mais, não sei, já estou dormindo, o
telefone toca.
- ..., entra no messenger!
- O quê? Por quê? O que houve?
- Eu preciso falar algo com você.
Entro no messenger.
- Você está estranho, tá distante,
eu não sei o que fazer.
Logo penso, lá vem confusão de novo.
É típico dela, me tragar pelos conflitos interiores dela até três horas da
manhã. E eu sempre acompanho, mas nesse momento estou cheio daquilo.
- ..., por favor, vamos falar
amanhã. Amanhã a gente vai estar junto, é melhor.
- Não, mas eu quero falar agora.
Você parece distante demais, corta tudo que eu começo a falar, não parece se
importar mais.
- Meu deus, por favor, eu tô cansado,
vamos falar amanhã. Eu não tô diferente com você, eu te amo do mesmo jeito.
- Não tá não, e eu sei disso.
- Sério, eu tô quase desmaiando
aqui. Amanhã, a gente vai estar junto e tudo vai estar certo.
- Não, você não teve nenhum problema
em passar uma semana sem me ver, e eu queria você.
- E por que não pediu?
- Não sou eu que tenho de pedir
algo, você me vê se quiser me ver.
- Sei... Então, amanhã a gente vai
se ver.
- ... você ainda quer ficar comigo?
E é isso, é a terceira vez na semana
que ela me pergunta isso, eu não aguento mais. Tudo eu, eu e mais eu. Mas se eu
tomo todas as iniciativas, ela mesmo assim está insatisfeita e não concorda, me
traga ao inferno até por pura sorte eu adivinhar os desejos que ela se vê
incapaz de falar. “..., eu te amo, não te quero distante de mim!” Não, isso é
difícil demais. É mais fácil um “Você não se importa comigo, você não me ama!”
Então respondo a sua pergunta:
- Não.
- Eu já sabia disso!
- É, você sempre sabe de tudo.
- Para com isso!
- Não, eu tô cansado. Eu não aguento
mais passar por isso. Eu quero alguém na minha vida que esteja comigo, não que
fique me reprovando, não que só me acompanhe distante.
- Para com isso!
- Não, eu cansei. É isso que você
queria, então ai está.
- Não, eu não queria isso.
- Você queria, sempre perguntando a
mesma coisa, eu não aguento mais.
- Eu te amo!
- Sei...
Ela me liga.
- O que você tá fazendo é idiota.
Vamos conversar melhor amanhã sobre isso!
- Não, não quero mais te encontrar
amanhã - digo isso querendo encontrar ela, porém sei a realidade, nada do que
eu estou reclamando terá alguma importância caso eu esteja frente-a-frente a
ela. No momento que olhar em seus olhos, tudo estará perdido, serei dela mais uma
vez para fazer o que quiser, me torturar com milhares de dúvidas, nunca
acreditar em mim, me colocar o peso de decisão de tudo, só para logo depois
discordar. Sei que se for, ela vai me perguntar de novo o que eu quero, e assim
eu em um misto de raiva e paixão, vou dizer: “Eu quero a minha mulher do meu
lado! Quero que você deixe de besteiras e seja ela!”; ela só vai me olhar com
desejo, não vai responder nada, nem se responsabilizar por nada, e eu vou
beijá-la, um beijo longo e forte. Mas eu me recuso a passar por isso de novo sem
antes ela demonstrar de alguma forma verdadeira que se importa, que quer
realmente melhorar as coisas, e não deixar como sempre tudo para mim.
Ela chora, depois fica irritada.
- Você vai se arrepender, escuta bem o que eu tô te falando!
O que só me deixa com mais raiva, não dela, de mim mesmo, porque eu
vou, e exatamente por isso eu me entrego mais a raiva. Tenho certeza que o que
estou fazendo é o melhor para mim, estou me sentindo sozinho com ela, e não
posso deixar o meu amor por ela arruinar a minha vida, logo deixo toda a
frustração me tomar, e começo a listar tudo que a gente têm passado que eu não
gosto, cada coisa que fiz, e cada coisa que ela não fez em retorno. Nesse
momento, uma parte quer ter certeza que tudo está destruído, para que a outra
que passou por tudo aquilo não possa voltar mais. A conversa acaba, a gente
concorda que vai dormir, pensar melhor e falar no dia seguinte. Apago todas as
nossas fotos do Orkut tiro o nosso status de namoro – hoje em dia você só pode
ter reações emocionais reais, se elas são compartilhadas em uma rede social - e
depois choro.
Não durmo, só me contorço na cama. Começo a escrever uma carta,
tentando dizer na melhor forma possível, que não aguento mais e ela tem que
tomar alguma atitude, tem que lutar pela gente, ser uma mulher que me
acompanhe, não só a minha companhia, fazer como eu que sempre tento estar junto
dela e a suportar.
Sua resposta é dizer que eu não preciso dar explicações porque estou
acabando com ela. Já é comum ela não entender nada. Mas eu não estou mais
interessado em explicar algo. Nos falamos no telefone mais uma vez, ela insisti
que nós devemos nos ver, e eu insisto que não, ver ela é voltar para alguém que
não se importa, ela mais uma vez me chama de idiota e diz que eu vou me
arrepender. Acabo a ligação, mais uma vez choro.
Choro e choro, até me dizer o quanto é idiota tudo aquilo, que ela
não vale isso, que devo seguir a minha vida, continuar com os mesmos planos que
só vinte e quatro horas antes havia feito para me melhorar como pessoa,
melhorar para ela, mas agora sem ela. Sinto-me com a vida a seguir. Que vida,
ainda não sei. Tic-tac, tic-tac, tic-tac, começa a tocar o relógio da bomba.
3.
No começo, fez-se a luz
No centro do sistema solar, uma entre
muitas estrelas a percorrer a Via Láctea, o sol. Ele queima e de sua superfície
são emitidos bilhões, trilhões de fótons a correr em linha reta pelo espaço. Em
alguns minutos alguns batem na terra. Batem contra a atmosfera, alguns são
absorvidos, outros passam, batem sobre a água da baia de Guanabara, batem
contra árvores, batem contra paredes, cada vez sendo absorvidos em uma
quantidade e refletidos em outra. Cada nível de reflexão, uma interpretação
diferente. Batem sobre um casal atrás e um prédio de uma faculdade, num jardim.
Batem e refletem para a lente de uma câmera. Batem sobre o sensor de imagem
dentro da câmera. Os fótons são convertidos em impulsos eletrônicos que são
convertidos em pixels. Pixels organizados em um arquivo JPEG. Aquele momento do
tempo é copiado numa imagem bidimensional para dentro de um disco rígido. O
casal sorri, parece feliz.
A
cada dia a Terra dá um giro completo sobre seu próprio eixo, a cada ano a Terra
da uma volta completa ao redor do sol. O sistema solar contorna o centro da Via
Láctea a uma velocidade de 828 mil quilômetros por hora. A cada segundo que
passa, aquele momento registrado na câmera não se afasta só no tempo, mas
também no espaço. O exato local onde ocorreu está a milhões de quilômetros de
distância dos dois que o dividiram. Os dois não estão mais juntos, e nem em
seus neurônios aquele momento é mais o mesmo, novas camadas de interpretações
foram adicionadas em cima dele, novas ligações formadas a partir das
experiências que tiveram desde então. Só naquela organização de pixels guardada
em um arquivo dentro de um disco rígido, tudo se mantém igual.
Algum
momento milhões de anos no passado, o oceano. Uma bactéria unicelular absorve
nutrientes da água e se divide em duas. Uma exatamente igual a original, um
xerox, e a outra um mutante, com algumas modificações no seu código genético. A
xerox segue a vida absorvendo nutrientes e se dividindo em outras células
idênticas a ela. O mutante, não consegue mais se dividir sozinho, ele tem de
achar outra célula, mutante que nem ele, para se combinar e só assim a partir
daí se dividir em quatro novas. A xerox continua se dividindo e produzindo
células exatamente iguais a que o originou. Porém, ela também foi mutada pelo
ambiente, numa de suas divisões produziu dois novos xeroxes exatamente iguais
ao inicial, só que com a desvantagem de não poderem mais absorver tantos
nutrientes da água quanto antes. Ela sobrevive e continua se dividindo, só que
agora com a deficiência em absorver nutrientes, nem todas as suas copias
conseguem se nutrir. Nada em comparação a antes de ser mutada. Numa nova
divisão, outra mutação ocorre, agora com maior dificuldade ainda de absorver
nutrientes. Logo não há mais xerox no mar, morreram todas. A prole do mutante,
por sua vez, produzida da sua união com outra bactéria unicelular, que vamos
simplesmente chamar aqui de aquela, não é exatamente igual nem o mutante, nem a
aquela. Na verdade, além de serem diferentes, também nasceram mutantes, dois
com uma maior capacidade de absorver nutrientes, dois com o mesmo problema
daquela primeira safra xerox. Algumas gerações depois e a metade com maior
capacidade está dominando as águas, já a outra teve o mesmo destino das
xeroxes. Encontrar um outro ser para se combinar parece ser uma boa ideia.
Mais algum tempo passa, e
encontramos um dos muitos descendentes do mutante correndo pela caatinga do que
um dia será o nordeste do Brasil. Muitas combinações e mutações depois
produziram um primata com poucos pelos, como também aquele que ele corre atrás,
uma gorda cutia. Esse descendente do mutante, um grande galho de fosfato de
cálcio, dando armação ao grande saco de água de poucos pelos que ele é,
correndo com as duas pernas que pareciam propícias quando alguns tentaram sair
da água, tentando agarrar com suas mãos, resquício da temporada que viveu em
uma árvore pegando insetos, aquela gorda cutia. Por conveniência, vamos chamar
esse descendente do mutante de Pau Grande. Pau Grande depois de muito esforço
se joga em cima da gorda cutia, e com uma pedra esculpida em faca, corta a
garganta daquela sua prima tão distante. Volta, assim, orgulhoso para sua
tribo. Ninguém na tribo depende de Pau Grande pegar uma gorda cutia para se
alimentar. Já estão mais do que abastecidos de frutas, sementes e outros
pequenos animais não muito bons de corrida. Porém, o fato de ter pego aquela
cutia gorda o coloca acima dos outros homens que só contribuíram com o mesmo de
sempre para a tribo. Só Bolas Soltas que pegou um grande macaco gordo chama
mais atenção que Pau Grande. E chamar atenção é o que ele quer, chamar atenção
de Buraco Pequeno. Tudo que Pau Grande quer é combinar seu código genético com
Buraco Pequeno. É o que todos tem feito desde o primeiro mutante, logo deve ser
uma boa opção. Porém, não é só lhe jogar uma cutia gorda para depelar que atiça
o interesse de Buraco Pequeno. Pau Grande precisa a conquistar de outras
maneiras, além do reconhecimento da tribo, e da tia dela, Boca Rançosa, ele
precisa sentar ao redor da fogueira e lhe contar sobre a sua grande caça, sobre
essa e sobre todas as outras que conseguir inventar. Tem de lhe mostrar sua
grande cicatriz no braço, e contar de sua luta contra um jaguatirica, na
verdade, um grande galho que ele bateu enquanto corria. Tem de lhe contar como
os outros caçadores dependem de sua experiência. Para Buraco Pequeno tem de
valer a pena combinar seu código genético com Pau Grande. Ela além de demorar
quase um ano para chocar um ovo, tem poucos dentro de sua barriga. Diferente de
Pau Grande, que por sua vez pode espirrar seu código genético para todos os
lados, a hora que quiser, sem se importar qual parede irá manchar. Fora o fato
que depois de chocado, Buraco Pequeno ainda tem que cuidar do novo verme gordo
que sai por entre as suas pernas. Diferentes dos outros vermes que expele de
vez em quando, seus sucos ligam engrenagens dentro dela, que a fazem querer
manter aquele verme gordo vivo. Alguém teve a ideia de considerar a fala sexy e
agora os vermes gordos demoram anos para desenvolverem por completo seus
cérebros, saindo das vaginas uns completos inúteis. Logo, Pau Grande não só tem
que provar que vai dar uma boa prole para Buraco Pequeno, como também que vai
ficar ao lado dela pelo menos até o verme gordo saber se virar sozinho, umas
três voltas ao redor do sol.
1881.
Charles Darwin se olha no espelho do banheiro de sua casa em Downe, Inglaterra.
Está velho. Tem uma boa mulher, bons filhos, bons netos, um bom cachorro, é
famoso, já teve sua caricatura publicada na Vanity Fair, suas observações do
mundo, dos seres vivos, se tornaram populares, não todas, ainda é considerado
um louco em certos pontos, mas é só uma questão de tempo. Porém, algo lhe
falta. Pega o batom de sua mulher e passa na boca, aperta seus lábios. No espelho
também pode ver, pelo menos em seus olhos, uma versão mais jovem de si, um
Darwin de 22 anos, e com ele, pode lembrar dos três meses que passou na capital
do império brasileiro, o Rio de Janeiro, pode lembrar de Dona Júlia, pode
lembrar do seu corset apertado, comprimindo seus voluptuosos seios, e de como
suas carnes reveladas pulavam a cada passo.
Copio todas as nossas fotos em um
DVD, depois as apago do disco rígido. Tic-tac, tic-tac,
...
4.
Dia dos Namorados
Sábado
é o dia dos namorados – dia inventado para marcar emocionalmente os bolsos dos
floricultores de todo o mundo. Pensar que há um ano tinha passado o meu
primeiro com uma namorada, e agora ela está longe de mim, quem sabe, nos braços
de quem sabe quem. Não, não foi um dia bom, um ano atrás, foi marcado também
por uma discussão. Mas a realidade não importa, só o coração batendo forte de
um floricultor ao receber uns quatro reais em troca de rosas. Hoje não quero
mais pensar, quero beber e esquecer, quero me fingir um pouco vivo. Vou para
uma festa, não posso ficar na caixa. É num casarão antigo na Rua da Carioca, no
centro do Rio, nunca fui antes, para mim naquela rua só existiam o Cine Iris e
o Ideal. Mas também fazer uma festa não necessita muito, só espaço, bebida e
música. É claro, também uma pré-disposição cultural da sociedade para
considerar aquilo como entretenimento, uma forma de dizer que se está
aproveitando a vida. Se ainda estivesse com ela, talvez estivéssemos em uma
festa. Não, provavelmente não, já que sempre fazia um escândalo para sair à
noite. Tinha que ser algo sempre muito bem programado uma semana antes. Ou
talvez estivéssemos cada um em sua própria casa, não estando juntos, mas no
conforto de saber que tínhamos um ao outro. É a típica festa lotada que com
quatrocentas pessoas na lista online, só tem dez quando você chega, e quando
sai no máximo umas quarenta apareceram. Como acabei num lugar desses? Imagino
onde ela possa estar, com quem possa estar se divertindo. O quanto não deve
estar perdendo o seu tempo pensando em alguém que não está lá. Converso com um
grupo qualquer, só para passar o tempo enquanto o lugar não enche. Falar é bom,
mantêm a mente girando, ficar num canto esperando as coisas acontecerem só
estagna a mente. Como sempre, falo qualquer bobeira que venha a minha mente,
sou atraente logo as pessoas escutam. Logo o lugar está cheio, me desfaço do
grupo e vou atrás de outro, agora com alguma garota atraente. Como sempre, sou
bem recebido e converso, não venho com cantadas baratas. Beijo a mais bonita,
mas ela fica ofendida por botar rápido demais a mão em sua bunda. Querer ela
quer, mas como é sempre com esse tipo de garota o que importa é que tipo de
imagem ela está passando para as suas amigas ao redor. E aquele não é um grupo
em que se coloque a mão na bunda apenas em uns dez minutos após conhecer. Tem
de se conhecer pelo menos de uns trinta minutos à uma hora para poder fazer
isso. Digo que vou parar, mas me canso e faço de novo. Ela se vai, e eu me vou
atrás de outra.
Ando pela boate, subo suas escadas,
há duas pistas, ambas lotadas por serem tão pequenas. Acabo no banheiro, é
grande, nele posso ficar sozinho, delirar sobre o passado, tirando fotos da
minha cara. Não sei, não sei se gosto do que estou me tornando. Tento capturar
no estático do digital algum sinal de vida em mim, de gosto por todo esse jogo.
E nas fotos, nas poses que faço, nas poses que apresento as presas da minha
caça, aparento estar vivo. Diferente do que olho no espelho quando não estou
interpretando um papel, na imagem em movimento sem público. Mas isso não
importa, porque o que fica registrado no cartão de memória do celular é a
verdade, e caso a foto não fique bem, posso apagá-la. Subo para o terraço, mais
pessoas se concentram lá. Cansei de falar, começo a dançar, olho uma garota,
bela, vestida de punk. Só pergunto seu nome e a beijo. Não gosto como beija,
muito afobada. Ela quer pegar uma água no bar em baixo, não quero sair dali.
Ela vai, prometo esperar, mas logo estou olhando outra. Essa nem pergunto o
nome, só agarro, aperto contra meu corpo, aperto a bunda. Logo estou a sugerir
em seu ouvido para irmos no banheiro.
Há algum tempo nós voltamos a nos
falar, pretendia reavivando nossa amizade a fazer me desejar de novo. Acompanho
ela até o ônibus. No caminho fala-me de uma amiga, de como ela agora está
namorando.
- Ai logo não vou ter mais ninguém
para sair. Todo mundo com namorado, me sinto excluída.
- Sério que você está falando isso
comigo aqui do seu lado? Você muito bem poderia ter um de novo agora.
- Pare. E se você quer falar comigo
tem de ouvir essas coisas, é isso que vem a minha cabeça.
Sinto-me patético por estar ainda
atrás dela, mas mesmo assim a acompanho, mesmo insultado, mesmo mais uma vez
tendo tudo que tivemos juntos ignorado. Estou lá porque quando conversamos
antes, perguntei o que sentia por mim, e ela não soube o que falar, disse que
estava confusa e não sabia o que queria da vida, não sabia o que sentia
realmente.
Entramos no banheiro, a agarro
contra a parede, passo a mão por seu corpo por debaixo de suas roupas. Afrouxo
meu cinto, desço as minhas calças, ela afrouxa seu cinto, e eu desço as suas
calças, se vira contra a parede, bato em sua bunda antes de penetrá-la. Está
toda molhada, seu corpo treme de prazer, geme contra a parede, rosno em seu ouvido.
Alguém começa a bater na porta do banheiro. Tentamos ignorar, mas não para.
Temos de nos vestir e sair. Na porta era só um cara, quando vê que estava com
uma garota, ele pede desculpas. Decidimos ir para um motel. É, no dia dos
namorados todos estão lotados. Ainda mais se só posso pagar em cartão de
crédito. Ficamos quase uma hora indo de motel em motel tentando achar um com um
quarto vazio creditável. E lá nos entregamos um ao outro. Uma, duas, três
vezes, isso para mim, quem sabe quantas para ela, sempre sou o menos a ganhar
numa relação. Sete horas da manhã, estou exausto. Em duas horas tenho de estar
me preparando para uma apresentação de uma peça ao ar livre. Conversamos no
ônibus. Descubro seu nome, é Cíntia, curiosamente trabalha numa editora. Ela é
a segunda mulher com quem faço sexo desde a minha ex-namorada. A primeira a
qual tenho algum prazer fazendo isso. Prazer pela ação e mais nada, sei que não
me interessa ver ela de novo. Mais uma vez imagino como seria se ainda
estivéssemos juntos.
5.
Além do homem
O que está morto deve se manter
morto. Não posso mais pensar nela, é errado, é blasfêmico, é retornar. Junto às
fotos no DVD, qualquer outro arquivo referente a ela. Mil imagens estáticas,
cem mil palavras sem razão. Não posso apagar, não quero contato com aquilo, mas
ainda sei o quanto tudo aquilo é precioso, e uma pequena voz em mim ainda me
diz que é só uma questão de tempo até tudo estar de volta, tudo estar certo,
tudo ser como deveria ter sido, como nunca realmente foi. Junto o DVD com
outras coisas nossas, guardara muita coisa nossa: cartas, entradas de cinema,
notas de sorvete, penas de suas fantasias. Cada uma com sua história, cada uma,
símbolo de um momento cavado em meu cérebro. Resquícios, fragmentos, de
momentos que deveriam compor algo grande e belo. Agora, resquícios, fragmentos,
de um fracasso, de uma dor, de uma obra que não deveria ser. Coloco tudo em uma
caixa e guardo no topo do armário, entre a poeira, entre aquilo que não deve
ser visto, ou se fazer ver. No computador, num arquivo de excel, que chamo de
Planejamento, organizo como serão minhas próximas semanas. Preciso de ordem,
serei um monge estoico, me açoitarei caso me desvirtue do caminho. Acordarei
cedo, farei exercícios físicos, comerei bem e saudável, estudarei para as
provas de concurso que estão por vir, e no meio tempo ainda manterei minha
prática de escritor com alguns contos. Tudo com um horário certo, tudo numa
quantidade equilibrada, tudo com um objetivo, uma quota a alcançar. Devo ser
uma máquina para alcançar meus objetivos, não uma esponja tomada e amassada
pela situação. Porém, nem tudo está certo, as conversas rapidamente começam.
- Estou escrevendo, você vê! Vinte
páginas nos últimos dois dias. Lembro quando te encontrei naquela festa e você
me disse que tinha lido todos os contos que te enviei. Fiquei impressionado,
pensei que tinha os ignorado como a maioria faz. Achou-os estranhos. Você
preferia quando escrevia coisas normais, e agora estou fazendo exatamente isso,
histórias com início, meio e fim, sem elefantes rosas, sem vômitos de pipoca,
sem torres de mil olhos. Nesse último ano com você, acho que só escrevi umas
nove páginas de ficção. Eram para você, algo no gênero que você gosta, e você
demorou um mês para lê-las. Sempre tinha algo mais importante. Você sabe o que
vai acontecer agora? Vou mandar essas histórias para concursos e vou ganhar
eles. E aí você vai ver o quanto elas não eram ignoráveis.
Nada me responde, ali do meu lado
muda, uma imagem, mas seus olhos me desafiam por mais. De vez em quando falo
com a real no messenger, de volta as conversas monótonas, dela já não vem nenhum
esforço para voltarmos, é como se nada nunca tivesse acontecido.
- Tenho estudado.
- É, eu também.
Já não me esforço mais para manter o fluxo de palavras, não luto
mais contra os espaços vazios, deixo a conversa morrer, volto uma, duas horas
depois para falar: até mais, mandar beijos, fechar a tela.
6.
Cine Cachaça
Passando uma semana, decido sair, ir a uma festa. Ficar em casa, com
o convívio diário com os meus pais e só algumas conversas pingadas na internet,
é o certo caminho para loucura. Decido ir ao Cine Cachaça, uma festa que começa
com exibição de curtas metragem num cinema antigo no centro do Rio, o Odeon.
Uma hora de curtas, depois uma cachaça de gengibre horrenda, porém grátis, e
festa. Engraçado que fui muitas vezes convidado por uma garota para essa festa,
Juliana. Mas essa era a primeira vez que estava realmente indo. Gostava dela,
mas tínhamos pouco contato e estava sempre perdido em outras confusões –
garotas - para entender que ela estava também interessada e por isso sempre me
chamava. Fiquei com ela uma vez antes de começar a namorar, numa noite
alcoolizada na lapa, mas ainda estava pensando em outras coisas – Fernanda,
outra longa história -, e ela também tinha algumas confusões – algum indigente
que não me importa -, logo não deu em nada, não tinha cabeça para dar em algo.
Agora saio, mesmo sem convite, pois é preciso sair, é preciso retornar a
humanidade que não seja ela, ou seu fantasma.
Três badaladas, início da sessão. Vejo os filmes. Sozinho numa sala lotada.
Última vez tinha ela ao meu lado. Só uma hora, não o suficiente para
enlouquecer. Vejo a usual coletânea de voyeurismos de uma classe média ociosa,
sem direção, a partir de uma idealização sem fundamentos de uma classe pobre
exótica, é o bom selvagem, é o bom trabalhador. Olhe, um trabalhador com olhos
grandes que canta! Por que os revoltados cariocas tem de seguir justamente a
religião de Rousseau e Marx? Não poderiam ser dadaístas? Não, pois precisam do
padre ditando o que soa bonito para se sentirem com propósito. Saio amassado na
multidão de amontoados ao redor da mesa da sagrada pinga. Horrível, mas se
tomar o suficiente, dois copinhos a gosto de gasolina, talvez faça o zumbido
parar na minha cabeça. A música toca, grupinhos conversam, paro em um, a esmo,
gente com cabelos saltados ou barbas longas. Não estou tão enferrujado quanto
acredito, falamos dos curtas, faço comentários sem valor qualquer: onde será
que isso foi gravado, nunca tinha visto o Mussum cantando assim antes. Sei que
se abrir minha boca demais com aquela gente vou incitar conversas que não
saberei sair, nem me interessarei em rebater. Tudo parece tão sem sentido, não
gosto desses rituais de acasalamento mascarados de evento cultural. Se é para
se agarrar, porque fingir o resto. No segundo andar, ao lado da pista de dança,
ao me amassar pelas multidões, vejo sentada num canto, com algumas pajens ao
seu redor, uma rainha. Bela, olhos fixos na pista, muda, entre as duas
conversando ao seu redor. Como posso falar com ela? Mal consigo me escutar
pensando aqui, e ainda há as pajens no meio do caminho. Terei que interagir com
as pajens também, mas é tudo tão apertado, serei um obelisco estranho a
adentrar na conversa. Começo a andar na direção delas, a rainha me vê indo a
sua direção, mantem a troca de olhares. Quando do nada, ela liga, meu coração
bate, atendo. Rumo a um canto silencioso do lugar, ou o mais parecido a isso
possível. Está com raiva. Estávamos conversando antes no messenger e lhe disse
que ia sair, queria mostrar-lhe que estava vivo.
- Ignora o depoimento que te mandei pelo
Orkut!
- Como assim?
- Nada, só ignora.
- Fala! Já que ligou fala tudo
agora.
- Eu tenho problema, a gente não tá
mais junto, sua vida não me diz respeito.
- Porque você quer!
- Para. Só não faz mais isso, não me
diz que você vai sair, eu não quero saber.
- ..., o que você quer? A gente
acaba e você só sabe me atacar e reclamar.
- Nada, você tomou a decisão certa
de acabar com tudo.
- Hum...
- Eu vou te deixar em paz agora.
Desligamos. Rodo pela festa irritado.
O zumbido aumenta, a gasolina só o pode parar se eu quiser que ele pare, e
vamos ser sinceros, eu não quero. Vejo a rainha de novo, cabelo à la Ana
Karina, olhos verdes, lábios carnudos e vermelhos. Odeio tudo isso. Odeio
rituais, odeio jogos, quero só falar a verdade, mas a verdade vai contra a
natureza humana. São milhares de anos de uma evolução para jogos, jogos de
acasalamento, não para a verdade. Mas o que é a verdade? Não só mais uma ilusão
de quem não quer aceitar que só se move como a peça de um jogo. Sei que ela me
quer de volta, mas não move um dedo para isso. Sei que ela quer que eu volte
correndo dizendo que quero ficar com ela. E eu quero fazer isso, como já fiz
várias vezes antes. Mas chega, não aguento mais. Agora é a vez dela, se a gente
têm de estar junto, ela tem de fazer o esforço. Rodo mais na festa tentando
apagar o zumbido, indigentes já se agarram em algumas paredes, não aguento,
ligo para ela.
- Fala como você tá!
- Não importa, já disse que isso é
problema meu.
- Importa sim, eu tô aqui na festa
tentando seguir a minha vida, mas você acha que eu consigo me focar em algo
depois de uma conversa assim com você.
- Tá, desculpa, eu sou boba, eu não
devia ter ligado.
- Não, você não é boba, não por
causa disso. Droga, o que você quer? Você só sabe reclamar comigo, ou ser
conformista com tudo.
- Nada, eu não quero nada,
absolutamente nada. Volta lá para sua festa.
- Não, agora eu quero falar. E nem
tô mais na festa, já sai e tô a caminho do ônibus.
- Ela já acabou?
- Não, eu fui embora, não fazia mais
sentido ficar lá.
- O que você quer comigo?
- Não, você que me ligou, você me
diz o que você quer comigo!
- Olha ..., eu te entendo, eu
entendo a sua decisão, você mesmo disse que quer encontrar outra pessoa.
- Não, eu disse que quero encontrar
alguém que fique do meu lado, que eu suporte e que me suporte, não que só me
acompanhe como uma estátua decorativa.
- Isso, então, vai lá procurar!
Estou no ponto ao lado do passeio
público, o primeiro parque da cidade, de frente a Igreja da Lapa, engraçado o
lugar para se ter esse tipo de conversa. Não será a primeira, não será a
última. Nem serei o primeiro ou o último a tê-la. Esse ponto é uma terra ruim
para casais, muito sangue de amores destroçados já correu nele. Quantas noites
antes de começar a namorar, chegando ao fim de uma noite de festas ou motel não
acabei naquele ponto, sentando na calçada suja e molhada, ou recostado sobre as
grades, a esperar o primeiro ônibus da manhã, e a escutar as conversas daqueles
que também acabavam ali. Escutar, algumas vezes me meter nelas, algumas vezes ficar
com alguma garota que conhecia ali mesmo. Porém, quantas brigas de casais já
não me rodearam também ali. Um cara que sumiu no início da noite e só apareceu
ao amanhecer, ali chorando, pedindo perdão para uma namorada. Uma garota que
não saiu do lado da amiga que só falava mal do seu namorado, ali chorando, se
jogando no chão, pedindo perdão para ele que quer acabar com tudo. Casais
mudos, um do lado do outro, que na tentativa de um falar qualquer coisa, o
outro só responde com um rápido “não quero mais saber”. Amigos consolando um
amigo que foi abandonado por alguém, bebeu todas e não para de vomitar e chorar.
“Ah, você ficou olhando para aquele cara.” “Ah, você ficou sorrindo quando
passavam a mão na sua bunda.” “Esquece ele, ..., ele não valia nada.” “Ela
sempre foi uma falsa, ...” Mas nada disso interessa no momento, entro no
ônibus.
- Droga, para de ser tão
conformista. Meu deus, droga, só me diz uma coisa decente e você pode me ter de
volta.
- Não, eu não quero. Você estava
certo na sua decisão.
- É isso que você quer então?
- Não interessa o que eu quero.
- Droga, me fala.
- Nada, se você não tem nada a me
falar, eu também não tenho nada a falar.
- Meu deus, eu tô chegando ao ponto
aqui de te pedir diretamente, me fala uma única coisa decente e você me tem em
dois segundos do seu lado.
- Eu não quero.
Minha bateria de celular acaba. Ao
chegar em casa há um depoimento no Orkut, falando o que ela já tinha dito, para
eu não mais falar para ela da minha vida. Ela ainda está online, mas nada
avança daquilo que já tínhamos conversado. Tudo é um disco quebrado, e as peças
acima dele não tem casas a avançar, só sabem girar.
7.
Concurso Público
As provas de concurso público vão
chegando, mas perco o interesse, sem ela para me incentivar, para tornar isso
um essencial, prefiro mais escrever do que estudar tudo aquilo. Burocracias em
topo de burocracias, sodomizando outras burocracias. Quero dinheiro, mas a
possibilidade de perder oito horas do dia, cinco dias por semana, num trabalho
inútil de escritório que não me atribuirá nenhum valor real, me horroriza.
Pior, é trabalhar para o governo, só um fracassado trabalha para o governo,
trabalhar para ladrões, só que sem a honra de ladrões que se admitem como tais.
Ladrões ratos, fedidos e deformados, covardes, que se alimentam de outros
covardes como eles, mas sem a inteligência o suficiente para roubar que nem
eles. Meu plano original, quando comecei tudo isso, era entrar em algum
concurso público - já que é isso que todo mundo faz nessa distopia
pós-apocalíptica -, e assim pagar um apartamento para que ficássemos juntos.
Assim, não teria mais de aturar suas frescuras de vir a minha casa, ou a
repressão que tinha dentro da sua. Agora não tenho mais razão para me esforçar,
o que eu quero é escrever, não me vender. Além disso, não consigo mais pensar
direito após ela ter falado comigo. Sinto cada vez mais, que é isso, ela não
vai fazer nada.
- Desculpa, ... Eu te amo, eu te
quero do meu lado, não importa o quê, eu faço tudo para te ter de volta! – seu
fantasma diz para mim. E se fosse a real, com aquelas palavras, ela me teria
para todo sempre como seu escravo, não importando as consequências. Mas não é
ela, é só seu fantasma. Quero que ele pare de me assombrar.
Repito a conversa que tivemos várias
vezes, com alternados fins, com alternadas conclusões, com alternadas ações...
reações suas. Tento me focar em outras coisas, nas provas, nas famigeradas
provas. Se comecei algo, preciso acabar, preciso estudar e fazer as provas. Provas,
provas, provas, estudar, estudar, estudar. Que mentira, olho para o teto. Mas as
farei. Com isso nem penso mais em tentar apagar tudo da minha cabeça com alguma
outra garota, ou com o álcool. Não há espaço, tem prova toda semana, e mesmo me
lixando, tenho que me passar à imagem que estou tentando. Era isso que fazia ao
seu lado, não? E é numa dessas malditas provas inúteis que nos encontramos. Ou
melhor, eu mando uma mensagem falando para ela me esperar na porta da escola do
concurso depois da prova. Como sempre, saio primeiro e fico esperando. Não sei
o que quero com aquilo, fico calmo até o momento que a vejo, meu coração
estoura. Ela me parece feliz, sem preocupações e não tem nada para me dizer.
- Como foi na prova?
- Bem!
- E você?
- Bem também.
Acompanho-a até o ponto. O ponto,
hum... Outro ponto. Pontos de ônibus parecem ser lugares de muita significação numa
cidade. Pelo menos, para quem é pobre, não tem carro e tem de se ver amassado
em latas para chegar aos lugares que deseja. O ponto na frente da escola da
prova é exatamente o nosso ponto de encontro, o ponto que marca a encruzilhada
de caminhos entre a sua terra pós-poça e a minha terra pós-apocalíptica.
Imagina, ter só um ônibus entre nós, não, tem de ter dois, e eu tenho de sempre
encontrar ela na porta do seu, para levá-la ao meu. É isso que um namorado faz
- que piada. Pelo menos, era assim. Agora é só um ponto ao qual eu a acompanho
por acompanhar, não mais o no qual nos beijávamos, não mais o com aquela grade de
metal contra a qual eu lhe agarrava, onde ficávamos grudados um ao outro até o
seu ônibus chegar. Agora, estamos lá longe um do outro. Longes esperando seu ônibus.
Ele chega, ela se despede me abraçando, me abraça forte. Não esperava isso, me
sinto estranho, fora da vida em que deveria estar, fora das respostas que
preciso.
8.
Chopada
Lua sobe, lua desce, vou a uma festa na faculdade, a outra que faço.
Diz a lenda que talvez faça seis, mas não há tantas faculdades públicas assim
no Rio para fazer, e vamos ser sinceros nem morto, eu pagaria por aquilo. Chego
cedo e vejo os vários bolsões de pessoas se formando. Conheço mais essa gente
que na outra faculdade, posso perceber como se amontoam em círculos de seus
próprios cursos, fechados no mesmo, querendo o mais. O meu círculo não tem a
melhor fauna feminina. Quero me infiltrar em outro grupo, mas me vejo
incapacitado de conversar qualquer coisa além de assuntos pueris -
transferência de informação usada. Esqueci-me como falar do que gosto, do que
me entusiasma, do que me vende como ser humano ainda vivente. Foi muito tempo
sendo cortado nessa área. Viro um antropólogo e me confesso como tal. Não há
nada mais feio que uma fileira de garotas bonitas dançando coreograficamente um
funk. É a marcha dos idiotas, ela está vindo! Não sei por que estou aqui, mas
também não sei onde estar. É engraçado quando paro para conversar com um dos
espécimes e falo de música. Gosta de outras, mas funk é o que dá para dançar.
Ou seja, funk é o que vêm com uma coreografia pré-programada que ela possa
seguir como a maioria ao seu redor. Seguir sem pensar, não que houvesse algo a
ser pensado. Bebo tentando desligar a maquininha lógica em minha mente,
retardar os motores, sair de dentro, ir para fora. Converso com mais uma, mal
sei o que falo e do nada a estou beijando, nem sei como começou. É mais um não
há mais nada a fazer mesmo. É... estou ficando com ela, seria de pouca educação
ir embora agora? Vejo à distância uma amiga chegando na festa, Elisângela. Uma
garota por quem já tive uma obsessão sem sentido quando mal a conhecia, na vida
de um em mim que morrera muito antes de conhecer a minha atual ela. Uma garota
com quem nada fiz, mas pude experienciar concretamente num certo período de
tempo a transformação de uma atração, numa total repulsa, não pessoal, mas atracional.
Uma garota que por fim entrou entre as fileiras das minhas psicólogas. Vem
acompanhada de sua irmã menor, Elisa. Uma garota a qual eu cultivo uma estranha
simpatia, estranha pois acredito não ser sexual, acho. Falo a garota com quem
estou ficando que vou falar com minha amiga e parto.
- A festa tá boa né, ...! – fala
Elisângela para mim.
- É... está ok.
A conversa se segue, pergunto como
vão, comento a festa, nos sentamos num canto, divido minhas analises
antropológicas para ambas, até que:
- E a sua namorada, ..., o que houve
com vocês?
- A gente não dava certo junto,
tínhamos problemas toda hora. Até que chegou num ponto que não deu mais.
- Vocês pareciam tão felizes nas
fotos – nas fotos, porque em nosso um ano de namoro, ela só conheceu um único
amigo meu, e isso por acidente, já que toda vez que marcava para sair com ela e
meus amigos, sempre o lugar era longe demais, ou o horário pouco propício
demais para ela.
- Sim, mas isso não importa. Era um
momento alegre, outro ela me questionando, arranjando problema do nada, dando
ataques. A gente era muito diferente, e não importava o quanto eu fazia para
deixar tudo certo, ela sempre achava alguma falha. Era...
E aí se seguiu a matraca.
- ... e tipo, eu sempre chegava cedo
nos nossos encontros. Eu nunca quis deixar ela esperando, porque eu odeio isso.
Enquanto isso, chegou à vezes que me deixava até uma hora esperando, senão mais.
Sim, morava longe, mas isso tanto quanto eu dos lugares que a gente marcava. Sim,
tinha trânsito, mas não era para nenhum lugar que ela nunca tinha ido antes,
nem em dias que ela nunca tinha ido. Logo se ela se importasse, era fácil
calcular o horário necessário que ela saísse para chegar cedo. Porque é isso que
eu fazia, eu pensava antes para não deixar ela lá parada que nem uma idiota me
esperando. Mas isso importava a ela? Não. E ela chegava como se nada tivesse
acontecido, e ainda ficava contrariada porque eu ficava com raiva. Como se
aquilo não fosse um prazer para ambos, como se eu esperar ela fosse um privilégio,
e eu não valesse nada ali. E o pior, e o pior, eu sempre esperava, todo
encontro, que aquele dia fosse o diferente, que naquele dia ela fosse chegar no
horário. Então, eu nunca mudei nada, porque eu não queria deixar ela esperando
caso esse fosse o caso. E tão raramente foi.
Continua a matraca. Interrompem a
matraca.
- ..., aquela garota que você tava
ficando parece tá te procurando.
- Ah..., ela alguma hora me acha.
Continua a matraca.
- ... sabe, até para carregar ela no
colo em público ela tinha problema. Uma vez deu ataque só por causa disso e
ficou muda. Sendo que ela disse que tava cansada.
- Sabe o que eu acho, ... Eu acho
que você ainda ama ela, e vai amar por um bom tempo!
- Não, não, acabou, eu não quero
mais nada. Tudo foi um erro, e acabar tudo foi a melhor decisão que eu podia
ter tomado.
- Eu acho que daqui a pouco você vai
se arrepender de tudo isso, tá na cara.
- Não, eu tô seguindo a minha vida!
Tô bem!
- Sabe – começa Elisângela -, se
lembra daquele garoto que eu tinha ficado antes daquele tempo em que você vinha
atrás de mim, o Roberto. Então, eu mal escutava tudo que você me falava porque
mesmo eu tentando ignorar, ele era tudo na minha mente. Quando via ele na rua o
tempo parava. E tinha sido eu quem me afastara dele, porque achava que ele não
queria o mesmo que eu. Passou um ano, quase dois, e nada mudou, ele não saia da
minha mente, e acho que eu também não da dele. Teve até um outro garoto aqui da
faculdade mesmo nesse meio tempo que gostava muito de mim, e eu achei que ele
seria bom para mim, mas não deu porque não era nele em quem eu pensava. Ai,
aconteceu, a gente voltou a ficar, eu e o Roberto, e dessa vez durou até mais
tempo que dá primeira vez, mas acabou do mesmo jeito. Não era para dar certo.
Mesmo assim, ele sempre de vez enquanto volta aos meus pensamentos. Tem certas
pessoas que sempre vão estar com você.
- Não, eu discordo, é tudo uma
questão de costume, de achar alguém certo que te faça esquecer do passado, que
te faça criar novos momentos na sua vida. O que você tem é que até agora
ninguém apareceu que te desperte isso. Sim, eu penso nela, mas é porque tá
recente, logo isso tudo some.
- É..., bem que eu queria que fosse
assim. Mas acho que vou acabar como uma velha numa casa cheia de gatos.
A garota a qual abandonara na festa
reaparece.
- Você sumiu heim... Então, estou
indo embora agora, depois a gente se fala pelos corredores!
E eu me pergunto por quê. Por que
alguém se interessaria a continuar aquela troca sem sentido. Ela vai, e eu logo
vou também quando a festa já está acabando e minhas amigas decidem ir.
Tudo se mantêm seguindo, começam as
aulas na Uff. Depois de um ano juntos, é agora ir para lá sem segurar a sua
mão, sem entrelaçarmos os nossos dedos. Quem sabe possa conhecer nas aulas
alguma garota interessante que ainda goste do que está fazendo. Mas ainda a
vejo, temos uma única aula juntos, terça-feira. Na primeira aula, sento ao seu
lado e no final a acompanho até um shopping onde vai almoçar. A vejo subir pela
escada rolante indo embora, sozinha, sem mim, me sinto estranho. Está tudo
errado, mas esse é o certo, esse é o melhor. O estranho é natural, vai passar. Na
segunda, conversamos normalmente no intervalo, depois ela fica para fazer um
trabalho por lá mesmo. Na terceira, ela fala normalmente, me cumprimenta, e
depois se afasta para conversar com outra pessoa, como se eu fosse só mais um
entre todos. Um que ela cumprimenta e depois deixa.
É isso, se adaptou, em vez de lutar
por mim, ela desistiu, a vida seguiu e ela começou a se afastar. Começo a me
sentir mal, está acabado, tudo está acabado. Tudo que tivemos juntos não vale
de nada para ela. Todas às vezes que tivemos problemas, eu fiz de tudo para que
ficássemos bem, muitas vezes ignorando o que eu estava sentindo e o que eu
achava certo. Eu sabia que ela era naturalmente negativa, sempre vendo a pior
alternativa, isso era ela, era isso que via transbordar em cima de si de seus
pais na sua casa, logo era melhor eu sempre estar bem, para que ela também
estivesse bem com tudo, se não as coisas só poderiam piorar. Eu lutei e lutei e
lutei para ficarmos juntos, e agora no meu primeiro momento de hesitação, no
meu primeiro momento de dúvida, ela não pode mover um dedo para ficar comigo,
não pode me dizer uma única palavra boa, só me criticar e desistir. Já não
chorava há duas semanas, soltei algumas lágrimas no ônibus para casa, mas me
controlei. É engraçado que o dia que se está caminhando para o buraco, culmina
com o dia em que o ônibus pega o maior trânsito, o motorista decide fazer
turismo quando a pista está livre, indo lentamente, e há alguma dupla de
matracas de voz rançosa atrás de você discutindo como a tv lhes explicou que a
vida é miserável, há perigo por todo lado, a economia vai mal, o clima está se
deteriorando e eles não podem fazer nada, além de repetir a mesma reclamação um
para o outro oito vezes durante a viagem. É engraçado, mas me aguento, durante
todas às duas horas, me aguento também quando chego em casa, quando sigo pelo
corredor até meu quarto, quando abro a porta do quarto, quando acendo a luz
pressionando meu dedo sobre o interruptor, quando fecho a porta girando sua
maçaneta. Não aguento mais. Meu corpo dói, tudo dói, não posso me controlar,
quebro. Tic-tac, tic-tac, boom!
9.
Monte Roraima: Parte I
Alguns acreditam que o fim da terra
se encontra no Acre. Mas aqueles que nisso acreditam estão errados, pois o Acre
não existe. É só uma das mais antigas falcatruas de um famoso cartel de
políticos brasileiros. Um estado inteiro imaginário para receber investimentos
de fundos que vão diretamente para o bolso desses políticos. O fim da terra se
encontra mesmo em outro lugar, em Roraima, na divisa entre Brasil, Venezuela e
Guiana. Estamos falando do Monte Roraima. A maior montanha de topo plano do
mundo, acima dos mil metros de altura. Há dez anos minha morada.
Moro numa área da montanha que por
alguma razão nenhum nativo ou turista chega perto. Não sei exatamente por quê.
Cheguei aqui também como um turista, e foi num dia isolado de meu grupo, que
encontrei entre nevoas e grandes pedras dilapidadas pela ação do vento, a casa.
Uma casa de arquitetura gótica construída em pedra. Imaginem minha surpresa
quando adentrei por uma porta lateral desta casa, e a encontrei toda mobilhada,
móveis clássicos de mogno, cortinas de cetim, sem mencionar que em sua cozinha,
estava servido um bom café da manhã, com café, carne de rã e ovos. Pensei: deve
ser uma casa habitada.
- Alô, alguém em casa?
Gritei, gritei várias vezes, mas
nenhuma resposta recebi, nem em seu primeiro andar, nem em seu segundo, nem
saindo e dando uma volta ao redor da casa. Ao voltar para meu grupo,
contei-lhes de minha descoberta, e imediatamente todos rumaram para lá. Porém,
no caminho não sei o que houve, eles se perderam atrás de mim, e sozinho mais
uma vez cheguei na casa. Voltando para reencontrá-los, me questionaram sobre
minhas ações, do porquê brincava com eles sobre esse absurdo de ali achar uma
casa. Não podendo convencê-los do que passei, abandonei o grupo e mais uma vez
voltei para casa. Estranho dizer, que a fumaça do calor do café ainda se
mantinha igual a como a havia encontrado da primeira vez que adentrara a
cozinha. Com fome, e não encontrando mais uma vez nenhum ocupante, tomei o café
da manhã. A carne e os ovos também ainda quentes. Depois, pus-me a investigar a
casa, enquanto esperava seu dono. Devo confessar que meu destino imediato foi o
escritório que encontrei em minha primeira expedição. Um escritório no primeiro
andar, com uma rica biblioteca. Os títulos que ali encontrei não faziam
sentido, não podiam fazer, eram cópias reais de livros dados há muito como
perdidos. Nem foi isso que mais me intrigou, na verdade, mas sim os títulos que
desconhecia, os títulos que até da história humana pareciam ter sido apagados.
Inicialmente, fiquei ali duas semanas, sem uma viva alma aparecer. Alimentei-me
dos artigos que encontrei na dispensa, e passei meu tempo a investigar aquela
misteriosa coleção literária. Quando ao final da segunda semana, comecei a me
questionar que poderiam estar sentido minha falta fora dali, na civilização.
Afinal, era casado, e minha esposa devia estar preocupada após aquelas duas
semanas sem notícias. Logo, voltei à civilização, mas não para ficar. Passadas
duas semanas, mais uma vez estava eu ali naquela casa, acompanhado de minha
esposa. Estranho, que ao chegarmos, mais uma vez lá estava o café da manhã
servido na mesa, exatamente como no primeiro dia. Eram boas cochas de rã.
Confesso que enquanto me adaptei
perfeitamente a minha vida na casa, o mesmo não se passou com minha esposa. Não
compartilhava comigo o interesse pelos livros, preferindo se dedicar aos
afazeres domésticos. Apesar de não ser muito boa cozinheira. Além de também
desenvolver algum tipo de sentimento arredio contra a casa. Nunca aceitando
ficar nela sozinha, enquanto eu lá não estava. Sempre me acompanhando em minhas
expedições aos seus arredores e a cidade mais perto em Gran Sabana, para buscar
suprimentos. Só consegui mesmo apaziguar sua insatisfação, trazendo para casa
um gerador, uma TV e uma antena, para ter algo para ela passar o tempo. Fiquei
surpreso ao saber que recepção de TV ali no meio da montanha era muito boa,
pegando muitos canais, segundo as descrições de minha esposa. Eu mesmo nunca me
interessei por esse seu passa tempo excêntrico. Alguns anos depois de nossa
chegada, também começou a trabalhar num jardim atrás da casa, o que foi de
muito minha satisfação.
Quanto a mim, passava a maioria dos
meus dias no escritório lendo aqueles incríveis volumes de história humana que
não deixavam de me surpreender com suas revelações. Acredito que só saia do
escritório para as refeições, e para executar minhas tarefas como marido.
Algumas vezes conseguia tomar o controle da cozinha, e preparar o prato do dia,
o que me proporcionava um raro deleite. Quanto as minhas tarefas como marido,
com a TV e o jardim, conseguira reduzi-las a pelo menos só duas vezes por
semana. Não por falta de gosto, mas por falta de gosto das excentricidades
sexuais de minha esposa, que mais me causavam dor, do que prazer. Além disso
também fazia algumas expedições pela área ao redor da casa, pela floresta de
pedras que se estendia pelos seus lados norte e leste. Nessas expedições,
percorrendo o labirinto de pedras e de vegetação estranha que encontrava pelo
caminho, fazia muitas descobertas de fragmentos deixados por outros
exploradores, e de possíveis ruínas de construções de habitantes até anteriores
aos construtores da casa, como podia averiguar pelo estilo. Confesso que nesses
dez anos ainda não pude explorar essa floresta em sua interioridade. Como
disse, não houve uma expedição que não fui acompanhado pela minha esposa. Isso
de novo porque se recusava a ficar sozinha na casa, pois gosto nunca teve por
essas expedições. Desprazer que fazia o favor de dividir constantemente em
nossas caminhadas. Seu sentimento pela casa parecia ser igual ou pior pela
floresta. Seu medo pelo vento e para a sombra se fazia constante.
Chegamos então à razão de agora
estar escrevendo esse relato sobre minha vida aqui. Como disse, já habito a
casa há dez anos, e nesse tempo vivi sem preocupação, sem nenhum evento de real
significância ter ocorrido. Apesar da natureza da casa e da floresta ao redor,
e da opinião contraria de minha esposa, nunca ocorreu nada que poderia ser
considerado estranho pela minha experiência. Isso até uma semana atrás, quando
tudo mudou. Anteriormente a isso, acredito ter só colocado a pena ao papel com
um único motivo: escrever narrações eróticas para extravasar meus desejos não
correspondidos por minha esposa. Mas agora esses acontecimentos precisam ser
registrados.
Há uma semana, numa noite
tempestuosa, estava em meu escritório relendo o Saque de Tróia, o quinto livro
do Ciclo Épico, quando escutei um estranho estrondo vindo de fora. Levantei e
olhei pela janela. Vento forte e chuva batiam contra o vidro, e uma escuridão
total tomava o horizonte, só cortada pela luz de algumas trovoadas. Certamente
não fora um raio o que escutei, mas ali também não pude identificar sua origem.
Porém, com a luz de um rápido relâmpago vi um animal. Não foram mais do que
alguns segundos, mas tenho certeza que à distância no começo da floresta de
pedra avistei um enorme rinoceronte. A casa era segura o suficiente para não me
preocupar com tal animal. Entretanto, aquele era só o começo, pois ao voltar
para minha poltrona a fim de elaborar um plano de como poderia lidar com tal
criatura selvagem espreitando a casa, um estranho mal estar começou a me tomar.
Primeiro senti um profundo calor e comecei a suar, com gotas deslizando pela
minha testa, segundo, o ambiente ao redor começou a se tornar turvo, e um
extremo cansaço tomou minhas pestanas. Apaguei, apaguei como se apaga numa
palestra a qual não se quer dormir, foram segundos com meus olhos fechados para
recobrar as forças. Só que quando os abri, a negritude do espaço se manteve.
Não que as luzes tivessem sido apagadas, mas sim que tudo era só forma, como se
só tivessem sobrado as arestas de cada objeto concreto e estas fossem cobertas
por linhas de um verde fosforescente. Só o desenho dos objetos restara, e podia
se ver através das coisas os outros desenhos que se sobrepujavam uns sobre os
outros até a infinita escuridão. Olhando ao redor, pude ver minha esposa na
cama de nosso quarto no segundo andar. Como pude também ver os pingos da chuva
caindo lá fora, e por fim também vi a criatura. Estava errado, não era um
rinoceronte, sua cabeça tinha a forma da cabeça de um rinoceronte, suas costas
acabavam em uma calda, mas aquilo que lá fora se espreitava tinha forma humana,
ereta, mantida por suas duas pernas traseiras. Levantei-me, e pude averiguar
que apesar de só ver aquelas formas contornadas de linhas verdes, a parede de
meu escritório, que ao meu olho só era um espaço negro vazio, ainda se mantinha
sólida. Nem aparentava que pelos seus movimentos lá fora a criatura tinha a
mesma habilidade de me ver. Virei me mais uma vez para minha poltrona,
entretanto, antes que pudesse dar um passo, mais uma vez fui tomado por um
estranho cansaço, minhas pernas se enfraqueceram e cai no chão. Nos poucos segundos
que mantive minha consciência pude ver o que antes não havia passado pela minha
cabeça observar, aquilo que se encontrava após o chão. Vi algum tipo de
máquina, algo gigantesco, com engrenagem rodando, logo abaixo da casa, e vi que
estava sendo operada por pequenos seres, que pareciam jacarés. Apaguei.
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