Desaventuras em série em Salvador

Salvador é a capital da Bahia, conhecida por suas micaretas, acarajés e pelo seu santo padroeiro Michael Jackson. Fui para lá esperando segundo o que me falaram “pessoas dançando a cada esquina”, um lugar exótico em que o Pato Donald, o Zé Carioca e um galo mexicano, que eu nunca me importei de gravar o nome, dançam com a Carmem Miranda. Tudo bem, ela já está morta, mas pelo menos um zumbi dela poderiam ter. Não teve, mas encontrei outros.

Primeiro aviso ao chegar: tome cuidado nas ruas, tudo é perigoso. Aviso que se recebe em qualquer cidade do Brasil e que até hoje nunca me disse nada. Lá, no máximo vi uma luta de ratos pelo conteúdo de uma lixeira. Viciados em crack sempre me pareceram animais inofensivos de olhos vermelhos. Fui-me atrás do acarajé. Já havia comido um gigantesco em Cabo Frio, junto com uma garrafa de 2 litros de água, e agora queria experimentar o original, logo fui no podrão de uma esquina qualquer e comprei um por R$1. Muita massa, pouco camarão, depois do terceiro não agüentava mais o cheiro do óleo de dendê. Cheio ao qual sentiria por metade da cidade nos dias de minha estadia. Um cineasta disse que o espírito de Salvador é uma mistura de urina com óleo de dendê. E o segundo é insuportável 10 minutos depois.
Da minha hospedagem de barraca, segui da praça Castro Alves, fetiche francês, passando pela uruguaiana salvadorenha, a 7 de setembro, cheia de R1,99, para o famoso pelourinho. Pelourinho é o nome de uma pedra em que prendiam pessoas para as surrar, ótima maneira de marcar um bairro! Fui logo avisado sobre as baianas que querem tirar fotos de R$50, e dos homens que colocam fitas grátis no pulso e depois cobram R$10. Local histórico, cheio de turistas, eu incluso, tirando fotos a esmo, de igrejas em adoração a Hermes e Apolo - tenho fotos para provar. Não se dança a cada esquina, mas pelo menos se pode beber, comer castanhas assadas, ou comprar lembrancinhas saídas de uma linha de produção. Sério, se é para vender a mesma coisa em todas as lojas, pelo menos as cores e desenhos poderiam ser diversificados, não há razão porque tudo tem de aparentar ter sido roubado da Jamaica. Por que não um berimbau roxo, ou fitas com mensagens de sorte, tipo biscoitos chineses? Por que só bustos de madeira de cavalos demoníacos, quando se pode ter bustos demoníacos do Jorge Amado, ou de Carmem Miranda?

Desci a ladeira do Michael Jackson, escutei a batida do culto a ele em cada porta, apesar de nenhum santinho com sua face nas lojas. Subi para igreja abandonada no Pagador de Promessas. Está aí algo que eu também compraria, uma miniatura do Leonardo Villar carregando uma cruz. Voltando tudo, desci no elevador de 15 centavos, sem nenhuma vista, acabei no mercado modelo, modelo de todas as lojas serem iguais e venderem a mesma coisa. E foi aí que aconteceu, vieram cambaleando, com a mão levantada, usando roupas coloridas: as baianas genéricas. Podia quase escutá-las gritando desenfreadamente “cérebro… cérebro… CÉREBRO!!!”. Consegui fugir, colocaram a mão no ombro de um amigo meu, e lá foi ele a conversar com uma por 30 minutos, com ele no fim se recusando a pagar os R$50 de uma foto. Na frente, baianas; atrás, lutadores de…, é… sabe, aquela luta de pernas, que dão chutes, pedindo também dinheiro por seus direitos autorais. Sai de lá com duas canetas feitas de durepox - presente que nunca dei a quem comprei -, acompanhadas de um colar de sementes o qual prontamente coloquei ao redor do meu pescoço.
Subindo e descendo, cheiro de dendê, mercado de peixe com um self-service barato e cheio de coisas que nunca comi, orixás na água, violentamente açoito o cadáver de um caranguejo morto. À noite, acabei em todos os lugares errados, acabei no Rio Vermelho e na Barra, centros de bares e boates cotidianos que se encontram em qualquer lugar, acabei dormindo na mesa, para escutar no dia seguinte de gente que tinha ido a festas na Cidade Baixa com pessoas semi-nuas numa orgia de suor, ou que tinham ido num ritual de candomblé com gente sendo possuída. Provavelmente soa muito melhor na minha imaginação que na realidade. Mas também houveram baianas de verdade, ou melhor que nasceram lá e mais nada, não que usam fantasias para vender ingressos. Baianas dançando salsa. Houve praia com um clima que fazia sol e depois abria o dilúvio. Queria tirar fotos com o metrô bilionário montanha russa, mas não achei. Houve bolas mágicas típicas da região que tocam música coreana e decidiam o destino das pessoas. Achei lojas de antiguidade exóticas: uma peça de Pirandelo e um duende corcunda, que na verdade me encontram. Escondo segredos no duende, como Wong Kar-Wai em árvores. 


Pode se ter muita diversão em qualquer lugar, o espaço nunca importa, o que importa são os momentos que podem ser criados, e todos os momentos já estão prontos na cabeça, só precisam ser executados, materializados. Salvador, Ouro Preto, Disney, todos parques de diversão da mente, como a esquina da sua casa.  

3 comentários:

Pâmela Grassi disse...

Na ladeira do Largo do Pelô há aparições do santo padroeiro Michael Jackson. Rsrs

Abraços,

Juliana Nunes disse...

Maravilhoso!! rsrsr logico que poderia ter sido melhor, mais o texto não seria o mesmo. ta otimo!
juliana nunes
bjss

P. Furtado disse...

Um souvenir de Carmen Miranda ou Leonardo Vilar,sério acho quie a Bahia merece o que você disse, para aprender a fechar os dentes ou portas para gente que ,tal qual astronauta, vem aqui fazer xixi nas "estrelas",merecia ter mais cérebro e não se contentar com turistas que fazem desta cidade, uma pocilga de verão um bando de gente mal educada( não respeitam o Bonfim ,entram em batizado como se ali fosse uma feira livre) que vem gritando, com suas maquinas, seu olhar de recalque , e, de quebra ainda nos infestam de doenças, abaixo o Turismo.