O Absoluto e o caminho da Natureza para ele, segundo Schelling

Schelling vai contra a nova vertente do realismo empírico, o idealismo empírico, ou seja, a união da relação causa efeito com a relação do afetar, para estabelecer o idealismo absoluto.
   
Baseando-se que o absolutamente ideal é também o absolutamente real e que fora disso só há uma realidade sensível e condicionada, uma particular, busca, tendo o saber como objeto, excluir todas as contingências, que muito bem podem ser estudas por outras ciências, para alcançar o incondicional e o absoluto desse objeto, alcançando o saber absoluto, ou o próprio absoluto em si, já que esses não se distinguem.
   
Estabelece, assim, que o objetivo da filosofia é alcançar este absoluto, com o absoluto ato-de-conhecimento, um saber em que o subjetivo é o objetivo, e não opostos, já que estes no absoluto são um. O absoluto é, enfim, tudo que tem identidade pura, só é igual a si mesmo, independentemente de subjetividade e objetividade, sem deixar de sê-los, sendo matéria e forma, sujeito e objeto. É a totalidade como idéia, eternamente, mesmo quando forma, como objeto, mesmo quando essência, como sujeito. E essa passagem de um para outro, não sai do absoluto, pois este é em si, esse agir. Sua forma é também essência e sua essência é forma. Reconhecendo-se na ação de gerar a partir da objetividade e da finitude, a subjetividade e a infinitude, atingindo uma unidade essencial entre elas, e na ação de dissolver sua objetividade em essência, chegando ao que realmente é: uma essência idêntica de ambos. É o sujeito, dissolvendo a forma na essência, e o objeto, formando a essência na forma, sem distinção, ou seja, num transforma a essência indivisa em forma, no outro, a forma indivisa em essência, é a total identidade, pois eternamente forma unidade consigo mesma. O absoluto é esse agir eterno, puro e uno, é a absolutez que só produz a si mesma. Tendo isso em vista, estabelece-se que as idéias são nada mais que sínteses da identidade absoluta e que as coisas singulares são apenas momentos do ato eterno de transformação da essência na forma. Logo, as coisas em si, são as idéias no eterno ato-de-conhecimento, e como as idéias no absoluto são só uma idéia, também todas as coisas são só uma essência.

   
O absoluto, porém, mesmo sendo um só, compreende dois lados, um real e um ideal. O real, é figuração do infinito no finito, é a unidade distinta, é, enfim, a natureza. A filosofia, então, é a ciência do absoluto, e a filosofia da natureza é a ciência que estuda seu lado real. O lado real do agir eterno, que é o espírito trazido à luz na objetividade, a essência introduzida a forma. A natureza ao se corporificar acaba por assumir uma forma particular, deixa de ser a natureza do absoluto que é una à do mundo ideal, e passa a ser um símbolo desta, estando fora do absoluto. Como símbolo, a natureza ganha uma vida independente daquilo que significa, e só é conhecida como forma. A filosofia da natureza apesar de sair do idealismo absoluto, acaba por se desenvolver por um idealismo relativo, já que compreendendo só um dos lados do ato-de-conhecimento, não pode alcançar o absoluto. As três potências encontradas no agir da filosofia da natureza, as que distinguem seu desenvolvimento, são a estrutura do universo, a figuração do infinito no finito; o mecanismo universal, a re-figuração do particular no universal ou essência; e o organismo, a uni-figuração do real ao ideal. No mais completo organismo, apresenta-se a completa imagem do absoluto, ou seja, na razão que o contempla apresenta-se a mais completa imagem real e ideal desse absoluto. Enquanto isso, a designação dessas mesmas potências no lado ideal, a partir da essência, transformadas segundo a forma, está fora de nossa esfera de conhecimento.
   
Conclui-se que a completa exposição do mundo intelectual nas leis e formas do mundo, ou o conceber completo dessas formas a partir do mundo intelectual, em parte já foi realizado pela filosofia da natureza, ou está em via de ser realizado por ela. A filosofia da natureza parte de princípios certos em si, sua direção está contida nela mesma, assim os fenômenos, por si mesmos, são colocados no único lugar que podem ser compreendidos como necessários, e este lugar é a única explicação que ela pode nos fornecer sobre eles. Desta forma, estabelece-se que a filosofia só pode seguir em seu caráter idealista, com um retorno a interioridade, para alcançar o mundo real, a partir do desmantelamento das finitudes criadas ao redor da natureza, buscando a objetividade de seus segredos, para na totalidade objetiva, com a completa identidade absoluta, unificar os mundos real e ideal.
   
Resumindo, o que Schelling conclui, é que tudo que é, é determinado por um único elemento, ao qual ele chama de absoluto. Um absoluto que é uno, mas que para nossa compreensão precisa ser dividido em dois, em real e ideal, apesar desses ainda serem os mesmos. E que nós, com a nossa razão, temos contato com uma versão simbólica do real, ou seja, temos um contato com os fenômenos e não com a coisa em si. Assim, para alcançar o saber absoluto, ele estabelece que o homem, através da filosofia da natureza, deve conhecer esses fenômenos em sua totalidade, para dai, através de uma constante mutação entre subjetivo e objetivo, ir buscar a coisa em si, a natureza, o real, e desta, o ideal, já que são os mesmos, por fim, contemplando o absoluto.

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