Eu, eu mesmo e eu de novo: Cap. 1 - Longa jornada Novo Rio - Tiete

Aqui segue o primeiro capítulo de amostra do livro Eu, eu mesmo e eu de novo, a direta continuação do Meu ano sem ela.






1. Longa jornada Novo Rio – Tiete

“Give me the child.
Through dangers untold and hardships unnumbered,
I have fought my way here
To the castle beyond the goblin city
To take back the child that you have stolen,
For my will is as strong as yours,
And my kingdom is great.
Damn.
I can never remember that line.”

Labyrinth, 1986

            Longa jornada para São Paulo. Seis horas dentro de um ônibus, rodoviária Novo Rio, para a Tiete, minha mente no centro de um tornado. “Eu te amo, eu te amo, eu te amo.” Na cadeira ao lado, um buque de flores improvisado numa corrida pela manhã no camelódromo da Uruguaiana. De plástico, pois as vivas nunca vivem, e essas tem de viver. Vermelhas, não pretas, ela já tem um buque de flores pretas sobre a sua tv, foi o primeiro que lhe dei, ela gosta. Mas hoje quero ser clichê, o máximo de clichê do mundo, pois estou sendo tragado de novo para ele, para aquilo que os outros fazem e eu pensei não fazer mais parte. Ontem estava mudo, um muro estático de concreto a beira de um abismo, com as vigas do esqueleto a ranger, hoje tenho tudo a dizer, tenho tudo a consertar, tudo a conectar. “Eu posso fazer isso certo. Eu entendo o significado daquele abraço forte que você me deu do nada. Eu entendo que foi minha culpa. Minha culpa e eu posso consertar tudo. É isso que eu sou bom de fazer, entender e consertar. Entender e consertar.” Longa, longa jornada para São Paulo.
            - Essa é uma história que nunca venderia um livro. - disse uma vez para ela. - Uma história para ser interessante precisa de tragédia, precisa de confusão, por isso nunca vou escrever sobre a gente, nós não temos um pingo disso. - E tudo se despedaçou.